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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 1

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 26 de dez. de 2015
  • 2 min de leitura

São Bernardo do Campo, 26 de dezembro de 2015.

Prezada Andréia,



Primeiramente, devo manifestar minha surpresa pela forma como você resolveu se corresponder comigo: uma carta! Em pleno século XXI, você me manda uma carta! E manuscrita! Onde já civil algo tão trabalhista! Desci para verificar a correspondência: boletos, contas, mala-direta, as ameaças da Receita Federal, etc... e daí me deparo com sua carta. Claro, você não vai se incomodar se eu também respondê-la assim, com uma carta.


Você externou naquelas páginas algumas inquietações comuns à sua idade. Em certas passagens, eu me vi falando através das sua caligrafia desenhada. Também tive vinte anos. Também passei por senzalas de luxo. Também me senti o sub do sub. Também corri atrás do próprio rabo para descobrir, ao final de dois anos, que acima do sub, ainda havia outro sub ainda mais sub. (Não sei se você está me entendendo; eu temo estar sendo impressionista).


Mas vamos ao âmago da questão. Você me perguntou na carta quando é o momento certo para se chutar o pau da barraca. (Bom... Antes-de-mais-nada, que legal que você ainda tenha uma barraca disponível para ter o pau chutado — ainda que seja uma barraca de camping; e ainda que o pau é que às vezes chute você)! Mas, sinceramente, eu acho que quem vai lhe responder essa embaçada pergunta não sou eu; é seu despertador. Sim, Andréia: seu despertador!



Um dia, ele vai começar a tocar diferente, se é que já não começou a fazê-lo. Antes, o som que você ouvia era o duma trombeta marcial, convocando-a para a batalha. ¿Você se lembra, Andréia, da disposição com que acordava todas as manhãs para trabalhar, nos primeiros dias? Parecia que uma mola a arrancava dos cobertores. Tóin! Depois, imagino eu, seu despertador passou a soar diferente, como o timbre monótono duma sirene de fábrica.


A partir desse dia, você passou a calçar os sapatos e a vestir-se de maneira màquinal e, como uma zumbi lesada, passou a chegar ao trabalho vazia de si-mesma, sem se dar conta, só para cumprir a rotina e pagar a faculdade no final do mês. Pelo que você me disse na carta, acho que seu despertador toca agora... ouça-o: é como um dobre de finados! ¿E você ainda me pergunta o que fazer da sua "vida"? Bom... antes-de-mais-nada, você precisa sair dessa morte.


¿Você sabe por que os programas de estágio têm dois anos de duração, Andréia? Não é para soncronizá-los com os cursos tecnológicos. Não é para que um estudante de graduação, após resistir ao segundo ano, possa ainda encontrar um estágio no qual trabalhe mais dois. Não! Os estágios têm dois anos, imagino eu, porque este é o máximo de tempo que a sua geração agüenta ficar fazendo a mesma coisa. E eu não a culpo por isso, minha cara zumbi.


Não sei se respondi sua pergunta. Ouça o que seu despertador lhe diz. Boa sorte!

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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