CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 9
- Fernando Rogério Jardim
- 27 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
São Bernardo do Campo, 05 de março de 2016.
Prezado Fernando,
Meu xará... Primeiramente, use a resposta a esta mensagem para me mandar notícias do Vinícius. Da última vez que nos vimos, soube que ele estava estudando para prestar concurso público numa dessas autarquias corruptas aparelhadas pelo PT. Logo vi! Ao cumprimentá-lo, senti aquele mau-cheiro inimitável que só os concurseiros exalam – um misto de mortadela, propina e tinta para carimbo. Poxa, cara... Pensei em tomar banho de álcool-gel depois; mas càlculei que ficaria muito caro. Dê-lhe um chute na bunda por mim.
Mas quanto ao seu caso... Limbo! O seu problema é este: você caiu naquele limbo que entremeia a abertura duma empresa e o fechamento da primeira venda. Eu vi isso, pois acompanhei seu processo: você fez tudo certo: escolheu o ponto, pesquisou o público, bisbilhotou a concorrência, alinhavou fornecedores, lidou com a papelada soviética que o Estado-Babá impõe como punição àqueles que ousam cometer o pecado – no seu caso, reincidente – de trabalhar & produzir honestamente neste “país”.
Daí você abriu as portas e... nada! Nem o superestimado mosquito da dengue quis desovar na sua cafèteria. Não que isto lhe sirva de consolo, Fernando – porque não serve –, mas este limbo é semelhante àquele em que se atola o estudante recém-formado, o imigrante recém-chegado, o executivo recém-pròmovido, etc. ¿E quer saber duma coisa? Eu me encontro na mesma situação com meu doutorado. Meu sangue não mudou de cor com o título; meu desempenho sexual continua o mesmo... e meus salários também.

– ¿E sabe por que isso aconteceu, Fernando? (Imagine que eu esteja falando comigo também). – Porque você não agitou as águas; você não fez barulho o-suficiente; você não produziu um escândalo memòrável. Há duas formas de se capturar esse animal suculento chamado cliente: entrando de-cabeça na toca onde o desgraçado se esconde ou agitando seu habitat, para que ele apareça. Você não fez nem uma coisa nem outra, Fernando. Você, como tantos, crê que uma estrada encantada aparecerá – puf! – ligando a oferta à demanda.
Isso não existe! Se existisse, os pùblicitários estariam perdidos, porque o trabalho deles é justamente pavimentar, com palavras & símbolos, essa estrada que liga o produtor ou vendedor aos seus clientes. (O relações-públicas faz a mesma coisa, mas só aparece quando o cliente vira vítima). ¿Entendeu, Fernando? Você precisa de marketing, de propaganda, de promoção. Claro: coisas simples e baratas, mas engenhosas e impactantes – que não deixem você pelado de dinheiro, mas que digam ao mundo que você existe.
Reinaugure a cafèteria. Faça um evento do peru. Mobilize seus contatos. Consiga que a imprensa local esteja aí. Diminua os preços a um patamar de subsistência: o objetivo duma inauguração não é esfolar os clientes, não é gerar o lucro do mês num dia; é gerar notícia, bater-bumbo e captar feedback. Invente algo bizarro, chamativo, extravagante. Sei lá! Traga um anão que cospe fogo, um albino que faz malabares com ovos de avestruz, um petista que recusa propina. E não se esqueça de me mandar o convite. Ok?
Abraços e sucesso,
Fernando.
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