CAPÍTULO 14: TODO EMPREENDEDOR TEM UM IRMÃO-GÊMEO DE HUMANAS
- Fernando Rogério Jardim
- 9 de nov. de 2015
- 4 min de leitura
"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal..."

Ah, leitor! Ah, leitor! Nos capítulos anteriores, você me acompanhou elencando as quatorze características fundamentais que encontramos na personalidade empreendedora. ¿Quantas delas você possui? ¿Todas, muitas, poucas? Se eu tivesse de sintetizar em poucas palavras o que é empreender, eu resumiria o bagulho da seguinte maneira: empreender é a tentativa de exteriorizar seus valores internos por meio dum modelo-de-negócio inovador e escalável, buscando, com isto, a autorrealização da personalidade e a produção de sinergias positivas com os valores internos das outras pessoas, trocando com elas as riquezas por meio de relações de mercado voluntárias e recebendo, por isto, dinheiro como medida do próprio sucesso.
Complicado, né? Muita gente também acha isso meio complexo. Eu reconheço que a chantagem, o vìtimismo e a extorsão política através da lenga-lenga da "dívida histórica" são abordagens... digamos... mais práticas e diretas de se tungar a grana duma elite culpada & covarde. Bastaria você encontrar um antepassado oprimidinho e choramingar por algo que você — coisa linda! — imagina que merece. Daí é preciso só montar um "coletivo" de "lutas sociais" e sugar uma grana gostosa do governo. É sucesso garantido: esforço mínimo pelo barulho máximo. ¿Não é bizarro que você, ainda assim, queira montar uma startup, mesmo sabendo dos obstáculos associados e havendo tantos caminhos mais fáceis à sua disposição?
Eu admiro você, caro leitor! É sério! Você passou quatro-cinco anos numa faculdade particular — bem-paga com aquele estágio mal-pago em período integral. Ônibus e trólebus, metrô e balsa, bicicleta e patinete; sem contar aquela lotação fuleira dirigida por um motorista clandestino virado no tinhoso. ¿Quantas vezes você foi assaltado? Você, faminto, enganava o estômago com milho-verde ou pipoca. Mais alguns meses de aula, e você começaria a cacarejar, graças a essa dieta pobre e galinácea. Exausto, você capotava de sono nas aulas. A mente sabia que precisava se agüentar, mas o corpo dizia: "fui!" Daí veio o alívio: o diploma. Na cerimônia de formatura, foi-lhe descortinado um futuro de sucesso pela frente. Ahan!
Enquanto isso, a quilômetros dali, numa universidade pública, um sujeito que poderia ser seu irmão-gêmeo separado no berçário, arrastava o décimo ano dum curso de ciências sociais. Com o exemplar do Manifesto Comunista no porta-luvas do carro do papai e o papel-de-seda furtivamente escondidinho entre os cartões-de-crédito internacionais, seu irmão-gêmeo de humanas passava os dias em reitorias invadidas, escrevendo moções-de-repúdio, indo a passeatas contra algo "muito sério" e travando discussões profundas sobre a opressão patriarcal e a ascensão da "extrema-direita" sueca. Até hoje, seu irmão-gêmeo de humanas tem poucos problemas pessoais; e é por isso que ele pode inventar alguns para o mundo.
Mas não ria dele, leitor! Ele tem mais a-ver com você do que você gostaria de pesadelar. Ele, assim como você, também deseja mudar o mundo. (É claro que os planos dele para isso envolvem um banho-de-sangue no chuveirinho da revolução, mordaça na imprensa e muito poder estatal). Mas tudo bem! Ele também acabou de se formar. A faculdade dele também o mimou com a perspectiva dum grande futuro em letreiro garrafal. Mas a parte mais bacana dessa história não lhes contaram: não existem as tais "perspectivas promissoras", não há futuro viável, não há emprego nenhum esperando por ninguém! Vocês agora se encontram alistados num exército-de-reserva de milhares de graduados, jogados todo ano no mercado.
Vocês caíram no conto do diploma de bacharel; e compõem hoje uma massa de jovens profissionalmente frustradíssimos, prontos para se jogarem raivosos contra o sistema ruinzão. Porém, a forma como vocês reagirão a esse anticlímax pós-formatura dependerá do conjunto de valores & crenças que lhes foram introjetados na faculdade. É de se esperar que seu irmão-gêmeo de humanas tenha poucas coisas simpáticas a dizer sobre o capitalismo. Aliás, o desemprego só veio a confirmar suas suspeitas: o bicho-grilo achará que o "sistema" o pune e sabota pois teme seu potencial revolucionário. Ahan! (É prudente não contrariar). Resta saber então o destino desse nosso anti-herói. ¿Quem absorverá sua inutilidade?
A população de bacharéis de humanas, não-absorvida pelo mercado-de-trabalho, será incorporada pela carreira docente ou pelo serviço público. Mas ainda ó pouco. A parcela restante, gradualmente radicalizada, comporá aquela galerinha muito doida que apronta de montão e se amarra num agito, curtindo um quebra-quebra quase perfeito. Apresento-lhe, leitor, a militância esquerdista! O dinheiro que o Estado extrairá via impostos da parcela produtiva da população, fará florescer um arquipélago luxuriante de "coletivos", entidades, sìndicatos, fundações e organizações neo-governamentais dirigidas por essa gente fofa. Afinal, nada como dinheiro público para anestesiar um esquerdista. ¿Entende onde eu quero chegar?
O militante esquerdista é a versão de humanas do empreendedor universitário. Os tais "coletivos" são suas incubadoras. Mas lá não se incubam empresas, e sim partidos cômicos de extrema-esquerda. Seus planos-de-negócio são seus manifestos presunçosos. Uma suposta revolução, sempre adiada, é a necessidade que eles pretendem satisfazer. Os clientes são eles-mesmos. A baixa-política do movimento estudantil é seu segmento-de-mercado. As chapas são as versões soviéticas das startups. A engenharia envolvida é a social. E consta que a última inovação tecnológica deles surgiu lá pelos idos de 1848. Este é seu avatar bicho-grilo.
¿Mas e você, leitor? ¿Você, ex-aluno de engenharia, de administração? ¿Quem pagará seu faz-me-rir? Acho que é neste momento que você se recorda daquele seu ex-professor que dirigia uma startup, e daquele outro que lhe falava dum negócio... ¿como era mesmo? empreendedorismo e microempresários, e daquele seu orientador que profetizava, com humor-negro, que você encontraria bastante trabalho aqui fora, mas nenhum emprego. Essas conversas finalmente começam a fazer sentido para você, né? Você enxerga agora o encaixe que existe entre seu propósito individual, suas características de personalidade, as condições deste país as alternativas que lhe foram deixadas pela carreira. ¿Então vamos em frente?
Até-mais-ver!
¿QUEM É JOHN GALT?
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