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CAPÍTULO 12: ABRAM ALAS: O BLOCO DO SANATÓRIO-GERAL VAI PASSAR!

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 26 de out. de 2015
  • 6 min de leitura

A normalidade não é saudável para os (pequenos) negócios.


Olá, filhotes da Dilmãe! ¿Como têm passado sem o ferro-de-passar? Vou continuar o tema do capítulo anterior. Lembrem-se: eu estou tentando traçar um perfil da personalidade empreendedora, com base naquilo que concluí acompanhando e entrevistando diretores de startups nesses últimos cinco anos de meu-deus. Já havíamos falado do fundamentalismo mèritocrático e da Síndrome das Havaianas. Agora você sabe que o ambiente jurídico (cito-o aqui apenas como contra-exemplo) — com seus terninhos mal-cortados cheirando a lavanda, seus cabelinhos de mimosa-lambeu, seus títulos altissonantes e grandiloqüentes (quase-todos, baseados em nomeações e indicações) — está nos antípodas da personalidade empreendedora. Aqui, cada um vale pelo que é capaz de fazer, pouco importa se você é um negro judeu, uma lésbica pobre, um travesti canhoto, um nordestino homossexual, um ornitorrinco, um bumerangue, etc. E a informalidade não é apenas a expressão orgulhosa dum estilo; ela tem a finalidade econômica de disponibilizar externalidades. Traduzindo: ela gera cooperação ao redor de recursos valiosos. Então, adiante!


3- Síndrome de Ligeirinho (ànsiedade para galgar postos ràpidamente). Uma vez, enquanto eu aplicava uma atividade aos alunos, ouvi um dizer ao outro: "O cara está há cinco anos como estagiário... na mesma empresa. Quê! Daqui a cinco anos, eu quero é ter meu próprio hèlicóptero." É claro que a frase acima foi dita com um leve tom de ironia (inclusive de auto-ironia); mas ela revela uma postura comumente encontrada na nova geração: a intolerância com planos-de-carreira muito lentos, escalonados, complicados e unidimensionais. Eis uma ànsiedade de ascensão. Certamente, essa postura também tem a-ver com as transformações nem tão recentes ocorridas no próprio mercado-de-trabalho. Essa molecada, que está hoje em torno dos vinte anos, é a segunda geração (a minha foi a primeira) que percebeu que não poderia contar nem com uma carreira trilhada numa única empresa, nem com a prèvidência miserável do governo. Mas não é só isso: há um mal-estar de fundo psíquico também, que se expressa em frases ácidas, dando-a-entender que os empregados mais velhos das empresas são obsoletos, são obstáculos à ascensão dos mais jovens.


Em algumas firmas, o fluxo ascendente do magma jovem cria pressões que podem explodir em conflitos com os mais velhos. Mas voltemos à questão da carreira. É disseminada a percepção, entre os empreendedores universitários, de que escalonar os cargos & salários apenas pelo tempo-de-casa é uma maneira sórdida d' as empresas usarem o tempo a seu favor, adiando para as calendas qualquer promoção cara para elas. Este tipo de critério, quando levado em consideração isoladamente, tende a vencer os mais jovens pelo cansaço, prèmiando os funcionários mais antigos não pela qualidade do trabalho, não pela produtividade, não pela competência, mas pela resistência e fidelidade... ou pela inércia, que revela uma falta de opção. O empreendedorismo, portanto, abre-se aqui como uma oportunidade de se fazer algo autoral, com marca própria, eliminando as instâncias decisórias, a burocracia, o adiamento, a necessidade de autorizações, os caprichos & faniquitos dos "caras da caneta". A Síndrome de Ligeirinho, porém, pode gerar uma carga intolerável de frustração no empreendedor, quando ele percebe que as coisas, aqui fora, também não são rápidas — embora por outros motivos.


4- Complexo de Mozart (hostilidade a hierarquias e protocolos). Quem tem personalidade empreendedora, sofre. E sofre porque sabe a competência e a inteligência que tem. E sofre porque é obrigado, apesar disso, a obedecer gente tosca e burra, polìtiqueira e ignorante, presunçosa e incompetente. Quem conhece um pouco da biografia do Mozart sabe como seu pai, Leopold, um músico medíocre, obedecia com servilidade aviltante os protocolos & hierarquias absolutistas, comportando-se em conformidade com um súdito do seu nível social. Entretanto, Wolfgang, o filho gênio, sabedor do seu próprio talento, considerava-se dispensado de se portar com a mesma sabujice do pai. Pois saibam que uma grande fonte de insatisfação experimentada pelos empreendedores universitários, em suas primeiras experiências profissionais, é o desnível que eles sentem entre o talento que imaginam ter (e que às vezes têm mesmo) e o tratamento que lhes é dispensado pelo chefe ou pelos demais colegas. Falando em linguagem sociológica, é o gap sentido entre a posição (atual) e a disposição (futura) o que arrasta muita gente do emprego formal para as startups.


5- Síndrome de Leônidas (prèdisposição ao autossacrifício). Um dos mantras do Start-Aspas é que você, meu filho, terá de lidar com uma infinidade alucinante de atividades nos primeiros anos da sua empresa. Portanto, quanto mais rápido você padronizar o operacional, rotinizar as cobranças e a burocracia, terceirizar as atividades-meio, delegar funções chatas e responsabilizar-se apenas pela parte estratégica da empreitada, melhor para você! Ninguém aqui quer vê-lo doido, gritando sandices e plantando-bananeira pelado no Viaduto Santa Ifigênia. Mas... O início vai ser barra-pesada! Então, o titio-aqui vai lhe fazer algumas perguntinhas marotas: ¿Você está disposto a viver sem a segurança do salário no quinto dia-útil do mês? ¿Você está disposto a não ter mais expediente delimitado, finais-de-semana e noites de sono & sexo? ¿Você está disposto a abrir-mão das férias, do décimo-terceiro salário, do fundo-de-garantia, do salário-mimimi e daqueles os outros presentes que o Estado-Babá (paternalista pra caramba) reserva aos menininhos comportados? ¿Você está disposto a oferecer seu pequeno Isaac no altar da falência? ¿No duro / no duro? Então, junte-se aos 300!


6- Síndrome do ornitorrinco (tolerância à ambigüidade, à incerteza e à diversidade). O empreendedorismo — eu já disse isto aqui — é o mundo das incógnitas e das infinitas variáveis. Traduzindo: é o reino do risco! Entretanto, justamente por isto, os ambientes de inovação são lugares em que as coisas estão "no ar", prontas para serem captadas por um cérebro afeito à livre associação de maluquices. Tenho uma aluna de engenharia cuja família é quase-toda composta de advogados. Não: ela não mora no serpentário do Instituto Butantã! Numa das aulas, eu havia dito à turma que as melhores inovações surgem dum processo que eu chamo de polinização cruzada: ferramentas, técnicas e métodos duma área são levados para solucionar problemas duma área totalmente diferente, e vice-versa. Semanas depois, essa aluna me veio com a idéia de criar um software para gestão de pequenos escritórios de advocacia, usando ferramentas de modelagem de processos, oriundas da engenharia de produção. A personalidade empreendedora sempre está atenta a esses cruzamentos esquisitos, pois é daí que surgem as melhores idéias de produto e serviço.


Mas não é só isso. Richard Florida, no clássico estudo A ascensão da classe criativa, notou a fortíssima correlação entre uma vida noturna badalada, a presença de comunidades de homossexuais e de imigrantes, a grande oferta de museus, teatros e espaços culturais, dum lado, e o florescimento de negócios, inovações e startups de tecnologia, do outro. Isto se explica, segundo Richard Florida, por que ambientes com diversidade e vida cultural pujante são também aqueles onde as novas idéias são produzidas e circuladas, combinando-se em novos arranjos criativos, dando início assim a empreitadas promissoras. Pude notar ao-vivo que ambientes apolíneos, com rotinas muito regradas e previstas, hierarquia engessada, constrangimentos procedimentais e muita cagação-de-regrinhas causam incômodo aos empreendedores universitários. A síndrome do ornitorrinco também é responsável por outros dois traços bem destacados nesses profissionais: 1) a decisão de assumir riscos (embora riscos càlculados) e 2) uma certa excentricidade (igualmente càlculada) que é, em parte, caráter pessoal e, em parte, marketing corporativo. É o que eu chamo de Mal de Dalí.


7- Mal de Alice (curiosidade insaciável). Quando eu era criança, eu adorava desmontar coisas e depois (tentar) remontá-las. Eu tinha uma queda especial por despertadores. Durante essas minhas autópsias mecânicas, duas coisas curiosas sempre ocorriam: 1) depois da remontagem, sempre sobravam algumas peças (que eram petistamente escamoteadas) e 2) o aparelho remontado nunca-mais voltava a funcionar. Mas essa curiosidade pelas coisas — sua composição, seu funcionamento — não é um tempero isolado da personalidade empreendedora. Junto dela, vem o interesse pelas pessoas. Eu já disse aqui que há nisto um componente fortemente ético-moral. O empreendedor é o cara que busca o tempo inteiro sintonizar seus sonhos com os desejos dos outros, criando, com isto, um negócio rentável. A curiosidade insaciável, portanto, é um componente importantíssimo dessa ética. Ela faz com que a personalidade empreendedora seja sempre um periscópio de oportunidades e necessidades não-satisfeitas, um radar de idéias, uma esponjinha de experiências. É por isso que eu lhe pergunto, parceiro: ¿você topa ir comigo ver até onde vai dar a toca do coelho?


Até-mais-ver!


¿QUEM É JOHN GALT?

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