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CAPÍTULO 31: FRANCAMENTE, FAÇA-SE UM FAVOR: FUJA DAS FRANQUIAS!

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 7 de mar. de 2016
  • 4 min de leitura

Vista-se como um nhonhô, mas seja um escravo-de-ganho!


Olá, destroços de supernovas explodidas! Imaginem: se um desavisado alienígena aterrissasse no pitoresco planetinha chamado Brasil, lá pelos idos dos anos 1990, e abrisse um jornal de negócios, acrèditaria que toda a pròsperidade dos habitantes do universo teria vindo dum negócio chamado franquia. Durante uma década, empreender significava literalmente ser dono duma franquia. (Tudo bem: o mais correto seria dizer que a franquia é que era dona de você – veremos isso mais adiante). Mas – pelas manchas de Júpiter! perguntaria o alienígena – ¿que demônios era uma franquia? ¿Seria essa uma nova fonte obscura de energia descoberta pelos terráqueos? ¿Seriam esses os bloquinhos-de-montagem do universo? ¿Seria essa uma nova arma mortífera para subjugar os outros planetas?


Nada disso! As franquias eram sòmente uma das arapucas mais patéticas inventadas pelos seres humanos contra si-mesmos. Imagine o seguinte: trabalhe feito uma mucama durante um quarto de século. Junte o máximo de dinheiro que seu esforço & sovinice conseguirem amealhar. Peça dinheiro emprestado ao psicopata do seu cunhado, ao crápula do seu sogrão. Envolva-se com os gângsteres financeiros, com a Camorra bancária. Estoure os limites do seu cartão-de-crédito. Venda a alma para Satã, mas não sem-antes arrendá-la para seus inúmeros crèdores. Agora deposite dòcilmente toda essa grana (uns R$ 300.000,00) aos pés duma firma que gentilmente permitirá... que você trabalhe para ela! Olhem, leitores: eu vou direto ao ponto. Isso é uma tremenda estupidez! É uma inversão do princípio de empreender!


Mas acalmem essa pitomba! Eu ainda não acabei. Imaginem ainda que essa firma – num despautério de generosidade & desprendimento – padronizará e determinará todos os detalhes ínfimos da sua própria empresa – aquela que você comprou. Até a cor da cueca que você usar no seu próprio negócio será ditada pela nova sinhá: a franqueadora. Todos os processos, todas as minúcias – do operacional ao estratégico, do tático ao estético: tudo! – será rìgidamente estabelecido pela franqueadora. Ai! de você se se desviar um milímetro do estabelecido! Sob pena de perder esse lindo contrato – com jubas de leão e patas de leão – ou pagar multas à sinhá, você precisará obedecer com o rigor dum carrasco nazista, com a submissão dum eunuco moral todos os ditames da poderosa. Lerêêê, lerê!


Como e quem você contratará para sua empresa; que serviços poderá oferecer nela; onde será o endereço do seu próprio negócio; que nomes e que cores decorarão sua fachada – todas essas ordens virão duma casa-grande escondida nas nebulosas duma rede, dentro da qual você não passará do mais novo & frágil nó. Seu "contrato de escravidão" estabelecerá normas draconianas acerca do uso da marca, da identidade visual protegida, dos padrões de serviços & produtos, do atendimento, da montagem ou da produção, etc. Até mesmo a seqüência de palavras que seus funcionários dirão aos clientes será determinada. Creio que Adolf Hitler, Josef Stálin, Gengis Khan e outros tiranos da história dessem mais liberdade aos membros das suas respectivas quadrilhas político-militares. Quanto a você, meu filho...


Parabéns, criatura! Você se tornou o orgulhoso pròprietário do seu próprio emprego, o escravo-de-ganho feliz dum empreendedor que lhe venderá a ilusão de ser você uma espécie estranha de empreendedor por procuração. Por isso, leitores, por um dever moral de piedade e simpatia, não devemos rir desses pobres-diabos que entram em franquias leoninas e depois andam dizendo por aí, aos parentes & vizinhos, que são empresários, que são empreendedores. Não devemos caçoar dos lunáticos, não devemos zombar dos escravos. Ironias à parte, idèntificar o franqueado com o empreendedor é uma das piadas mais grotescas e sinistras nesse ramo. Essa falácia levou muitas pessoas incautas a depositarem suas economias em modinhas passageiras ou máquinas-de-queimar-dinheiro – quando não, em golpes!


Em hipótese nenhuma, sob nenhuma classificação imaginável o franqueado é considerável um empreendedor – pelo simples motivo de que este testa um negócio inédito e próprio, assumindo livremente altos riscos, ao passo que aquele compra um negócio já testado das mãos dum empresário estabelecido, que lhe oferece a magnífica experiência de trabalhar cinqüenta horas semanais para ele, pagando-lhe até 15% do lucro que conseguir em forma de royalties e direitos pelo uso da sua marca. Aliás, se tudo der certo com sua unidade da franquia, talvez você consiga, dos R$ 300.000,00 originais que investiu, um lucro anual de R$ 50.000,00. Isso significa que você demorará cerca de seis anos para resgatar o principal do dinheiro investido. Mas lembre-se: há crèdores & perigos na esquina.


Se a taxa-de-juros dos empréstimos contraídos por você para abrir a franquia forem mais "rápidas" que a escala do negócio, a falência poderá alcança-lo antes-mesmo de você gritar "Proncon!" O principal investido virará poeira. Se o mercado se perturbar, se os gostos dos clientes sofrerem uma alteração, se a conjuntura econômica for desfavorável, se o fornecimento de matérias-primas críticas se interromper, se eventuais escândalos envolvendo a franqueadora pipocarem na imprensa, se tecnologias disruptivas aparecerem, o canário mudará, tornando-se bem diferente daquele em que foi firmado o contrato. Você será bombardeado como um planetóide sem atmosfera. E não pense que a franqueadora empenhar-se-á em salvar outra coisa que não sua própria pele.


Ia me esquecendo: você deverá cumprir metas. Não muitas, é claro – sòmente as inviáveis ou aleatórias. Empresas de franquia vingativas, ganànciosas ou apenas burras podem resolver colocar novas unidades na mesma região em que você atua, caso considere que você não é bom o-bastante para atingir suas lindas metas. O risco de novos membros agressivos da franquia aparecerem na sua área geográfica, roubando-lhe mercados, é real. Além disso, você sempre ficará à-mercê das decisões táticas e do planejamento estratégico – nem sempre transparente e inteligente – da franqueadora. E agora vem a parte legal: se você falir – e há uma grande chance d’ isso ocorrer – a franqueadora simplesmente passará seu negócio para outro otário. Sua falência não aparecerá nas estatísticas. Até sua memória será roubada!


Então eu lhes pergunto, ó estupefatos aprendizes: ¿parece bom abrir uma franquia? Não bastasse o investimento inicial mesopotâmico, o pagamento de royalties e outros direitos, a maquiagem das estatísticas de insucesso, os custos e riscos à espreita, o demorado retorno do principal, a jornada-de-trabalho escravista, a submissão às decisões de terceiros, a exigência dos padrões estritos... Observando o caso por essa perspectiva, parece absurdo imaginar que as pessoas acrèditaram que iriam enriquecer fazendo o que não gostavam e sem nenhuma liberdade – e ademais, pagando! O empreendedorismo é o exercício dum propósito; o enriquecimento é a conseqüência. (Convido os leitores a retornarem aos primeiros capítulos deste blog). As franquias invertem essa lógica. Só pode dar merda!


Até-mais-ver!


¿QUEM É JOHN GALT?

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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