DESAFIOZINHO 23
- Fernando Rogério Jardim
- 25 de mar. de 2016
- 3 min de leitura
Olá, seresteiros & cantadores! Segundo nos conta Dante na Divina comédia, o inferno é composto por círculos concêntricos cada-vez-mais profundos, até chegar no colinho do capeta — quer fica nalgum ponto entre o pré-sal e o nível moral da esquerda brasileira. Pois bem. O mercado também é formado por círculos concêntricos cada-vez-mais afastados de segmentos. A-partir dum ponto central de clientes cativos, a atração gravitacional do seu empreendimento poderá se estender e deformar a trajetória (ou trazer para sua órbita) clientes de outros sotores, com os quais seu produto ou serviço não tinha uma relação direta.
Tal como no inferno descrito pelo poeta florentino, seus clientes são seus pequenos satanazes, atazanando-o como ratazanas com demandas mutantes e difíceis de atender. Clientes próximos podem ser atraídos por sua gravidade mais fàcilmente: bastaria uma pequena adaptação de abordagem, embalagem, marca, canais, etc. Geralmente, não são necessárias alterações profundas em seu modelo-de-negócio. Porém, quanto mais distante for o segmento almejado, mais difícil será justificar uma alteração drástica de tecnologia que compense a satisfação desses não-clientes. Melhor seria deixá-los passar.
Portanto, o conselho que eu sempre dou é o seguinte: comece seu negócio focando num público difuso, quer dizer, numa clientela cujo perfil você conhece bem e que está na sua mira; mas que você poderá desprezar caso perceba que um público vizinho tornou-se um alvo comèrcial mais atraente. ¿Entendeu? Noutras palavras, tenha um foco, mas não uma tara; escolha uma clientela, mas não um fetiche. Saiba, pois, qual bicho está na alça-de-mira da sua arma; mas admita atirar noutro bicho caso este lhe pareça mais gostoso; ou caso este ache seu traseiro mais gostoso! Foi sobre isso a ferramenta mostrada aqui ontem.
O diagrama dos círculos concêntricos da clientela ajudá-lo-á a se decidir sobre para quais clientes apontar seu negócio, quê outros não-clientes poderiam ser atendidos por você e o que seria necessário para satisfazê-los antes que seu concorrente os encontrem primeiro. Considere o seguinte exemplo. André e Daniel, dois estudantes de tecnologia da informação, juntaram-se e criaram o Spybaby: um aplicativo que permite às mamães comunicarem-se com as babás ou cuidadoras, monitorando remotamente todas as atividades e a rotina do bebê na creche. (O aplicativo bem que poderia se chamar GuiltyMother.) Enfim...
Usando uma base parecida à do Whatsapp, o Spybaby usa emoticons que dizem à mamãe culpada quando seu bebê comeu, quando ele brincou, quanto tempo ele dormiu, a que horas ele desapareceu ou foi seqüestrado, etc. André e Daniel vêem um baita futuro nesse aplicativo, pois há similares bem-sucedidos nos EUA. Porém, eles estão em dúvida quanto a quem são seus clientes — se são as mamães, as babás, os bebês, as creches ou se é o fèminismo e seus inúmeros efeitos colaterais indesejados. (Atenção: sarcasmo). Você, leitor, bem que podia ajudar a nossa dupla de nerds respondendo as seguintes perguntas:
1) Com base no diagrama, ¿quem são os clientes cativos ou o público-alvo do Spybaby? 2) ¿Que público formaria o primeiro nível, quer dizer, aqueles clientes que só precisam dum empurrão para se tornarem em usuários? 3) ¿Que inovações ou iniciativas André e Daniel precisariam tomar para atingir esse nível? 4) ¿Quem comporia o segundo nível, quer dizer, os não-clientes hostis a esse tipo de aplicativo? 5) ¿O que a dupla precisaria fazer para convencê-los? 6) Pense num mercado distante do segmento das creches & babás onde o Spybaby poderia fazer um tremendo sucesso com algumas adaptações — e quais.
Até-mais-ver! Que comecem os jogos!

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