CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 12
- Fernando Rogério Jardim
- 19 de mar. de 2016
- 2 min de leitura
São Bernardo do Campo, 19 de março de 2016.
Fala, Guilherme!
Lamento pela "morte" do seu primeiro "filho". Respeito seu "luto", cara, mas empreendedorismo é uma arte, e quebrar-a-cara com freqüência faz parte. Veja a coisa pelo lado positivo: você apostou pouco dinheiro, você quebou logo no início, sua quebra foi motivada por aquilo que eu chamo de burrice nutritiva, quer dizer, uma cagada com a qual a gente aprende algo que não estava mesmo disponível nos livros. Paciência!
Acho que perdi a conta das vezes em que disse isto aqui, mas... enfim: vale repetir: a falência é um acontecimento comuníssimo na vida dum empreendedor; e não deve — de maneira nenhuma! — ser encarada como motivo de vergonha ou cicatriz de fracasso. Cara, um boxeador não se ressente de tomar umas porradas. Afinal, ele entra no ringue para isso mesmo: às vezes bate, às vezes toma; mas volta a lutar sempre-sempre-sempre.
Porra, cara... Mas esse mercado em que você entrou também, hein!? Eu posso estar dizendo uma bobagem, pois não sou da área; mas o sucesso dum joguinho para cèlulares é tão prèvisível quanto o sucesso dum melô de verão. Você pode cair no gosto do populacho decerebrado com uma bobagem que você levou dois minutos e um porre para compor; e verdadeiras obras-de-arte caem no esquecimento. Aliás, nem são conhecidas.

Você sugere na carta (responda-me corrigindo-me se eu estiver enganado) que você prètende dar um tempo nesse negócio de desenvolvimento de aplicativos & joguinhos e voltar para o mercado-de-trabalho formal. ¿É ísso? Bom... se for isso, cara, não serei eu que vou dissuadi-lo. Eu não sei como andam suas contas, suas dívidas, a urgência dos seus compromissos financeiros. Então boa sorte! Mas pense um pouco.
Primeiro: você resolveu voltar para o mercado-de-trabalho formal num momento em que (tudo indica) estamos entrando numa depressão econômica de cinco anos. Portanto, talvez, o tempo que você vai ficar esperando na fila do desemprego seja o mesmo tempo que você gastaria se reerquendo da falência e empreendendo novamente — mas com a vantagem de, no segundo caso, estar criando algo seu e para si-mesmo. ¿Que tal?
Segundo: é muito provável que o trabalho criativo que você fazia na sua própria startup não tenha serventia numa empresa madura, onde as coisas são mais ossificadas, burocráticas e quadradinhas. ¿Você levou isso em consideração, Guilherme? ¿Você investiu, arriscou-se, empreendeu, quebrou, aprendeu — e agora vai dar de mão-beijada sua experiência e criatividade para uma empresa que não vai aproveitá-las? Pense nisso!
Abraços e... volte para o ringue, cazzo!
Fernando.
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