DICA DE LEITURA 12
- Fernando Rogério Jardim
- 6 de jan. de 2016
- 3 min de leitura

Pois é, coroinhas de missa-negra! ¿Como têm estado nesse estado-de-graça sem-graça? Deixa eu lhes fazer uma pergunta meio bíblica: ¿vocês sabem como os Davis vencem os Golias? Noutras palavras, ¿vocês sabem como as pequenas empresas iniciantes às vezes (eu disse: às vezes) aplicam belíssimos pontapés nas megalômanas corporações estabelecidas? ¿Não sabem? Pois o titio-aqui responde: elas se utilizam de estratégia, quer dizer, elas procuram travar batalhas não-convencionais, fundamentadas no disfarce e no embuste, explorando suas pequenas vantagens diferenciais e buscando vencer não pela força do leão, mas pela astúcia da raposa. Isso, repito, chama-se estratégia. Se Davi tivesse encarado Golias com escudo & espada (numa luta convencional), hoje, três civilizações monoteístas não existiriam. Davi, porém, usou uma pedra e uma funda (armas não-convencionais) para vencer Golias.
O bom estrategista é sujeitinho que, ciente da própria condição de fraqueza e desvantagem de suprimentos, evita o embate direto, o corpo-a-corpo com seu oponente poderoso, procurando, em vez disso, cansá-lo no esconde-esconde, desgastar o moral da sua tropa, confundi-lo pelo saracoteio camuflado, infiltrá-lo com espiões, sabotadores e quintas-colunas, despistá-lo com propaganda, desinformação e vazamentos propòsitais. Enfim: a estratégia, como diria Sun Tzu, é a arte de vencer uma guerra sem precisar lutar. Pois muito que ótimo! Agora vejam: na luta entre as pequenas & atrevidas startups, dum lado, e as poderosas & arrogantes corporações, do outro lado, adivinhem quem é o Davi e quem é o Golias! Adivinhem, pois, quem dependerá mais da estratégia — astúcia, disfarce, embuste, àgilidade e esperteza — para vencer no mercado. Ganha um broche do PT quem disser: as startups!
O Capitão Nascimento — nosso grande herói reaça — tinha razão quando dizia que a palavra estratégia vinha do Grego: στρατηγία. Mas se ele tivesse lido o livro Estratégia: do planejamento à execução, teria ensinado a seus aspirantes fanfarrões algo mais que isso. Antes-de-mais-nada, deixem-me fazer duas confissões pessoais. Primeiro, a seção caixinha de ferramentas deste blog foi inspirada na sexta parte deste livro (pág. 201-257), em que MacKeown brinda-nos com uma bela série de ferramentas estratégicas apresentadas de modo gráfico e prático. Claro: nem todas ali são boas, mas vale-a-pena estudá-las com atenção. Segundo, admito que torci-o-nariz para esse livro no começo, porque, nas partes iniciais (pág. 17-66), o autor fica zanzando feito barata-tonta, dando definições acàcianas e vòmitando trivialidades sem ir direto ao tema. Mas a-partir da terceira parte, o livro deslancha e surpreende.
O livro em si é mal-escrito; a tradução tem alguns problemas; mas seu resultado compensa por quatro motivos: 1) MacKeown têm sacadas gèniais, raciocina de maneira astuciosa, tem uma visão holista das coisas e demonstra ter uma experiência bem-refletida sobre o assunto. 2) A diagramação do livro é impecável e pedagógica, tornando-o um excelente guia de bolso, do tipo "pegue isso e faça assim". 3) O livro tem uma òrganização interna obsessiva (no bom sentido da palavra) — típica de quem sofre de TOC. Cada capítulo é curto e está separado por caixas-de-texto com resumos, tópicos de passo-a-passo, checklists de estratégia, parágrafos curtinhos com estudo de casos, listas de idéias relacionadas, seções com exemplos e armadilhas, etc. 4) Aliás, MacKeown não nos ensina apenas a como empregar cada estratégia; ele também adverte para os perigos de usá-las mal. Recomendo vivamente a leitura.
MACKEOWN, Max. "Estratégia: do planejamento à execução." São Paulo: HSM Editora, 2013. 272 páginas. R$ 34,90.
DEPOIMENTOS:
"Hoje, Davi venceria Golias e sua laia não com pedras e fundas, mas com urnas eletrônicas fraudadas e uma dúzia de ministros-compadres nos tribunais superiores."
Doutor Eleutério Deletério.
"A estrada da trégua é régia. Ó estratagema! Ó extraterrestre! Ó estratosfeta! A estrada vai do nada ao nada. Traste! O esterco é o estrume. Extra! Extra! Lacra treze!"
August of Fields.
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