DICA DE LEITURA 20
- Fernando Rogério Jardim
- 2 de mar. de 2016
- 3 min de leitura

Olá, tenebrosos & iluminados! Voltei com mais uma dica de leitura do peru. Bom... É difícil definir sobre o quê é este livro. Ele trata de liderança e motivação – sim. Ele trata de empreendedorismo e microempresas – sim. Ele trata da gestão-de-pessoas – sim. Ele trata da administração de startups de tecnologia – sim. Ele é um relato-de-experiência do autor na alvorada da Internet – também. Mas eu resumiria o assunto deste livro assim: ele escancara, em cores vivas, o lado menos romântico das startups.
Esqueça os impérios de tecnologia milionários criados na garagem por fedelhos quatro-olhos. Esqueça a badalação dos eventos e revistas de negócios. Esqueça as curvas exponenciais de lucros. Esqueça as soluções prontas aprendidas em cursinhos de MBA. Neste belo livro “O lado difícil das situações difíceis”, Bem Horowitz nos mostra os intestinos do monstro, a oscilação, tão familiar nesse ambiente, entre a euforia e a angústia, o òtimismo e o desespero, a estratégia perfeita e o imprevisto que ferra com tudo (p. 63-97).
Um dos mantras deste blog é que uma empresa pequena não é uma versão pequena duma empresa grande – assim como um cálculo renal não é uma maquete em miniatura da Pedra da Gávea. A diferença entre pequenas & grandes empresas não é apenas quantitativa; é também qualitativa. Quando uma firma muda de tamanho, seus problemas mudam de natureza. Coisas com as quais você se prèocupava desaparecem do horizonte (uma vez delegadas a terceiros); mas encrencas inéditas passam a assombrá-lo.
O livro de Horowitz dá-nos abundantes provas dessa metamorfose. As operações duma empresa podem ser divididas em três níveis: 1) o operacional – que é o chão-de-fábrica: a produção (no caso de produtos) ou o atendimento (no caso de serviços) –, 2) o tático – que é a definição e a coordenação de quem faz o quê com o quê e quando (o trabalho dos gestores) – e 3) o estratégico – a leitura do terreno, o posicionamento frente à concorrência, a prospecção de oportunidades, a definição das grandes metas, etc.
Pois muito que ótimo! Quando uma empresa aumenta de tamanho, sua parte operacional é a primeira que sofre as dores do crescimento. O processo se atropela numa bola-de-neve, a clientela é mal-atendida, a qualidade perde o padrão, os estoques intermèdiários aparecem, há desperdício e nervosismo. Por isso, o operacional passa a sobrecarregar o tático com trabalho de microgestão: cada detalhe precisa ser acompanhado, monitorado, administrado. Com isso, negligència-se o estratégico, que está no distante longo-prazo.
Mas é justamente por negligènciar o estratégico que o empreendedor é abocanhado pela concorrência. Então, um imprèvisto na produção, uma exposição negativa na imprensa, a perda dum sócio, cliente crítico ou fornecedor importante passa a ser a pá-de-cal que faltava para sepultar a startup e, com ela, seus patéticos sonhos. Horowitz aponta-nos as fontes dos problemas duma startup quando cresce: a gestão do pessoal, a retenção de talentos, a comunicação, o treinamento e a contratação (p. 149-197).
Os pontos altos do livro são aqueles em que o autor trata das decisões complicadas envolvendo pessoas – decisões que, no início da firma, você deverá tomar sòzinho, sem a ajuda dum Recursos Humanos (p. 99-145). ¿Como detectar um talento ao contratar um funcionário? ¿Como demitir ou rebaixar um amigo? ¿Como lidar com problemas de polìticagem e comunicação? Como contratar executivos e vendedores para sua startup? ¿Como lidar com nomes de cargos, avaliações, prèmiações e promoções?
O livro é muito bem-escrito; o que não dá para entender são as epígrafes sem-noção com letras de rap — típicas dum burguesinho com complexo-de-culpa que ànseia por parecer descolado diante dos "manos". Embora ele recheie o livro com suas experiências e aprendizado, o autor não caga-regras e deixa claro, logo no no título, que não há respostas prontas para as questões que aborda. Perfeito! Esta é quase a definição do que é empreender: procusar respostas quanto até as perguntas são incertas. Fica a dica!
HOROWITZ, Bem. “O lado difícil das situações difíceis: como construir um negócio quando não existem respostas prontas.” São Paulo: Martins Fontes, 2015. 295 páginas. R$ 39,90.
DEPOIMENTOS:
“Nunca ninguém escreveu tantas respostas-prontas para situações imprèvistas.”
Professor Ignácio Ignóbil, atirador-de-elite e crítico literário.
“O lado difícil das situações difíceis. Hum... isso descreve bem o meu divórcio.”
Doutora Paty Faria, advogada, astróloga e consultora de finanças.
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