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CAPÍTULO 37: A UBERIZAÇÃO E O CEMITÉRIO DOS INTERMÈDIÁRIOS

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 18 de abr. de 2016
  • 5 min de leitura

Conheça os princípios das tecnologias que estão sepultando os mortos-vivos que nos cercam.

Olá, supositórios do supostamente! As coisas andam tensas, né? Mas fiquem calmos: se não piorou, é porque não acabou. [Quer dizer: temos tempo; e tempo é tudo o que resta aos fracassados & moribundos. (Hoje eu acordei òtimista)]. Vejam: na semana retrasada, eu tentei enganá-los como se vocês fossem um punhado de eleitores petistas, colocando um título bem populista & cabuloso no Capítulo 35 — algo como "cinco passos para você abocanhar toneladas de dinheiro como se não houvesse amanhã". Sim, vocês acharam que aquilo era uma piadola. Mas experimentem olhar as seções de negócios das livrarias: vocês verão títulos bem parecidos com aquela enormidade. Há remédios para tudo — do tratamento da impotência ao controle da calvície, da gestão do tempo ao enriquecimento (lícito ou ilícito). E o melhor: tudo fica na dependência do pensamento positivo e da prògramação neurolingüística. Ok!

Os quatro ou cinco leitores do Start-Aspas sabem que eu não ensino essas mandraquices aqui. Vodu é pra jacu! Não há respostas fáceis nem prontas no maravilhoso universo empreendedor, "onde tudo pode acontecer" (Lucas Silva & SIlva). Aliás, como consultor de negócios iniciantes, eu-mesmo sinto uma baita trava moral no momento de cobrar meus serviços, uma vez que: 1) meus clientes não passam dum bando de jovens ferrados e 2) eu não tenho como garantir os resultados duma coisa tão incerta quanto o empreendedorismo e microempresas. (Eu não sei, aliás, como os advogados, em situação semelhante, conseguem cobrar honorários advocatícios sobre causas com resultado inseguro. Bom... para eles é fácil: advogados não têm consciência, pois não são realmente humanos). Resumo: ninguém sabe o que se passa desse lado. Para quem quiser rotinas & certezas, eu aconselho prestar concurso para o Banco do Brasil!

Mas... Suponhamos que você seja um Juventino, um Cabacildo: um universitário que prètenda empreender e tenha inclinação para a tecnologia. Se você me perguntasse quê inovações desenvolver para ganhar um bilhão de dólares antes dos trinta anos, bom... depois de me recuperar das cãibras na barrida de tanto rir na sua cara, eu lhe ìndicaria o seguinte: "Pequeno gafanhoto, se você quiser ficar rico, deverá desenvolver uma tecnologia que pròponha (para você e para o cliente) pelo-menos três das sete características a seguir: anote: escalabilidade, pulverização, mòbilidade, enxugamento, aproveitamento microscópico, customização e desintermèdiação." Depois de dizer essas sete palavras enigmáticas, eu sumiria detrás duma fumaça de bamba ninja e deixaria você com uma pulga atrás da orelha do piolho. Mas fique tranqüilo: eu explicarei neste e no próximo capítulo o significado dessas sete palavras.

Antes-de-mais-nada, repare: todas, absolutamente todas as tecnologias bem-sucedidas da atualidade são tecnologias que eliminam os malditos intermèdiários. É uma òbviedade auto-evidente que as pessoas, hoje-em-dia, são apressadas, muquiranas e bem-informadas demais para admitirem perder dinheiro com atravessadores que só farão o trabalho que elas-mesmas, com as tecnologias da informação atualmente disponíveis, poderiam fazer sòzinhas e quase de-graça. Portanto, inovações (com destaque para os aplicativos) que ligam diretamente o fornecedor ao consumidor — seja colocando uma plataforma virtual no lugar dum intermèdiário antes físico, seja simplesmente mandando para o colinho do capeta esse mesmo intermèdiário — têm grandes chances de bombar na zabumba. Portanto, se você quiser enriquecer inovando, vai aqui minha dica: mate um intermèdiário por dia! (Tècnicamente).

As tecnologias & plataformas de educação à-distância, quando não estão nas mãos de piratas do diploma que brincam de administrar universidades, são inovações desse tipo: elas ligam diretamente os professores aos estudantes, os produtores aos consumidores de conhecimento, tirando do caminho essas enrigecidas & ultrapassadas instituições intermèdiárias que chamamos de faculdades. Também os serviços de certificação digital tiram do caminho do pobre-diabo (cidadão) esse panteão kafkiano de despachantes, documentistas, avalistas, auditores e cartòrários (ao menos parte deles), tornando mais fluidos os procedimentos burocráticos & decisórios. Da mesma forma, o Youtube e os podcasts tiraram as emissoras e as gravadoras dum caminho que hoje une diretamente os produtores aos seus ouvintes e audiências — que também se tornaram produtores de outros ouvintes e audiências.

Não é exagero afirmar (e não sou eu o primeiro a afirmar) que o legado da Internet como-um-todo é sua capacidade de assassinar os intermèdiários. Essa lista de mortos é imensa; sua mera citação cansaria o leitor e excederia o espaço deste capítulo. Bastaria citar aqui um exemplo. Saiba o leitor mais jovem (este que vos fala tem trinta-e-sete anos) que, no tempo em que os dinossauros dominavam a terra e os petistas faziam dos humanos seus escravos (bom, ainda o fazem), realizar trabalhos escolares envolvia uma multidão de outras pessoas. Primeiro, você precisava ir até um negócio chamado biblioteca. Para chegar lá, você pegava um ônibus, no qual já encontrava, de-cara, dois intermèdiários: o motorista e o cobrador (sem falar da empresa de ônibus). Chegando à biblioteca, você fazia um cadastro com a recepcionista e depois se dirigia à bibliotecária, com uma ficha amarelada contendo a referência do livro.

¿O leitor ainda está acordado? Sigamos. Já estamos na quarta ou quinta intermèdiária, né? Então, tendo em mãos aquela ficha, a bibliotecária seguia tèdiosamente até as estantes, retirava de lá o volume escolhido e lhe entregava. Se você tivesse sorte, sua biblioteca contaria com uma máquina de fotocópia, operada por um sexto ou sétimo intermèdiário que lhe còpiava as páginas marcadas. ¿Acabou? Não! Sossega essa pitomba! De volta para casa, você passaria novamente por quase todos aqueles intermèdiários: a bibliotecária, a recepcionista, o motorista, o cobrador, a empresa de ônibus... E entregaria seu trabalho amarrotado para a derradeira intermèdiária de todo esse processo infernal: sua professora mal-amada, fumante e histérica da escolinha da prefeitura. (Nota bene: estamos bem antes de 1998, quando còpiar páginas de livros ainda não mandava ninguém para o paredão ou para a fogueira).

Hoje... Bom, hoje, eu nem preciso lhes explicar como é o processo — vocês já sabem. As tecnologias da informação permitiram que duas coisas maravilhosas acontecessem: 1) tudo — imagens, músicas, filmes, textos — passaram a ser traduzidos e convergiram num único substrato digital de zeros e uns, simplificando o armazenamento e a transmissão desses dados; e 2) a virtualização desses dados permitiu que eles se libertassem do suporte matèrial que os prendia às coisas e aos corpos, dispensando a presença física das duas pontas da relação comèrcial: o ofertante e o demandante. Estes, agora soltos, precisavam de plataformas interativas ou de coworking. Daí surge essa vegetação luxùriante de aplicativos, redes sociais, geringonças de comunicação, etc. Do outro lado da conta, num processo descrito por Shcumpeter como destruição criadora, contemplamos hoje um cemitério de... intermèdiários.

Continuarei esse assunto. Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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