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DICA DE LEITURA 29

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 4 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

Olá, boreais e austrais! Respondam-me uma coisa: ¿vocês já tiveram a impressão a jato-de-tinta de terem nascido na latitude errada? Pois eu tenho essa impressão todas as vezes que o termômetro bate trinta graus ou quando eu sou roubado, enganado e humilhado pelo meu governo. Mas saibam que, após ler com grande prazer e não-menor inveja o livro "Os segredos do vale do silício: o que você pode aprender com a capital mundial da inovação", de Deborah Piscione, eu descobri que também nasci na longitude errada e preciso, com alguma pressa, emigrar deste suposto país.


A autora é uma jornalista de Washington que se mudou para o Vale do Silício e, lá, teve o que os antropólogos denominam estranhamento: o impacto dum forasteiro com uma cultura estranha — cultura esta que é invisível para seus próprios membros. Esse estranhamento contrasta, sublinha e evidència os traços dum certo grupo. Este, acho, é o segredo da própria autora: se ela fosse uma insider do Vale do Silício, é provável que algumas características daquele ambiente de inovação que ela descreveu com tanta sagacidade, passar-lhe-iam despercebidas.


O estranhamento permite um olhar não-viciado ao pesquisador. Quando nos sentimos um peixinho fora do aquário, a primeira pergunta que nos vem a mente é: que porra é essa? Em seguida, a necessidade de compreensão sobre o mundo que nos rodeia e a necessidade de orientação para a vida nele incentivam a curiosidade e o descobrimento. ¿E o que a dona Deborah Piscione encontrou no Vale do Silício? — Uma cultura que equilibra densidade e abertura, mèritocracia e informalidade, talento e loucura, aliada a uma infraestrutura com universidades, bancos, centros de pesquisa e startups.


Esse conglomerado, esse adensamento de recursos preciosos torna o Vale do Silício um local único, sem par no Brasil. É essa especificidade que a autora detalha e explica brilhantemente neste livro. Na primeira parte (págs. 2-48), a autora trata das mudanças sociais responsáveis pela emergência do fenômeno empreendedor e dos fatores culturais, políticos, tecnológicos e econômicos responsáveis pelo surgimento do Vale do Silício: a Stanford University, a HP, o capital-de-risco, os setores informático e eletrônico, etc. Aqui você já começa a entender por que esse lugar é especial.


Na segunda parte do livro (págs. 52-236), Deborah Piscione vai detalhando esses elementos. Destaco o capítulo sobre a Stanford University. É nele que você percebe com tristeza o quanto as universidades brasileiras — aparelhadas por vagabundos e delinqüentes intelectuais de extrema-esquerda, transformadas em madrassas do marxismo mais jeca e rancoroso — estão distantes e manter-se-ão incapazes de formar uma mão-de-obra mìnimamente qualificada para enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. Esta é a parte mais triste do livro — triste para nós, é claro!


O livro é uma porrada do início ao fim. Deborah Piscione tem um texto que nos faz maldizer a eventual interrupção da leitura. Experimente ler o capítulo décimo-segundo (pág. 199-217) enquanto passa por uma escola pública brasileira, e tente resistir à tentação de estourar os próprios miolos. Experimente ler o capítlo sétimo (pág. 127-142) e depois me responda se o Google não é uma puta empresa e não vai mesmo — e merecidamente! — dominar o mundo. Embora seja uma alienígena no universo startup, a autora conseguiu captar todos os pontos centrais dessa cultura.


O único porém do livro é que a autora, às vezes, escorrega na explicação dos temas mais complexos: modelos de negócios, engenharia, financiamento e pròpriedade intelectual. Quer dizer: justamente nas passagens em que precisamos duma didática mais cuidadosa, ela nos falta; o texto fica denso demais, com informação compactada e redação capenga. No mais, se você quiser desencantar ou envergonhar um aluninho deslumbrado da Poli-USP, fazendo-o sentir-se um estudante da Universidade de São João da Coisa Mole, dê-lhe este livro. Ele vai adorar... "fugir deste lugar, baby!"



PISCIONE, Deborah Perry. "Os segredos do vale do silício: o que você pode aprender com a capital mundial da inovação." São Paulo: HSM, 2014. 286 páginas. R$ 49,90.



DEPOIMENTOS:


"O Brasil é um vale de lágrimas. Paremos de chorar e tragamos o silício. Pronto."


Mestre Casário Viveiro, analista de sistemas e peão de obra.



"Na minha opinião, pouco silício e muito silicone os males do Brasil são. Tenho dito!"


Doutora Molly Durant, estrategista, especialista e umbandista.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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