CAPÍTULO 9: MAIS UMA COISA: EMPREENDEDORA É A SENHORA SUA AVÓ!
- Fernando Rogério Jardim
- 5 de out. de 2015
- 3 min de leitura
Empreendedores não são capitalistas octogenários birrentos.

Ah, crianças... Polêmica! Polêmica! Na minha última postagem, eu lancei algumas hipóteses de provocação, questionando os lugares-comuns que são repetidos pela literatura empreendedora bacaninha. Também quis apontar para algumas tensões internas, ambigüidades e contradições que há na mentalidade do brasileiro no tocante aos negócios. Por causa dessa postagem, nossa redação foi afogada por uma inundação de telegramas; nossa caixa de e-mails travou; os telefones não pararam de tocar; oh! nosso prédio foi cercado por nerds enfurecidos, armados com suas càlculadoras HP. Calma! Titio aqui explica o que ele quis dizer.
Resumamos meu argumento. Em primeiro lugar, eu pus em dúvida a tão-zabumbada & festejada criatividade do brasileiro: o suposto senso de improviso e autonomia que o põe entre os povos mais empreendedores do universo & alhures, segundo o GEM. Contra isso, eu afirmei ser provável que nossa prètensa coragem para assumir riscos deva-se à bela rede de proteção contra o fracasso que o Estado-Babá teve o cuidado de instalar às nossas próprias custas — e que nos sabemos que estará lá para nos salvar caso dermos um passo maior que as pernas. Noutras palavras, o empreendedor brasileiro só cutuca o leão porque está protegido pela jaula.
Em segundo lugar, eu disse que o brasileiro tem uma postura ambígua com relação aos negócios e, sobretudo, ao ato de empreender. Afirmei que essa ambigüidade vem, por um lado, duma mentalidade maquiavélica, dinheirista e predatória que, provàvelmente, foi-nos instalada lá na "noite dos tempos" da formação nacional. É ela que nos estimula a empreender. Por outro lado, em nós, as idéias de ganho e lucro vêm quase sempre acompanhadas de medo e culpa, como se a geração de valor tivesse algo de baixo e imoral. Lindo mesmo é tornar-se um "oprimido com pedigree" e sair por aí parando o trânsito e botando pra quebrar!
Em terceiro lugar, já no final, eu levantei a hipótese de que a visão negativa que o brasileiro tem das atividades produtivas e aquisitivas deve-se à confusão feita por ele entre diferentes subespécies de empresários, o que o faz colocar no mesmo balaio os "heróis" e os "vilões" da história — as maracutaias do bilionário metacalitalista: o pagador-de-propinas incrustado nas altas esferas do poder; e a dura faina do inovador pioneiro: o empreendedor universitário que é o foco deste blog. Séculos de pregação católica contra a riqueza, décadas de doutrinação marxista contra o mercado e algumas pitadas de confusão midiática deram-nos esses frutos!
Lembrem-se, leitor, que na sexta e na sétima postagens eu estava prèparando o terreno para ajudá-lo a escolher seu modelo de negócio. Mas calma: eu preciso fazer alguns desvios ligeiros para prèveni-lo de confusões taxonômicas. Afinal de contas, até agora nós não definimos o que é um empreendedor, afinal. Não: eu posso lhe assegurar que empreendedorismo não é ócio nem sacerdócio, não é abstinência nem obediência; também não envolve voto de pobreza e caridade. Empreendedores buscam sim o dinheiro. Money! Money! Money! Money! Mas a maneira como o fazem diferencia-os radicalmente dos capitalistas de cartola & bengala.
Primeiro: devido aos elevados níveis de incerteza e de improviso que envolvem as startups, a cultura empreendedora é fortemente marcada pela informalidade e pelo cooperativismo. A livre troca de experiências, serviços, contatos e pequenos favores é o traço mais nítido do quotidiano duma incubadora de empresas, por exemplo. Segundo: com exceção dos rivais diretos que atuam no mesmo nicho de mercado, empreendedores torcem sinceramente para que outros empreendedores dêem certo, uma vez que os parceiros bem-sucedidos geram um arquipélago de externalidades valiosíssimas, além de novas idéias, contatos e experiências.
Terceiro: empreendedores encaram a falência com naturalidade, porque sabem que atuam em setores de risco. [Alguns criadores de startups que eu entrevistei no doutorado são exímios jogadores de pôquer; e eles costumam comparar suas estratégias empresariais com os lances desse jogo]. Quarto: os empreendedores defendem a mèritocracia com o mesmo fanàtismo aiatolá & jihadista com que defendem a informalidade. Aqui, meu filho, você pode pegar sua idade, seus títulos, suas nomeações e indicações, seu tempo-de-casa e... você sabe onde enfia! Este traço, na minha opinião, é o mais admirável e fantástico deste meio: a impessoal escala do mérito próprio.
Quinto: as coisas aqui acontecem muito depressa. Empreendedores — sobretudo os universitários — são pessoas ànsiosas e dinâmicas. Numa startup o fracasso e o sucesso ocorrem em questão de meses. Perceba, leitor, a quantos anos-luz estamos distantes das corporações engessadas e hierárquicas, das famigeradas empresas familiares, das repartições com esqueletos nos armários, bolor nas mentes e correntes arrastando! ¿Você entende agora por que eu acho isso-tudo fascinante e inspirador, embora não creia nos mitos que cercam os empreendedores e microempresários? Você entende, enfim, como é injusto comparar essa gente com banqueiros-governistas e empreiteiros-presìdiários?
Até-mais-ver!
¿QUEM É JOHN GALT?
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