top of page

DICA DE LEITURA 17

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 10 de fev. de 2016
  • 4 min de leitura

Crianças, crianças... Sun Tzu não foi o inventor da estratégia. Mas foi, isto sim, o estrategista que sistematizou as táticas de guerra, dando-lhes um tom prático e amoral que caiu bem no gosto do público ocidental posterior, já prèviamente dessensibilizado pelo pensamento maquiavélico. Resumindo: a estratégia visa uma vitória rápida, barata e, se possível, sem mortos nem feridos. Em vez daquele nobre teatrinho que eram as batalhas nas culturas clássicas, como a chinesa antiga, temos agora um planejamento cínico & eficaz em busca duma vitória rápida, onde a fuga, a mentira e o disfarce — antes vistos como covardia feminina reprovável — passam a valer também.


Aliás, há um paralelismo interessante entre o apogeu dos manuais de estratégia na China dos senhores-da-guerra pré-unificação (221 a.C.), dum lado, e o mesmo tipo de livro surgido num período similarmente desòrganizado em que se encontrava a Itália entre o final do século XV e o início do século XVI. Não é à-toa que o nosso Maquiavel também tenha escrito sua "Arte da guerra" e tenha posto no "Príncipe" um tom de cinismo amoral muito parecido ao que salta das páginas de Sun Tzu e dos outros mestres da guerra. Tanto na China de Sun Tzu como na Florença de Maquiavel, estamos mergulhados num caos político e jurídico no qual o único critério "moral" válido é a vitória.


Ao que parece, portanto, o caos social e a ausência de regras morais unânimes e impositivas abrem espaço para o uso justificado duma estratégia pragmática, despida de qualquer outro critério além da simples astúcia, de qualquer outro médodo além daquele que funciona, de quelquer outra consideração que não o oportunismo, etc. Assim, a estratégia -- seja a de Sun Tzu, seja a de Maquiavel -- apresenta-se como a face descarnada da guerra e da política, sem os badulaques civilizatórios e sem os adornos sociais. Daí a ação humana, em ambos os livros, ser tão freqüentemente comparada às forças da natureza (a água, o fogo) e aos aspectos dos animais (o tigre, o leão, a raposa).


Acho que viajei... Pois muito que ótimo! Vocês perceberam que eu estou numa toada meio estrategista ùltimamente. Tenho lembrado às senhoras & senhores que, dada a falta crônica de recursos de que padecem as pequenas empresas, o improviso e a esperteza passam a ser as alternativas mais interessantes (às vezes, as únicas) para que que o empreendedor se sobressaia. Daí minha opção por incluir na bilbiografia recomendada (clique) obras sobre estratégia. Este é o caso do livro "As 36 estretégias secretas: a arte chinesa para o sucesso na guerra, nos negócios e na vida", de Hiroshi Moryia. Ok: o título é pirotécnico, prètensioso e suspeito que tenha sido posto à revelia do autor.


O interessante é compreender por que 36 estratégias e não 35 ou 40, como possìvelmente preferiríamos. Acontece que Hiroshi Moryia estruturou seu livro a partir do I Ching, onde a representação das forças do cosmos é dada por uma composição de seis elementos (hexagramas), separados por duas trilogias opostas e combinadas. Com base nisso, o autor dividiu seu livro em seis partes, contendo seis estratégias cada: 1) seis estratégias para a vitória na batalha, 2) seis estratégias para engajar o inimigo, 3) seis estratégias para ataque, 4) seis estratégias para situações ambíguas, 5) seis estratégias para batalhas unificadas e 6) seis estratégias para uma batalha perdida. Logo, 6x6=36


A estrtutura do livro é o ponto positivo a se ressaltar. Os títulos dos capítulos são enigmáticos (e engraçados) e visam dar uma noção metafórica do que será tratado em seguida. Depois, o autor expõe um hexagrama do I Ching que lhe serviu de epígrafe ou inspiração para a estratégia, a qual é exposta e explicada na seqüência. O restante do capítulo é usado para ilustrar com exemplos históricos (geralmente, da China Antiga) o uso que generais, políticos e cortesãos fizeram da estratégia que foi explicada. No aspecto da estrutura, o livro se parece muito com "As 48 leis do poder", de Robert Greene & Joost Elffers, embora Moryia seja mais honorável e menos diabólico que Greene e Elffers.


Como eu não perco a piada, não posso deixar de destacar o nome engraçado de algumas estratégias ensinadas no livro, tais como: "pegue uma espada empresata para promover sua matança", "esconda uma espada por trás dum sorriso", "pegue o cadáver emprestado e reanime sua alma", "aguarde em seu descanso pelos passos cansados dele", "bata na grama e surpreenda a cobra", "a cigarra dourada tira a sua casca", "pacifique o tigre e afaste-o da montanha", "aponte para a amoreira e repreenda a árvore do pagode" e — essa vai para o juiz Sério Mouro — "para pegar um ladrão, apanhe seu líder". Enfim, pessoas, ¿o que mais posso dizer? Recomendo vivamente este livro!



MORIYA, Hiroshi. "As 36 estratégias secretas: a arte chinesa para o sucesso na guerra, nos negócios e na vida." São Paulo: Évora, 2011. 256 páginas. R$ 39,90



DEPOIMENTOS:


"Inspirado nesse belo livro, eu inventei mais duas estratégias: 1) despeça-se da gazela e estupre o rinoceronte e 2) desfaça-se do agiota e sonegue IPTU. Ops! Essa última era segredo!"


Professor Belisário Abalisado, interlocutor de situacionistas de carteirinha.



"Como empreendedor, minha estratégia é simples: passaporte e emigração. Aos que ficarem, tentem não chamar atenção do governo: quem engorda primeiro, é abatido primeiro."


Brian Drain, contribuinte, desencantado e càndidato a torresminho.

Comments


Contato direto pelo e-mail:

© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

  • YouTube Social  Icon
  • Facebook Long Shadow
  • Twitter Long Shadow

Seus detalhes foram enviados com sucesso!

bottom of page