CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 14
- Fernando Rogério Jardim
- 2 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
Sâo Bernardo do Campo, 2 de abril de 2016.
¿Como vai, Raquel?
Você me pergunta na mensagem por que há tão poucas mulheres empreendedoras por aí. Eu poderia lhe devolver essa pergunta com outras perguntas: ¿por que há tão poucos homens harpistas, nutricionistas, professores primários, assistentes sociais e pròtéticos dentários? Se você encontrar uma boa resposta, e que não contenha as palavras machismo, capitalismo, patriarcal, opressão e outros chavões semelhantes da esquerda decadente, favor enviá-la para o mesmo e-mail. Podemos encaminhá-la para a Real Academia Sueca, que cuida do Prêmio Nobel. Podemos inventar uma categoria só para você.
Entenda, Raquel, que eu não estou desdenhando da sua pergunta estúpida. Bom... na verdade, estou! O caso é que eu a considero um falso problema; uma daquelas pautas que só servem para excitar os ânimos duma militância hidrofóbica e desocupada, ávida por poder, pronta a farejar e explorar qualquer "contradição do sistema capitalista" e transformá-lo numa bandeira infame, numa guerra civil, num degrau feito de cadáveres de inocentes rumo à conquista do poder. Posso estar exagerando; mas essa pergunta esconde uma imbecilidade prèconceituosa: a de que o talento é desigualmente distribuído.
Pois é justamente o contrário que se observa. Não há nada mais aleatório e imprevisto que as coordenadas geográficas onde brotam o gênio humano. Claro: eu seria um idiota se dissesse que os estímulos famìliares, os bons exemplos da rua e da casa, o background cultural e econômico do indivíduo, sua formação escolar, etc. não interferem na disposição a empreender. (Caramba, Raquel! Eu sou sociólogo! Eu sei disso!) Mas a própria existência de empreendedores é a prova de que tais condições e circunstâncias sociais podem condicionar, mas não podem determinar o destino da pessoa. Há algo que é culpa dela.

Você pode achar que isto é um mantra coxinha; que é uma maneira sórdida de escamotear as desigualdades sociais, raciais, sexuais e blá-blá-blá. Mas... (sente-se bem na cadeira para ouvir o que eu vou lhe dizer) a beleza do capitalismo está justamente em ignorar esses condicionantes biológicos e devolver a você! a você! a responsabilidade por tudo o que lhe acontece, por tudo o que você conquista. Afinal, para o mercado, pouco importa que o pato seja macho, desde que o omelete seja feito. Noutras palavras, pouco importa que o empreendedor seja XX ou XY, desde que ele entregue o produto 'x' ao cliente 'y'.
Raquel, para satisfazer sua curiosidade òciosa, eu poderia apelar para um certo "instinto animal" que, presente nos homens e ausente nas mulheres, levaria os primeiros a empreenderem e as segundas a se acomodarem. ¿Você se sentiria à-vontade com uma resposta dessas? Eu também poderia apelar para a metafisica sociológica, culpaneo a falta dum "estímulo" ou "aprovação" social para que as mulheres abram o próprio negócio. Mas vem cá: ¿você já ouviu falar numa entidade chamada Empreendedorismo Rosa (clique) e noutras tantas que há por aí, formadas só por mulheres talentosas e inventivas?
Não vem que não tem, Raquel! Esse tipo de argumento vagabundo cai como uma luva para que fracassados dêem desculpas retroativas para seu próprio insucesso, projetando sua culpa em entidades abstratas e impessoais, como "o sistema", "o machismo", "o mercado", etc. As únicas entidades que realmente ferram com a vida dum empreendedor são o Estado e a burrice covarde — uma intituição nacional, aliás! No mais, levante a bunda da cadeira, pense num cliente e num valor que você poderá lhe entregar em poucos meses. O resto é delinqüência intelectual de militantes hidrofóbicos ou teóticos da conspiração.
Abraços! Atitude! Encontre seu lado Rutinha.
Fernando.
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