CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 19
- Fernando Rogério Jardim
- 7 de mai. de 2016
- 2 min de leitura
São Bernardo do Campo, 7 de Meio de 2016.
Caro Felipe,
Você me fez uma pergunta à queima-roupa. Então eu lhe darei uma resposta espetada na baioneta. Repare: há em toda empresa dois tipos de funcionários: 1) aqueles que estão prèocupados em fazer-acontecer, pouco se lixando para as posições & pruridos das outras pessoas; e 2) aqueles que estão prèocupadas com o que pode acontecer com as posições & os pruridos das outras pessoas (e sobretudo os deles-mesmos), caso os primeiros consigam mesmo fazer-acontecer. Resumindo: nas empresas, há os tarefeiros e os políticos.
Os tarefeiros estão prèocupados em fazer a òrganização crescer, a-despeito das outras prèocupações. Eles entendem que os outros funcionários também serão beneficiadas pelo crescimento da òrganização, uma vez que pertencem a ela, poxa! Essas são as formigas da empresa. Já os políticos estão prèocupados em usar a òrganização como casulo para o próprio ego. ¿E o que a lagarta faz antes de entrar no casulo? Come-come-come! Destrói tudo à sua volta. Fica na miúda por um tempo. Depois, voa radiante, batendo as asinhas.
As grandes empresas — onde a população agigantada de funcionários permite o anònimato, a privacidade e o esconderijo — são o habitat natural dos políticos. Escondidos nos meandros do òrganograma, como a poeira que se acumula nos degraus, esses parasitas exercitam com deleite seu único talento: manterem-se em seus carguinhos gostosos. (Felipe, repita essa frase, com a voz dos Teletubbies: "carguinho gostoso! carguinho gostoso!"). O político é um fetichista tarado pelo efeito, e não pela causa; pelo cargo, e não pela obra.

Entretanto, as pequenas empresas — e sobretudo as startups — não duram uma semana com políticos em sua equipe. (Aliás, meu lema é: salve uma startup: mate um coronelzinho corporativo! Essa é a minha versão de viva e deixe viver.) Uma startup deve ser inteira composta de tarefeiros, fanàticamente comprometidos. E o tarefeiro, Felipe, é o cara que não faz charminho para trabalho braçal, tèdioso, nojento. O tarefeiro é o cara que não entra em depressão só porque tomou um esporro do cliente. O tarefeiro é pau-pra-toda-obra.
Sabe, Felipe, há uma frase curiosa (atribuída ao Ronald Reagan) segundo a qual "você poderá realizar o que quiser na vida, desde que não espere levar o crédito." O político não quer realizar; só quer levar o crédito. Mas o tarefeiro é o cara que não precisa do crédito alheio, pois tem, dentro de si, um alto-falante motivacional, uma voz interna que lhe diz: "você está certo! vá em frente, meu filho!" O tarefeiro tem luz própria e está atarefado demais para fazer egotrip. Sua satisfação íntima vem do cumprimento excepcional duma missão significativa.
Isso não significa que o tarefeiro não faça nada por ego. Muitíssimo pelo contrário! Ele faz tudo por ego. Afinal, não há nada mais egótico do que brincar de construtor de impérios. Acontece que, em vez de transformar isso numa demência socialmente improdutiva, o empreendedor tarefeiro transforma seu ego num motor interno, movido a conquistas & realizações, e não a aplausos & elogios. Portanto, Felipe, permita-me responder a sua pergunta com um conselho: não caia no teatrinho do sucesso. Nele, só são encenadas comédias ruins.
Quebre a perna!
Fernando.
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