DESAFIOZINHO 16

Fernando Rogério Jardim
5 de fev. de 2016
4 min de leitura

Olá, assombrações das próprias infâncias! ¿Lembram-se da ferramenta estratégica mostrada aqui ontem? ¿Não? Refiro-me ao diagrama do espaço em branco de Johnson — um modelo de análise usado para avaliar o aproveitamento de oportunidades empresariais ou o ingresso em trajetórias tecnológicas promissoras. Trocando em miúdos, a ferramenta busca organizar as informações disponíveis ao empreendedor, de modo a que ele possa decidir se um negócio, parceria ou novidade que o atrai é realmente vantajosa, que riscos ou custos há em aproveitá-la, que alterações serão exigidas nos valores da empresa, nos canais de vendas, no segmento do mercado, nos recursos humanos & materiais e qual é o perigo de deixar essa oportunidade para o concorrente.

Lembremos que o diagrama considera dois parâmetros principais: 1) a natureza da clientela (cativa ou nova) e 2) a natureza da oportunidade (ajusta-se ao perfil da empresa ou não se ajusta ao perfil da empresa). É claro que seu mercado garantido é formado pelo cruzamento da oportunidade que já se adéqua à empresa e, além disso, satisfaz seus clientes cativos. Este é o seu negócio central. Nada de novo aqui. Também é fácil entender que, aventurar-se numa oportunidade (modinha ou inovação) que não se encaixa àquilo que sua firma já faz, sem ter uma garantia de que isto atrairá novos clientes, vai lhe trazer mais problemas e antipatias do que benefícios e soluções. Esta é a terra-do-nunca, do nunca entre nessa. O enigma está em saber o que fazer com os casos meio-a-meio.

Pois o desafiozinho tratará de situações assim. ¿Que pequenas mudanças poderemos fazer no negócio para explorar um mercado adjacente e, com isto, atrair clientes que não eram consumidores tradicionais dos nossos produtos ou serviços? Ou, num movimento mais audàcioso, ¿que guinada radical podemos dar no negócio com vistas a explorar um setor novo e promissor, porém, ainda estranho para nós? Às vezes, é possível diversificar e reposicionar a empresa, mantendo-se no mesmo segmento de mercado, explorando uma adjacência dele. Outras vezes, porém, percebe-se que a concorrência esgotou as opções e congestionou todos os pontos daquele setor; e a única saída possível é uma inovação drástica: um espaço em branco. Ok? Considere então as seguintes situações:

1) The Queen of Geeks Informática. Os donos desta pequena empresa de manutenção de computadores perceberam que a maioria dos defeitos que lhes chegam à oficina são provocados pelo mal-uso das máquinas por usuários idosos, pouco afeitos à computação e que reclamam de problemas inexistentes nos equipamentos. O bairro em questão tem muitos idosos e, por isto, os sócios consideraram a possibilidade de oferecer um curso básico de informática para este segmento. O curso seria dado na própria casa dos clientes, o que facilitaria a coisa para ambos os lados. Mas daí entram os problemas: já há quatro escolas de informática nas redondezas, os sócios não têm tempo para as aulas e, cá entre nós, eles não são um primor de paciência & pedagogia para ensinar.

2) Churrascaria Galeto Recalcitrante. Os pròprietários desta churrascaria vêm notando um movimento progressivo dos freqüentadores no sentido duma dieta homossexual & sustentável, quer dizer, vegetariana. Já não basta mais servir ao cliente a parte mais magra do espeto, ter um bifê de saladas e carnes brancas ou apelar para a modinha gourmet. Os clientes estão indo embora mesmo. Além disso, a quantidade claustrofóbica de churrascarias na mesma região transformou-a num circuito temático. Os sócios, portanto, estão considerando a possibilidade de transformar a churrascaria num restaurante vegetariano, haja-vista que não há outro na região. Os problemas são os riscos e custos assòciados a este salto, em termos de funcionários e fornecedores, mas não só isso...

3) Clínica de Estética Complexo de Adônis. A clínica em questão especializou-se em emagrecimento, combinando técnicas inovadoras que vão do eletrochoque, a sutura de lábios e um intercâmbio no Afeganistão. Os clientes são executivos e empresárias que pagam caro por um serviço rápido. Isto fez com que os sócios se interessassem por um equipamento de bronzeamento artifìcial que diminui o tempo de exposição em 1/4 do que é geralmente necessário. A posse dessa máquina permitiria oferecer um serviço extra aos clientes atuais e, quem sabe, conquistar mais clientes novos. Os problemas, entretanto, são os seguintes: o preço da câmara é absurdo, sua licença na Anvisa tem alguns embargos a destravar e ninguém na clínica sabe como operar essa máquina. Tirando isso...

¿Entendido? Então é o seguinte: para cada um dos casos acima, responda: 1) ¿Em que quadrante do diagrama do espaço em branco enquandram-se, respectivamente, The Queen of Geeks Informática, a Churrascaria Galeto Recalcitrante e a Clínica de Estética Complexo de Adônis? 2) ¿Quais são os riscos e custos envolvidos em cada uma das oportunidades apresentadas? 3) ¿Que adaptações precisariam ser feitas em cada uma dessas empresas para que elas pudessem se aproveitar da oportunidade? 4) ¿Qual seria o risco, para cada uma, do não-aproveitamento dessas oportunidades? Por fim, devo lembrar às senhoras & senhores que, na próxima semana, teremos desafiozinho com promoção. E a prèmiação está acùmulada, porque ninguém conseguiu resolver o anterior.