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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 8

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 13 de fev. de 2016
  • 2 min de leitura

São Bernardo do Campo 13 de Fevereiro de 2016.

Caro André,

Já dizia o filósofo que, depois do coito, todo animal é triste. Não preciso esmiuçar os detalhes técnicos desta frase. Somos homens e entendemos bem o que ela significa. Troque o coito pela conquista — qualquer conquista — e o resultado será sempre o mesmo: tristeza depois da euforia. Afinal, ¿quem nunca sentiu aquele desânimo quase depressivo depois duma luta — mesmo quando a luta em questão é vitòriosa? ¿Quem nunca se perguntou, ao contemplar o horizonte depois duma escalada íngreme, ¿então era só isso?


Talvez isso explique sua angústia, André. Com menos experiência que eu, com menos cicatrizes que eu, você chegou àquele ponto que muitos consideram o Everest da carreira executiva. Agora, no pico congelado & rarefeito, você contempla o abismo inóspito e percebe com terror que não há mais para onde subir. Os amigos ficaram para trás — abandonados ou desistidos. Os empreendedores costuam tropeçar em pedregulhos; mas você, André — o funcionário, o executivo, o carreirista — venceu a montanha.


Mas com isso, sua jornada acabou, porque sonhos realizados são sonhos falecidos. Poxa, André... tão cedo! trinta anos! E a-menos que você continue a escalada ou encontre outra montanha, já não há mais motivos para continuar respirando. Portanto, posso imaginar a sensação de vazio & tédio que o tem transtornado ùltimamente. Daí aparecem sentimentos contraditórios na sua carta: a obrigação de expressar pùblicamente gratidão e felicidade pelas conquistas, e o desânimo de perceber que não há nada depois disso.



Há um momento incômodo em nossa vida profissional: é quando você acaba de acordar e, ainda na cama, nota que aquilo é o melhor que você vai se sentir até o final do dia. Não me surpreendem, portanto, as elevadas (embora escondidas) taxas de drogadição entre executivos bem-sucedidos. Eu não acho que eles se droguem para escapar do excesso de problemas, mas sim para fugir da falta de sentido. Problemas nos mantém vivos e alertas; a tragédia mesmo viver sem um porquê. ¿Você chegou a esse ponto, André?


Espero que não... Somos animais curiosos. Nossa consciência se depara com um mundo sem significado; e nossa liberdade se depara com uma vida sem orientação. Essa busca por significado para o mundo e orientação para a vida é a mãe das filosofias e religiões; mas também é a mãe da angústia e do suicídio. E quem encontra na escalada e na conquista o sentido para a vida, enfrenta problemas adicionais quando chega ao cume e não encontra nada ali além de solidão e abismo. ¿Parece deprimente? Pois isso é deprimente.


E por falar em escalada e conquista, André, ¿sabe quando é que os atletas mais sentem dor? É quando a luta ou o jogo termina. Talvez isso explique seu desânimo hoje. Sabe... Eu acrèdito que a felicidade profissional não está na contemplação dum topo, mas no prolongamento da sensação de subida, de conquista. Portanto, ¿que tal prolongar sua escalada, André? ¿Que tal descer dessa montanha e subi-la de-novo? Melhor ainda: ¿que tal construir sua própria montanha? Eu chamo isso de empreendedorismo.


Abraços,

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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