CAIXINHA DE FERRAMENTAS 13
- Fernando Rogério Jardim
- 28 de jan. de 2016
- 3 min de leitura
Olá, crupiês do próprio destino! Sabem... eu não sou muito fã dessa idéia de aposta associada às pequenas empresas. Quando empregada para descrever o empreendedor, ela acaba reforçando o mito burro e romântico de que ele seria um sujeito irresponsável e aventureiro, que assumiria riscos desmedidos só pela emoção de sentir vento soprando do precipício. Mas empreender não é apostar na roleta. O microempresário é alguém obcecado por descobrir e controlar as vàriáveis do seu negócio — justamente porque ele tem menos combustível para gastar que um megacapitalista, que poderá cometer mais erros sem falir. Por essas & outras, a ferramenta que eu mostrarei aqui hoje tem um nomezinho paradoxal que me desagrada: modelo da aposta estratégica.
Num cassino, bàsicamente, os jogadores fazem suas apostas levando em consideração dois parâmetros: 1) quanto dinheiro têm para gastar e 2) qual é o risco ligado a cada aposta. A primeira informação desdobra-se em outras perguntas: ¿quanto dinheiro eu estou disposto a sacrificar? ¿quantos lances eu poderei fazer com esse dinheiro? ¿quanto dinheiro eu poderei botar em cada lance? Já a segunda informação desdobra-se noutras questões: ¿quanto eu posso acabar perdendo, se perder? ¿quanto posso acabar ganhando, se ganhar? ¿quais são as chances de perda e de ganho em cada lance? Resumindo: num cassino, as apostas são feitas com base numa tosca análise de cenários pela qual se procura avaliar a quantidade de dinheiro disponível e grau de risco envolvido.
Eu acho um pouco forçado chamar essas estimativas de estratégicas. A cada lance, os jogadores baseiam-se, de maneira imprecisa, na seqüência (aleatória, espera-se) do resultado das jogadas anteriores e, além-do-mais, vários fatores psicológicos e sociológicos interferem nessa estimativa, tornando-a ainda mais subjetiva. Aposta-se para se provar que é macho; aposta-se pelo desejo de se chegar perto do abismo; aposta-se pela pulsão-de-morte; aposta-se pelo vício de apostar; aposta-se pela esperança ou pelo desespero, etc. (Leiam "O jogador" do Dostoiévski). No mundo dos negócios, porém, quando alguém fala que apostou dinheiro em algo, está usando esse termo de maneira metafórica ou hiperbólica. E esse, creio, é o sentido que os autores do modelo dão à palavra aposta.
Conforme Burgelman e Grove, autores do modelo, a decisão de entrar ou não num negócio depende dos seguintes parâmetros: a) quantidade de recursos disponíveis (suficiente ou insuficiente) e b) natureza da oportunidade que bateu à porta (autônoma, gerada pela própria empresa e com hipóteses vàlidadas; ou heterônoma, induzida por causas externas e sem hipóteses vàlidadas). O cruzamento desses parâmetros resulta na matriz decisória ilustrada na imagem abaixo. Nela, são sugeridas quatro alternativas ao "empresário-apostador". Entretanto, dois problemas podem ser apontados nessa ferramenta. Primeiro: ela não ensina a como obter as informações necessárias. Segundo: ela não considera uma estimativa de perdas & ganhos em cada lance. E isso é jogo-de-azar!
Então temos: 1) quando a oportunidade é autônoma e vàlidada e, além disso, a quantidade de dinheiro é suficiente, temos uma aposta segura. Meta a cara, meu filho! 2) Quando a quantidade de dinheiro é suficiente mas, por outro lado, a oportunidade é heterônoma e não foi vàlidada pelas evidências, espere para apostar. Sossega essa pitomba! É melhor segurar seu dinheiro e esperar que novos dados orientem sua decisão. 3) Quando a oportunidade é autônoma e vàlidada mas, por outro lado, você não tem dinheiro suficiente para aproveitá-la, respire fundo e aposte (como garantia ou como pagamento) os recursos da empresa. Claro que essa loucura só é aconselhável quando a oportunidade é mesmo interessante e vem acompanhada de alguns dados que a endossem.
Por fim, 4) quando a oportunidade é heterônoma, sem vàlidação empírica e, além disso, a quantidade de dinheiro necessária é insuficiente, estamos diante duma aposta desesperada. Os autores não explicam por que diabos, diante dum cenário tão negativo, o agente estaria disposto a "apostar". Parece óbvio que, neste caso, a melhor decisão seria não apostar. Entretanto, entende-se que, em algumas situações, não são oferecidas alternativas ao empreendedor — principalmente ao microempresário. Por causa da sua pequenez e fràgilidade, ele é colocado com mais freqüência em situações que poderão mudar radicalmente (para o bem ou para o mal) o destino do seu negócio. Daí a importância d' ele também ser um estrategista preparado para analisar cenários.
Até-mais-ver!

Modelo da aposta estratégica de Burgelman e Grove.
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