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CAIXINHA DE FERRAMENTAS 9

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 30 de dez. de 2015
  • 4 min de leitura

Olá, refùgiados do dilmismo! Escutem só essa: a-menos que vocês acreditem que um cosplay de empresário, megalomaníaco e irresponsável, mereça ser aleitado com dinheiro público vindo das tetas do Estado-Babá, como se fosse um cinqüentão birrento & manhoso, é natural (é inclusive desejável) que algumas empresas inviáveis morram. Na floresta densa, as árvores grandes e podres devem cair para dar claridade às gramíneas e arbustos pròmissores. Da mesma forma, uma òrganização que fracassa em gerar valor à sociedade, em alocar recursos escassos e preciosos com economia e eficiência, deve cair-fora e abrir-alas os entrantes mais saudáveis. Esta é a dura lex do mercado que tanto escàndaliza os mártires da autopiedade. Quem não tem competência, não se estabelece. Pegue então seu diploma de parasita e vá se pendurar nalguma sinecura municipal! E boa sorte!


(Eu estou calmo. Titio ama vocês.) Na semana passada, eu lhes mostrei aqui o modelo das seis fases de Greiner. Segundo esse teórico, em seu processo de crescimento, as òrganizações atravessam seis fases com seis diferentes princípios internos. Conforme uma lógica ao mesmo tempo entrópica e òrgânica, essas fases são coroadas por eventos críticos que nada-mais são que a exaustão dialética do princípio segundo o qual a empresa estava crescendo. O crescimento por criatividade leva à crise de liderança. O crescimento por direção leva à crise de autonomia. O crescimento por delegação leva à crise de controle. O crescimento por coordenação leva à crise de burocracia. O crescimento por colaboração conduz à crise desse mecanismo de crescimento — o que obriga a empresa a procurar parcerias externas. Entendido como elas crescem, resta agora saber como elas caem. Vejamos.


É sempre bom repetir o aviso: os modelos que eu ensino neste blog não são receitas prontas ou soluções mágicas. Eles servem, isto sim, para um mapeamento de conjunturas, fàcilitando a posterior tomada-de-decisão. Eu vivo repetindo aos meus alunos que os cases de fracasso são mais interessantes & pedagógicos que os cases de sucesso. Eis a vantagem da ferramenta estratégica que apresentarei hoje: o modelo dos cinco estágios de declínio, criado por James Collins. Após extensos estudos sobre negócios de sucesso, os quais deram origem a dois best-sellers (Good to great e Built to last), Collins centrou foco nos motivos pelos quais as grandes empresas morrem. O resultado é o modelo a seguir, no qual Collins compara — cruz-credo! — o declínio duma empresa ao câncer: difícil de diagnòsticar e fácil de curar no início; fácil de diagnòsticar e difícil de curar no final.


Olhando para o diagrama abaixo, parece estranho que os dois primeiros estágios de declínio duma empresa sejam marcados por um forte aclive e meteórica ascensão. O fato é que, justamente no momento de sucesso e riqueza é que as companhias baixam a guarda e contraem os vícios que as levarão ao fracasso. (É justamente quando você está esbanjando saúde que descuida da hipótese de adoecer). O Estágio 1, portanto, e marcado por um excesso de confiança, oriundo do próprio sucesso. Nesse estágio, embriagados pela pròsperidade que julgam infinita e merecida, os líderes da empresa tornam-se arrogantes e descuidados, virando as costas e perdendo de vista os valores e fatores que os levaram até ali. Os líderes ignoram o papel do acaso e passam a se julgar deuses. Quem conhece um pouquinho do teatro grego, sabe que as tragédias começam assim: o herói acha-se um deus.


A direção da empresa mete os pés pelas patas; perde a capacidade de se questionar e de aprender; ingressa em mercados nos quais a empresa não tem expertise, ignorando seu negócio principal; e privilegia a quantidade sem a qualidade. Decisões ousadas e cretinas sucedem-se, contrariando as evidências pèssimistas. A empolgação aventureira inebria os cérebros e confunde os sentidos com um delírio de abismo. As mudanças não têm lógica nem coerência. A palavra de ordem é: "somos fodas; nada de ruim ocorrerá conosco." É assim que a empresa se prepara para o Estágio 2: a busca insana por mais & mais. Certo. Agora vocês devem estar pensando: "mas oras, ¿as empresas buscam isso mesmo?" Sim, mas o importante aqui é sublinhar os adjetivos ensandecida, indisciplinada. A procura pelo lucro ganha um quê de cassino e roleta. A empresa começa a entrar numa dança especulativa.


Aquisições são feitas apenas visando o crescimento financeiro, ignorando questões culturais e históricas. A busca pelo lucro faz os diretores ignorarem o caixa. Eis o lema: ousadia pela ousadia, inovação pela inovação. (Collins encontra, inclusive, uma assombrosa correlação entre as empresas em declínio e o aumento vertiginoso no depósito de patentes). Num carnaval frenético e agressivo, vários novos projetos são iniciados ao mesmo tempo. A corporação se sobrecarrega e superaquece, passando a descuidar de coisas básicas. Os clientes antigos dizem tchau-tchau! Os acionistas saem; os especulares entram. Nesse estágio, a firma cresce mais depressa que sua capacidade de encontrar as pessoas capazes de cumprir com as novas tarefas que ela tomou para si. Portanto, posições-chave passam a ser ocupadas por gente inepta. Eis a hora d' os funcionários competentes darem adeus.


Na transição para o Estágio 3, há uma crise de sucessão na empresa. Gente mais futurista (e vigarista), arrojada (e entojada), audaciosa (e prètensiosa) substitui os gestores mais humildes da primeira geração. Interesses pessoais tomam a dianteira, negligenciando os empresàriais. Nesse estágio, a empresa faz grandes apostas com risco assimétrico, ignorando evidências em contrário. Os perigos são negados; já as evidências ambíguas são subestimadas ou interpretadas de maneira ingênua. Quando algo dá errado, os fatores externos levam a culpa. Uma espiral de silêncio protege a alta gerência das más-notícias vindas de-baixo. Reorganizações e reestruturações obsessivas são feitas para darem a impressão teatral de "algo está sendo feito". Nesse ponto de inflexão rumo à quebra, a alta gerência se apega a símbolos exteriores de riqueza: carros, jóias, roupas, etc.


O Estágio 4 inaugura uma luta desesperada pela salvação. Inicia-se uma busca afoita pela "bala-de-prata". Tecnologias milagrosas (e não-comprovadas) são prometidas e... fracassam. Gerentes badalados vindos de outras companhias são contratados como salvadores e... fracassam. Consultores mirabolantes, macumbeiros e encantadores-de-serpentes prometem implantar estratégias infalíveis que... fracassam. A companhia empreende manobras desesperadas, uma após a outra. Apesar das pequenas melhorias eventuais, tais manobras só vão desgastando ainda-mais sua situação financeira. O caixa se esvai. O pânico se instala, trazendo consigo a confusão, o cansaço e o ceticismo. A empresa entra, enfim, no derradeiro e irreversível Estágio 5. Aqui, ou ela luta até a exaustão das opções e morre, ou se transforma numa insignificância, numa sombra das glorias do passado. Fim.


Diagrama com o modelo dos cinco estágios de declínio de Collins.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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