CAIXINHA DE FERRAMENTAS 11
- Fernando Rogério Jardim
- 14 de jan. de 2016
- 4 min de leitura
Olá, órfãos-vítimas da pedagogia freireana! ¿Como vai essa delinqüência intelectual de meu-deus, hein? E por falar em doenças do intelecto, um dos problemas mais recorrentes & aperreantes duma startup — sobretudo quando você é uma pessoa criativa ou quando você e seu sócio formam uma ligação iônica de conversas faìscantes — é o excesso de idéias aliado à falta de foco. Nesses casos, quando você e/ou seu sócio são pessoas inventivas, cada reunião vira uma sessão interminável de brainstorming, da qual ambos saem com uma sensação enfastiada de congestão cèrebral. Ora, ¿mas isso não é bom? Depende. ¿Quantas dessas idéias são mesmo viáveis? ¿Quantas delas poderão ser concretamente implementadas neste planeta e ainda neste século? ¿Quantas delas se encaixam no perfil da firma ou mesmo dos sócios? Estas são boas perguntas a serem feitas com vistas a filtrar e avaliar que pepitas há nesse aluvião criativo. Pois muito que ótimo! A ferramenta estratégica que eu mostrarei para vosmecês nesta semana servirá para gerir essas idéias, classificando-as segundo sua viàbilidade empreendedora.
Eu sei, caro leitor: é impossível mensusar e classificar idéias por meio de instrumentos quantitativos, como o que eu proporei a seguir. Aliás, um dos maiores dilemas-desafios da gestão da inovação é justamente quantificar conhecimentos que são inquantificáveis e atribuir preços a idéias que, por não serem finitas, não têm valor, mas, por gerarem impactos benéficos e lucrativos, são valiosas. Então, sossega essa pitomba! Mesmo ciente das limitações duma quantificação dos graus de criatividade e viabilidade duma idéia, ainda assim, é possível (e sobretudo necessário) ter uma estimativa de que idéias deverão ser aplicadas, reservadas ou descartadas dum negócio, para que este não perca o foco. Saiba que o excesso de idéias tem a vantagem de produzir um repertório acessível, um banco-de-dados disponível para a empresa iniciante — algo que poderá gerar valor a longo prazo ou resolver problemas futuros. Mas os perigos desse excesso são igualmente perturbadores, como veremos abaixo. Daí a necessidade duma estimativa. Repito: trata-se duma estimativa, e não duma quantificação.
Em primeiro lugar, sem parâmetros de comparação, não é nem possível separar as idéias boas das ruins. Corre-se, portanto, o risco de que idéias boas (contudo, obscuras) sejam ignoradas ou passem batido; e que idéias ruins (porém, claras ou na moda) acabem sendo adotadas, amarrando a empresa a trajetórias que só se revelarão becos sem-saída no futuro. Em segundo lugar, há o risco de que idéias sejam adotadas sòmente por serem legais, mas sem qualquer sintonia com o perfil dos sócios e da firma. Isso acaba criando uma dissonância destrutiva entre, dum lado, a nova idéia e, do outro lado, as visões e valores antigos, penosamente sedimentados, dos donos da firma. Já aprendemos com James Collins, duas semanas atrás, que uma das causas do declínio das grandes empresas é a busca insana por uma bala-de-prata, uma tecnologia salvadora, um projeto-messias. Nesses casos, a mudança contínua ou mesmo a falta de foco fará com que a empresa ignore aquilo que ela faz bem. Portanto, a falta dum parâmetro para a avaliação das novas idéias levará a empresa a assumir os riscos e custos dum desvio de função.
Então, ¿que critérios seriam esses? Antes-de-mais-nada, já dissemos aqui que você precisa ser muito sincero quanto ao seu propósito, quer dizer, quanto àquilo que você gosta de fazer e faz bem. É daí que você deve partir para avaliar se uma nova idéia é boa ou não; se as pessoas precisam dela e estariam dispostas a pagar quem a vendesse. Você também precisará considerar que seu negócio deve começar pequeno e simples; e só ir acrescentando complexidades conforme estas forem plenamente confirmadas por experiências anteriores com clientes reais (método da startup enxuta). Por fim, você deverá preferir aquelas idéias que, além de simples e básicas, permitam que você gere fluxo-de-caixa o mais depressa possível. Projetos que demandem gestação prolongada, investimentos nababescos e grandes barreiras de entrada deverão ser incubados ou descartados. Pensando nisso, eu elaborei a tabela a seguir, com seis parâmetros de avaliação: 1) impacto social, 2) fàcilidade de execução, 3) retorno estimado, 4) adequação à visão (da empresa ou das pessoas envolvidas), 5) inèditismo e 6) clareza conceitual.
Explicarei os critérios. 1) Quanto maior o impacto social, maior será o número de pessoas ajudadas por que essa idéia e, portanto, maior será seu retorno financeiro. 2) Considerando que no início você terá poucos recursos, deve-se prèferir projetos cuja execução seja mais a simples e rápida possível. 3) Tendo em vista o que você pesquisou a-respeito do mercado de empresas análogas, dos riscos e custos envovidos no processo e dos preços que poderá cobrar pelo negócio, prefira idéias com maior retorno estimado (algo entre 40% e 80%). 4) Aquela calça da vitrine pode ser muito bonita, mas não caber na sua bunda obesa. O mesmo acontece com as idéias: elas podem ser bacanas, mas não se encaixarem no seu propósito, valores e missão. 5) Quanto mais nova for uma idéia, mais tempo sua concorrência demorará para entendê-la e chupinhá-la. Isso lhe dará um belo prazo de exclusividade para cobrar preços de monopólio — até ser alcançado pelos imitadores e "engenheiros reversos". 6) Quanto mais claro for o conceito que anima a idéia, mais fácil será explicá-la para sócios, investidores e funcionários. Mais fácil também será treinar as pessoas que trabalharão com a parte operacional da produção ou do atendimento (franquia).
¿Mas como você pode usar essa tabela? É muito simples. Até uma vítima do método Paulo Freire será capaz de compreender essa ferramenta estratégica. Na primeira coluna, você deverá colocar, de maneira sucinta, as idéias que você teve. Atenção: devem ser idéias cuja viàbilidade financeira você queira estimar. Depois, para cada item, atribua uma nota de zero a cinco. Não se prèocupe com a precisão, meu caro: eu já lhe falei que isso é uma estimativa apròximada. Por fim, some todos os pontos de cada idéia e veja quanto deu no total. A idéia com a maior nota é aquela para a qual você deverá prestar mais atenção. Nada impede que você sofistique essa tabelinha atribuindo pesos diferentes (mùltiplos ou divisores) para cada parâmetro que você considerar o mais importante ao negócio específico. Nada impede também que você acrescente ou remova algumas colunas dessa tabela, conforme sua adequação ou não às idéias que você for avaliar. Para terminar, é preciso advertir que a avaliação resultante dessa tabela é meramente estimativa. Eu recomendo, depois, complementá-la com uma reflexão mais "humana e holística".
Até-mais-ver!
Ferramenta para avaliação de idéias viáveis (elaboração própria).
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