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CAPÍTULO 8: ENTENDA UMA COISA: CAPITALISTA É A SENHORA SUA MÃE!

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 28 de set. de 2015
  • 4 min de leitura

A ambigüidade do brasileiro às voltas com o capitalismo.


Admitamos: o brasileiro é um dos povos mais dinheiristas, aventureiros e predatórios em matéria criação de negócios. Todos-nós conhecemos algum amigo ou parente dotado daquela tão-brasileira capacidade de juntar ganância & burrice. Há uma série de especulações antropológicas que tentam explicar esse perfil. Dizem que a formação nacional, marcada pelo escravismo, pelo latifúndio e pela colonização tem algo a-ver com isso. Outros culpam a "herança ibérica" pela nossa mentalidade imprèvidente e custe-o-que-custar. Como dizem: um povo formado pela mistura de escravos trazidos a-ferros e à-força para a morte, índios cercados por uma natureza pródiga que lhes dava tudo e portugueses saqueadores, não poderia mesmo desenvolver excepcionais capacidades de planejamento. Alguns culpam a "herança católica" pela nossa ambivalência em matéria de dinheiro.


Eu sinceramente considero essas especulações antropológicas típicas dos livrinhos de doutrina do MEC. Meu ponto aqui é outro: não falarei das origens, mas das tensões internas da mentalidade do brasileiro em relação aos negócios. Pois apesar de sermos "predatórios e dinheiristas", por outro lado, encaramos o dinheiro com certas reservas místicas, com protocolos contra contaminação, com o medo ritual típico dos mortais que ousam desafiar as vingativas divindades da pindaíba e do perrengue. Nosso ganho vem acompanhado de medo e culpa. E aqueles que são bem-sucedidos sem medo nem culpa, despertam em nós a antipatia ou o recalque. "Beijo no ombro!" Às vezes, temos a impressão de que o brasileiro despreza o dinheiro em si, mas ama a simbologia, a mordomia e o cerimonial ligados a ele. Sobre o resto, fazemos pairar uma névoa de má-vontade defensiva ou desprezo altaneiro.


Ok: nossa mentalidade anticapitalista coaduna-se, justifica ou explica nossa atávica inépcia em fazer planos, em antever eventos, em rastrear desgracinhas & oportunidades. Sempre contamos com que tudo dê certo no final, que o Estado-Babá livre-nos & salve-nos de nós-mesmos, que a loteria ou a viùvez façam-nos tirar a sorte-grande e que o padrinho poderoso mexa seus pauzinhos. Essa mentalidade anticapitalista também explica o fato de acharmos as artes da negociação e da barganha verdadeiras agressões, rebaixamentos inadmissíveis! Claro: se partimos do princípio de que nosso parceiro deseja nos ferrar, a negociação soa-nos, então, como o escancaramento pornográfico dum estupro moral. ¿Quem nunca se sentiu meio podre (violento ou humilhado) barganhando ou negociando?


Também sempre me saltaram aos olhos os fundamentos maquiavélicos da moral brasileira. Isto explica nossa necessidade de avalistas, fiadores, cartòrários, advogados, testemunhas, auditores e toda a sorte de garantias precárias contra o engodo alheio; toda a série de traquitanas provisórias a substituir a boa & velha confiança na palavra do próximo. "Se todos são maus, eu devo ser pior" Mas ninguém percebe cómo isso-tudo prèjudica o fluxo da riqueza, dificulta as parcerias e dá fôlego ao crescimento pantagruélico do Estado-Baba — aquela criatura bondosa que nos protege da nossa própria maldade. "Amém!" Não sei se estou sendo claro ao leitor. Então, vou direto ao ponto: o brasileiro ama empreender, mas tem uma relação ambígua com os empreendedores. ¿Por que será? Vejamos.


Nem vou tratar aqui do sonho acalentado pela maioria dos brasileiros: ser aprovado num concurso-público para nunca-mais precisar trabalhar de-verdade. (Atenção: sarcasmo!) Tratarei disso noutra ocasião. O caso é que nossos valentes prestadores-de-concurso nunca pararam pra pensar no seguinte: se todos resolverem ser barnabés e trabalhar para o governo, ¿quem pagará essa conta? — porque não me consta que o Estado possua outra riqueza senão aquela que tira de nós, ou que o governo produza outra coisa senão leis esdrúxulas, burocracia e roubalheira. Então, repito a questão: ¿por que o brasileiro, por um lado, ama empreender, sempre aparece nas primeiras posições entre os povos que mais pròativos e, por outro lado, hostiliza e desconfia dos verdadeiros empreendedores?


Inúmeros autores atribuem à criatividade ou à improvisação nossa propensão a empreender. Belo elogio! Eu tenho, porém, outra hipótese possível: o brasileiro assume riscos num novo negócio porque, muitas vezes, nem tem idéia dos riscos que realmente está assumindo. Imagine a seguinte situação: eu boto uma venda em seus olhos e o coloco para andar numa corda-bamba, suspensa entre dois edifícios, dizendo-lhe, contudo, que você está rente ao chão. Você andará sorrindo na corda-bamba, pois não enxerga o perigo. Em seguida, eu destapo seus olhos e o levo para a sacada segura do quinto andar; e então lhe peço para olhar para baixo. Você tomará mais cuidado, porque, apesar da proteção do parapeito, você agora vê o perigo. Mas o empreendedor brasileiro é o cara lá — com a venda nos olhos.


A disposição do brasileiro a empreender, como creio, também se explica por ele achar que o Estado-Babá sempre irá salvá-lo da falência nos segundos finais antes do baque. Caso alguma coisa dê muito errado, ele tem com quem contar. ¿É mesmo? Mediante sua rede generosa & ònerosa de previdência e assistência, o governo brasileiro faz com que todos os riscos ligados ao ato de empreender pareçam ser de-mentirinha. Essa sensação de segurança cria uma cultura de roleta-russa, com apostas altas, insustentáveis e irresponsáveis em negócios cujo passo é maior que perna do dono. Aqui, o risco nunca é visto como sério. Ao contrário dos seus congêneres americanos, os empresários brasileiros raramente comprometem seus imóveis, a formação acadêmica dos filhos ou um bem maior num negócio.


Pois bem. ¿Mas e quanto à segunda metade da questão: por que encaramos com desconfiança os empreendedores, vendo-os como pessoas càlculistas, ambiciosas, interesseiras, frias e más? Eis uma resposta possível: a maioria dos brasileiros não consegue diferenciar o empreendedor do administrador, nem este do burocrata de repartição. Também não diferencia o empreendedor do pequeno empresário comum, nem este do médio e do grande. Confunde igualmente o capitalista tradicional com o metacapitalista: o bilionário que já transcendeu a concorrência e as leis do mercado porque vive preso às tetas da rainha. Enfim: na cabecinha do José Brasileiro Médio, todos esses caras são uma coisa só, vestem cartola, andam de bengala e acendem charutos com dólares — que-nem o tiozinho do Monopoly.


Até-mais-ver!


¿QUEM É JOHN GALT?

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