CAPÍTULO 10: NÃO PROCURE BONS GURUS; PROCURE SEU BOM-SENSO!
- Fernando Rogério Jardim
- 12 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Há bons conselheiros, maus conselheiros... e consultores.

Entenda uma coisa, ó criança do papai: você não deve seguir os conselhos dum guru ou metafísico motivacional só porque ele tem mestrado & doutorado pela University of Mother Fucker in the Fields. Você não deve sair por aí comprando os calhamaços do sujeitinho e fazendo seus cursos online só porque ele tem anos & anos de experiência quebrando empresas e arruinando investidores. Você não deve endeusá-lo como um aiatolá fanático só porque ele possui títulos, prêmios, medalhas, prebendas, beija-mãos e nomeações dadas por gente tão lesada quanto ele. Nada disso! Você deve ouvir, antes-de-mais-nada, os conselhos dum consultor que trabalha dentro de você: aquela voz interna e tão sua; aquele bom-senso amigo que lhe diz assim: Isso é uma cilada, Bino! Um guru só vai lhe oferecer aquilo que você já tem aí dentro: seu bom-senso.
É claro: seu bom-senso pode estar ensebado por aquela ingènuidade presunçosa que é típica da juventude. Ele também pode estar em estado bruto, não-devidamente desbastado pela experiência e por conhecimentos complementares que um guru poderá (isto sim) lhe oferecer. Pode ser que você precise ainda dum "olhar fora da caixa" capaz de enxergar em seu modelo-de-negócio, produto ou serviço coisas que você não viu ou não quis ver. (¿Lembra-se dos ciúmes de autoria?). Até-mesmo sua formação acadêmica pode ter "capado" seu bom-senso, com aquelas ferramentinhas comportadinhas de gestão. Por último e não-menos importante, seu bom-senso pode ter sido vampirizado e contaminado por conselhos recebidos daqueles mesmos "gurus gèniais" aos quais você dedicou seu cérebro em sacrifício, durante um ritual pagão chamado mentoria.
Vou lhe contar um segredo: um bom guru recusa este nome de guru, sabia? Um bom conselheiro de empreendedores é aquele que lhe oferecerá poucas respostas prontas, mas antecipará muitas das perguntinhas embaraçosas que seus futuros clientes, parceiros ou investidores certamente lhe farão. Conselheiros honestos são sempre práticos e diretos. Eles dizem: "pegue isto e faça aquilo, pois eu já fiz assim e deu certo!" Eles sempre levarão em consideração a possibilidade de estarem errados — e inclusive anteciparão as vàriáveis e incógnitas que poderão tornar seus próprios conselhos inúteis ou suicidas. Boas dicas são sempre calcadas na experiência do próprio emissor — sobretudo nas malogradas —; ou no bom-senso que o emissor compartilha com o receptor dessas dicas. Por fim, bons conselheiros são generosos, desprendidos e não escondem segredinhos dentro da cartola.
Uma coisa que eu aprendi acompanhando empreendedores é que eles são pessoas que atribuem seus sucessos à própria sensatez. Há sim, na personalidade dos empreendedores, uma camada geológica profunda e fervente, toda feita de criatividade, de perseverança e de entusiasmo. Mas isso-tudo jaz devidamente soterrado sob sedimentos mais frios de prudência e pé-no-chão, pragmatismo e racionalismo, autocontrole e humildade intelectual. ¿E querem saber duma coisa? Eles desprezam a literatura de autoajuda criada para fazer-dinheiro às custas do modismo empreendedor. Nunca vou me esquecer dum diretor de startup que entrevistei no doutorado, com idade para ser meu aluno, e que me disse in-off o seguinte: "Esse tipo de livro (de autoajuda empreendedora) eu coloco na minha estante entre as fábulas do Esopo e as piadas do Danilo Gentili."
Antes-de-mais-nada, meu filho, você não precisa pagar por conhecimentos que gente como eu oferecer-lhe-á quase de-graça na Internet ou na biblioteca — aquele lugar onde os povos antigos punham tabletes feitos de papel e escritos com tinta, contendo seus saberes arcanos. As primeiras etapas do seu negócio são as mais frágeis financeiramente e as mas carentes intelectualmente. Quero dizer o seguinte: você terá pouco dinheiro e precisará de muitas idéias viáveis. E o problema é que os ditos gurus poderão lhe oferecer idéias erradas com a promessa de que sejam viáveis — e tudo isso às custas daquele dinheiro que você não tem. E eu não me refiro apenas às consultorias empresariais mirabolantes com precinhos proibitivos, mas também a livros e cursos online que podem não ser o que você, empreendedor universitário, precisa neste momento inicial do negócio.
Compreenda: eu não pretendo declarar aqui uma jihad contra os mentores e coaches: eu-mesmo quero escrever meus livros, vender meus cursos, oferecer minhas palestras, dominar o mundo e fazer dos humanos meus escravos. (Ops!) O que eu venho lhe propor é que você faça para si-mesmo as seguintes perguntas: ¿Que conhecimentos & habilidades me faltam como empreendedor nesta área específica? ¿Como eu poderia adquirir sòzinho esses conhecimentos & habilidades, sem ter de pagar por eles? ¿Onde? ¿Com quem? ¿Como? Mas não podendo consegui-los de-graça, ¿qual seria o perfil das pessoas que eu deveria procurar para me aconselhar? ¿Que serviços eu deveria receber dessas pessoas e a que preço? ¿Como garantir que os serviços que eu receberei delas sejam os mesmos pelos quais eu estarei pagando? ¿Quando e como essas pessoas deverão entrar em minha empresa?
Resumindo: caso você precise mesmo dum mentor, coaching ou ciganas do mesmo gênero, não procure pessoas zabumbadas ou famosinhas: elas não terão tempo para ouvi-lo! Prefira pessoas criativas, acessíveis e excêntricas, vindas de fora do seu ramo e com saberes diversos, mas que compartilhem dos mesmos valores morais e propósitos de autonomia, mèritocracia e realização que você. Perceba se a pessoa tem didática e paciência para lhe ensinar os macetes. Há pessoas que sabem muito, mas só para elas. A didática é a capacidade de simplificar o que é complicado, por meio de exemplos, metáforas, diagramas, ilustrações, parábolas, experimentos, teatrinhos-de-fantoches e tapas na sua cara. Prefira pessoas que já tenham fracassado, quebrado empresas e superado perrengues. Sim: foi isto o que eu disse: procure os fracassados, mas não os ressentidos.
O trágico é que a crise econômica e político-moral que este país atravessará pelos próximos dez ou vinte anos (escrevam!) retirará muita gente boa do mercado-de-trabalho formal, empurrando-as em direção aos perigosos arrecifes do empreendedorismo. E muitos abrirão seus próprios negócios iludidos e sem nenhuma experiência anterior. Eis a receita para o caos! Sabendo disto, uma série de ditos gurus de opereta & fancaria já sentiram o cheirinho da carne-fresca no ar; e vislumbram a possibilidade de ganhar dinheiro vendendo elixires de riqueza em frasquinhos de esperança. Mas agora, leitor, você deve estar querendo me perguntar: "Fernando, a cautela que você aconselha que tenhamos em relação aos conselhos dos gurus ¿também se aplica aos seus conselhos?" Resposta: certamente! Mas antes de decidir se continuará lendo ou não meu blog, consulte seu bom-senso.
Até-mais-ver!
¿QUEM É JOHN GALT?
Comments