DICA DE LEITURA 14
- Fernando Rogério Jardim
- 20 de jan. de 2016
- 4 min de leitura

Olá, babalorixás de semáforo! Voltei com mais uma ìndicação de leituras que vocês não farão (Sou uma pessoa realista). Escutem essa. Para um empreendedor atormentado com mil tarefas que, ao menos no início, ele terá de cumprir sòzinho, não deixa de ser calmante & libertador saber que não apenas é possível, mas é altamente aconselhável deixar as coisas bem simples desde o começo do negócio. Quando oriento meus alunos em seus tèdiosos trabalhos de graduação, sempre bato na mesma tecla: delimite seu tema! diminua seu escopo! Porque quanto mais restrita for sua amostra, menos parâmetros e incógnitas você precisará equacionar. E isso deixará tudo mais simples. Aquele desânimo plúmbeo que acomete todo orientado de monografia vem, em grande parte, da angústia de não saber por onde começar a pesquisa, devido ao tamanho ameaçador e indefinido do tema que ele escolheu estudar.
Todo esse meu lero-lero é para introduzi-los e recomendar-lhes a leitura do livro O empreendedor viável: uma mentoria para empresas na era da cultura startup, escrito por André Teles & Carlos Matos. Redigido num estilo prático, direto e bastante agradável, o livro só peca por um senão: a quantidade inacreditável e desnecessária de jargões em Inglês usada pelos autores. Cito apenas alguns exemplos repetitivos: o uso de lean no lugar de 'enxuta', valuation e pricing no lugar de 'precificação' (da empresa ou do produto), features no lugar de 'funcionalidades' ou 'características', target no lugar de 'alvo' ou 'meta', players no lugar de 'atores-chave' e por aí vai. Recomendo ao leitor dar uma olhadela nas páginas 30, 65 e 85 do livro. A repetição alucinante desses jargões bobos em todo o texto soa pernóstica e arrogante, exibicionista e desnecessária. Seria algo cômico, se não fosse apenas ridículo. Isso polui o texto.
A repetição é irritante porque não se trata ali de anglicismos consagrados, como feedback, marketing e know-how; nem de termos técnicos de tradução impossível, como venture capital, branding, seedstage, benchmark e framework. Não. Os autores parecem ter usado esse jargão tolo mais-ou-menos como aluninhos pedantes que falam difícil para impressionar o professor. Os autores tentaram emendar o problema colocando, no final do livro (págs. 154-158), um glossário com traduções desses termos. Mas esse glossário não contemplou nem um terço do trololó técnico utilizado no livro. Este é o único problema gritante do texo: metade dele precisaria ser traduzido. No mais, os escritores acertaram bem o tom típico da cultura startup: direto, prático, descontraído e bem-humorado. A seqüência e a estrutura dos capítulos são duvidosas (desòrganizadas); mas a clareza didática dos autores compensa o problema.
Diga-se, aliás, que Carlos Matos é o jornalista responsável pelo (na minha opinião) mehor blog brasileiro sobre startups. Seu texto é sincero, sem papas na língua, cheio de informações subterrâneas e dotado duma rabugice que o torna bastante engraçado. Falo do blog Startupeando (cliquem). Mas... afinal, ¿do que trata esse livro? Bàsicamente, O mínimo empreendedor viável percorre três tópicos centrais: o problema de se encontrar mentores para as startups (Capítulo 1); o conceito de mínimo produto ou serviço viável (Capítulos 1, 2, 4) e o perfil dos empreendedores & microempresários e a cultura do mundo srartup (Capítulos 1, 3). O relativo mal-encaixe dos temas do livro é típico das obras em coautoria, onde os autores vão puxando o assunto para o viés das próprias formações e interesses, tornando artificial, depois, a composição dum livro homogêneo. Por causa disso, esses temas fazem vaivéns.
Por sorte, todos os assuntos tratados são extremamente interessantes e os autores demonstram bastante segurança e experiência ao tratá-los. Quanto à questão da mentoria, muitos empresários de primeira-viagem encontram dificuldades para encontrar as informações necessárias à abertura da sua empresa. Isso se deve ao caráter atípico dos conhecimentos empreendedores: estão espalhados e incorporados nas experiências das pessoas; são tácitos e não se encontram em livros ou artigos. Daí a necessidade de conselheiros, consultores e mentores. Quanto à questão do mínimo produto ou serviço viável, Carlos Matos e André Telles, filiados ao modelo da startup enxuta de Eric Ries, explicam de maneira bastante didática a passagem dum conceito de negócio para um modelo de negócio, com os nove elementos principais que preenchem o model canvas (uma ferramenta que mostrarei futuramente).
Este é o cerne da obra. Infelizmente, como a estrutura do livro é bagunçada, os autores espalharam esse tema por três capítulos diferentes (1, 2, 4), o que corta a linha de raciocínio. Teles e Matos concluem -- e nisso têm toda a razão -- que os complexos e "famigerados" planos-de-negócio devem ser evitados, sendo substituídos por ferramentas mais práticas e simples, como o model canvas, que dimplificam o planejamento. Por fim, eles tratam dos mitos & perfis dos empreendedores (viáveis e inviáveis). Essa parte final do livro é pontilhada de entrevistas e casos que ilustram bem o que constitui a cultura da inovação. Embora pequeno e ágil como uma startup, esse livro tem uma boa densidade de informações práticas do tipo pegue-e-faça. Infelizmente, devido à formação dos autores, a ênfase é dada (subliminarmente) às startups do mundo digital. Mas isso não invalida sua leitura, que é altamente recomendável.
Até-mais-ver!
TELLES, A. & MATOS, C. "O empreendedor viável". Rio de Janeiro: Leya, 2013. 158 páginas. R$ 24,90.
DEPOIMENTOS:
"Eu ainda não li esse livro. Estou esperando que o traduzam para o Português — mais-ou-menos como os livros do José Saramago, que foram escritos num estranho idioma."
Valentina Albuquerque Figueiroa, solialite, empresária e perfumista.
"Nenhum empreendedor é viável, oras! Essa é a natureza do empreendedorismo. Se você procura viàbilidade, meu caro, vá vender algudão-doce no coreto da praça-matriz!"
Professor Severo Saraiva, golpista, atirador profissional e caçador de gente.
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