CAPÍTULO 34: A ALFORRIA STARTUP: LIVRANDO-SE DAS HERANÇAS MALDITAS
- Fernando Rogério Jardim
- 28 de mar. de 2016
- 5 min de leitura
Aprenda a como criar um ambiente-de-trabalho isento de tòxinas, gorduras & agentes patógenos.

Olá, mitocôndrias do meu citoplasma! Diz um velho ditado (eu não sei se é mesmo um ditado, porque parece mais uma mensagem de autoajuda): plante uma idéia e colherá uma ação; plante uma ação e colherá um hábito; plante um hábito e colherá um caráter; plante um caráter e colherá um destino. Se isso vale para as pessoas comuns, talvez o mesmo valha para as pessoas jurídicas, cuja cultura faz com que elas cometam sempre as mesmas mancadas, num círculo vìcioso de repetição & decepção. Portanto, quanto mais cedo uma empresa se livrar de pensamentos e comportamentos perniciosos para seu futuro, melhor! E não há melhor ocasião para se realizar um "exorcismo" de crenças e manias do que antes-mesmo d' a empresa nascer — quando a equipe ainda está sendo montada, quando o cimento da cultura interna ainda não endureceu em protocolos sabotadores. Vejamos.
Eu já disse aqui para vocês adiarem ao máximo a contratação de funcionários. Funcionários são aqueles caras que chegam tarde, saem cedo, roubam a empresa e se demitem lhe metendo processos e lhe cobrando absurdos. Prefira ter sócios; prefira ter uma equipe — e isso já lhe dará trabalho o-bastante. Você não precisará de nada além de sócios e equipe para perder uns cabelos e ganhar umas rugas. E mesmo esse número exíguo de pessoas deverá ser contratada e combinada com prècaução, atentando para dois quesitos: 1) ¿Que hàbilidades complementares essas pessoas trarão para sua equipe — hàbilidades que a equipe não conseguiria aprender sòzinha? 2) ¿Qual é o grau de adesão dessas pessoas aos valores, missão e cultura da equipe? Uma equipe ideal é o resultado de conhecimentos complementares e missões & valores compartilhados. Então, pense nisso.
¿Mas quê valores adotar? Parece estranho ditar regras sobre o que uma empresa deveria acrèditar, uma vez que pessoas jurídicas são desprovidas de personalidade e, portanto, não têm sentimentos nem lembranças para formar crenças & valores. Os valores duma empresa nada-mais são do que a síntese dos valores dos seus líderes. Por isso, leitor, atente para quê virtudes e defeitos você está permitindo que contaminem o ambiente-de-trabalho que você estará criando. Fundar uma nova empresa é uma oportunidade excepcional de começar tudo do-zero e criar um Novo-Mundo, livre das mazelas que existem nas demais empresas: polìticagem, corrupção, injustiça, burocracia, nepotismo, paternalismo, incompetência, salamaleques, favorecimento, etc. Portanto, os primeiros passos que você der nesse sentido — a cultura, a missão, os valores — marcarão o destino da sua statrup.
A lógica é a seguinte — matemática e implacável —: quando a empresa é grande, as virtudes e defeitos do seu criador diluem-se ou são filtrados pelos subníveis da hierarquia. Mas quando a empresa é pequena, a forma como você pensa, sente, decide, fala e age impactará diretamente — com força total, sem diluições nem filtragens — no destino da empresa. Noutras palavras, nas startups, as falhas de caráter do líder e da equipe são concentradas e manifestam-se visìvelmente. O presidente psicopara duma òrganização com cem pessoas, estará à frente duma òrganização 1% psicopata. Os clientes nem notarão o perigo que correm. Mas o diretor cabaço duma startup com cinco sócios, dirigirá uma startup 20% cabaça. E acrèditem: 20% de cabacice arrebenta com o futuro dum negócio — que inclusive, por conta do tamanho e da estrutura, tem pouco espaço para erros.
Portanto, titio Fernando aqui defecará algumas regrinhas básicas & práticas para a moral o os bons costumes duma pequena empresa. Primeiro: a startup tem de ter um propósito que não seja apenas ganhar dinheiro. O propósito pode ser salvar os animais, encantar as pessoas, contribuir com a riqueza coletiva, empoderar as mulheres, embelezar a vizinhança, despertar o talento das pessoas, etc. O propósito é a força moral que está no âmago de tudo o que a equipe faz. Você, leitor, deve estar pensando que isso é bobagem, é exoterismo, é autoajuda. Ok. Então me responda o seguinte: ¿donde você tirará ânimo para continuar lutando quando o bicho pegar, a crise bater, os problemas surgirem e mesmo o dinheiro — esse remédio milagroso — não estiver entrando? Resposta: você tirará a motivação do seu propósito. Portanto, arrenje um que o motive!
Segundo: os líderes da equipe devem servir estòicamente e fanàticamente a esse propósito, e nunca a si-mesmos. Sua startup deverá funcionar com o espírito duma seita. Disso decorrem três conclusões: 1) só devem ser trazidas para a equipe pessoas verdadeiramente comprometidas com esse propósito; 2) os líderes devem dar aos demais membros exemplos de dedicação inflexível e sacrifício individual, evitando sinais ostensivos de arrogância e preguiça; e 3) todos devem ter ciência de que uma startup, assim como um bebê recém-nascido, é um sorvedouro insaciável de trabalho, dinheiro, dedicação e cuidados, ao menos nos seus primeiros meses. O líder deve ser uma figura-de-proa, alguém que paga as contas e que presta as contas. Só! Porém, o poder de decisão e de criação, quer dizer, a autonomia e a iniciativa devem estar igualmente distribuídas na equipe.
Disso decorre o terceiro conselho: mantenha a hierarquia o mais achatada possível. No início da startup, dois níveis bastam! Quando a empresa crescer, tente manter essa hierarquia achatada; não caia na tentação de inventar classes, castas ou títulos-de-nobreza para seus funcionários ou assòciados. Uma hierarquia pronùnciada virá com as seguintes maldições: 1) burocracia, criando procedimentos e salamaleques na comunicação e na tomada-de-decisões internas, o que fará com que sua empresa fique lerda e pesada; 2) segmentação, erguendo barreiras entre os diversos setores da empresa, com decisões cada-vez-mais autistas e alienadas do resto do sistema; 3) polìticagem, com funcionários mais prèocupados em agradar o chefe para subir na carreira do que em agradar o cliente para ampliar o mercado; e 4) um clima tóxico, com arrogância, desconfiança, inveja e cinismo.
Em vez disso, atue como o Google, com pequenas equipes autogeridas, cada qual trabalhando um projeto específico, mas em cooperação com as outras equipes. Sua empresa, portanto, deve funcionar como uma rede fluida, e não como uma pirâmide petrificada. Os nós dessa rede são as pequenas equipes autorgeridas; e os fios da rede são suas conexões de comunicação & cooperação com as outras equipes (os outros nós). Nada impede que seu negócio, ao crescer, continue atuando com o dinàmismo e elàsticidade duma startup. Por isso, o quarto conselho é: mantenha sempre as coisas enxutas, simples e baratas. Não tenha uma sala própria; prefira se misturar num espaço aberto com a equipe, de maneira a fàcilitar os contatos e as faíscas de idéias. Elimine todas-todas-todas as barreiras cognitivas e físicas à comunicação desimpedida. Prefira móveis mòdulares e despojados que possam se arrastados em diferentes configurações pela sala.
Não se meta-a-besta com móveis caros, design, decoração e paisagismo. Nada-disso agrega valor ao cliente! DIvisórias de drywall, refeitório exclusivo, banheiro privativo, vagas de carro demarcadas no estacionamento, salinhas reservadas — jogue no lixo toda essa merda! Uma startup deve funcionar num ambiente de absoluta promìscuidade e companheirismo, franqueza e àgilidade. Então, jogue no lixo toda essa merda física e moral que você trouxe do seu ambiente-de-trabalho anterior. Afinal, você não quer recriar aí um ambiente de segredinhos, de desconfiança, de rádio-peão, de sonegação de informações, de quintas-colunas e de polìticagem, quer? Além do mais, no início, é bem capaz que você nem tenha um ambiente físico para trabalhar. Acostume-se, portanto, a essa informalidade e virtualidade: isso faz parte da cultura startup. Se não gostar, aguarde o próximo concurso.
Até-mais-ver! Voltarei ao assunto!
¿QUEM É JOHN GALT?
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