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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 3

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 9 de jan. de 2016
  • 3 min de leitura

São Bernardo do Campo, 9 de janeiro de 2016.

Presado (sic) Cássio,

¿Você já pulou de pára-quedas? Eu não; mas posso perfeitamente me colocar no lugar e entender o que se passa na cabeça de quem já tenha pulado. Ainda no avião, o oba-oba do piloto, dos amigos e do instrutor deve mandar galões de adrenalina direto para o seu sangue. O corpo inteiro responde e se prepara para a experiência mais significativa e emocionante da sua vida. A porta do avião se abre; abaixo, o abismo. A ventania quer sugar seu corpo para fora, e o entusiasmo também. Passam pela sua cabeça milhões de coisas que podem dar errado; mas, no equilíbrio entre a vontade e o cagaço, a vontade vence. Então você salta.


Milésimos de segundos após o salto, você pensa que aquela foi a besteira mais estúpida que você já fez na vida. Bate um arrependimento. Nesse exato segundo, você deve pensar: "¿Onde é que eu estava com a cabeça? Tudo bem: o avião não era a coisa mais segura do mundo; seguro mesmo é andar com os pés bem fixos no chão, e olhe lá! Mas saltar dum avião rumo no vazio! ¿Onde é que eu estava com a cabeça?" Mas daí você sente aquele volume que carrega nas costas -- o pára-quedas! -- e tenta se desligar um pouco dos riscos, para poder aproveitar a experiência. ¿E quer saber duma coisa? Aquilo é muito bom!


Sem compromisso, sem sèriedade, sem protocolo, sem segurança... Só você e a gravidade fazendo o servicinho sórdido. Fora isso, você está livre — delìciosamente livre, perigosamente livre, irresponsàvelmente livre. Há algo de tóxico nessa emoção, que você consome como um vìciado. Mas após alguns segundos divertidos encarando o abismo e a morte, volta-lhe a assombrar um pensamento sinistro: "¿mas e se o pára-quedas não abrir?" Com o perdão do trocadilho, a essa altura, você já deve ter atingido a velocidade terminal: a resistência do ar não permitirá que você caia mais depressa. É só isso.


A coisa perde um pouco a graça; e é nessa hora que um visitante indesejado retorna: o medo. ¿Entendeu, Cássio, as entrelinhas? Você deve estar se perguntando aonde eu quero chegar. Veja só: você me mandou uma mensagem pedindo conselhos. Eu, como de costume, reparei na recorrência de algumas palavras; dentre elas, a conjunção 'se' apareceu vinte-e-nove vezes num texto de menos de mil caracteres. Mas eu senti falta duma palavra em especial — que você sonegou o quanto pôde. Falo da palavra 'medo'. Assuma, Cássio, você está com medo! Você está morrendo de medo; e é natural sentir medo.


É, meu caro... Eu falei do salto de pára-quedas porque sei que essa é uma experiência familiar para você, né? E deixa eu lhe contar uma coisa: a montanha-russa de emoções na cabeça dum saltador é a mesma que domina os pensamentos de quem empreende pela primeira vez. A seqüência é inclusive a mesma: a euforia inicial, a adrenalina da iniciativa, o milissegundo de arrependimento e, depois, a aquela maravilhosa sensação de liberdade — só azedada pelo medo. No caso, medo de perder dinheiro, medo de fracassar e ser humilhado, medo do sofrimento e da necessidade, medo de sentir medo, etc.


Enfim, Cássio: você está com medo. Você me pediu um conselho, e eu lhe respondo com um diagnóstico. Espero que você não me mande outra mensagem só para negar essa constatação óbvia. O escritório em que você trabalha hoje é o "avião seguro" do qual você não quer saltar. Acontece que não é você quem estrá pilotando esse avião, certo? Pelo menos, o salto para o vazio é você quem controla — tirando, é claro, as vàriáveis que, no exemplo que citei, representam a gravidade. O que você precisa decidir agora, meu caro, é se você fará do seu medo um radar que detecta riscos ou uma algema que o mantém preso.


Saudações terrícolas e silvícolas. Vida longa & próspera.

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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