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DICA DE LEITURA 31

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 18 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

Olá, sentinelas da esperança natimorta! Voltei com mais uma dica de livro. E este é para aqueles que, como eu, abomina frases-feitas, lugares-comuns e todo o arsenal babaca de òbviedades ensaboadas que, muitas vezes, polui os livros de gestão, fazendo deles uma salada insossa de toyotismo com baboseira New Age. (Exemplo: tente ler a sonolenta & retardada série de livros "Atitude", de Justin Herald). E tem mais: a geração bundona & afetada que hoje dirige as startups têm o estômago sensível demais, e não digere bem uma frase gordurosa, uma dica apimentada. São garotos mimados, criados pela vovó espírita, educados por maconheiros comunistas e infiltrados por essa insidiosa inquisição chamada patrulha polìticamente correta. Há pessoas que lêem meus textos aqui e saem dizendo que eles têm um vocàbulário excessivamente truculento. Que bom que vivemos numa democracia e essas almas puras não comandam pelotões-de-fuzilamento, né? Ufa!

A leitura que vou lhes ìndicar hoje é o clássico "Vire sua empresa do avesso: desafie as regras e construa um empreendimento divertido e lucrativo", de Robert Townsend. Já lhes digo que, apensar do título do livro ser ruim e enganoso, fazendo-o parecer mais um manual babaca de auto-ajuda, o tom do livro é o dum manual politicamente incorreto de sobrevivência na burocracia empresàrial. Antes-de-mais-nada, se você trabalha em òrganizações hierarquizadas, burocratizadas e setorializadas, você vai adorar esse livro. Townsend abomina tudo-isso, e derruba com seu humor franco — entre o sarcástico e o rabugento — várias das "verdades estabelecidas" do mundo corporativo. Townsend não faz concessões a modinhas e sistemas. Ele retorna ao bom senso que, afinal, ergueu as maiores empresas dos EUA. Para os ouvidinhos de pura seda dos anos 2000, este livro, escrito há cinqüenta anos, pode soar sexista, classista ou coisa-que-o-valha. ¿Quer saber? Foda-se!

Dou-lhes uma idéia do tom do autor. Há no livro frases como: "se o CEO não se aposentar por conta própria depois de cinco anos, mande-o embora" (pág. 41), "não peça para os funcionários subsidiarem o ego dos figurões do alto escalão" (pág. 47), "[os técnicos de informática] estão criando uma casta sacerdotal mística com seu ritual cheio de lenga-lenga para não deixar você saber o que eles estão fazendo" (pág. 50), "consultores são pessoas que pedem seu relógio emprestado para lhe dizerem que horas são, e depois vão embora com seu relógio" (pág. 58), "a economia está abarroada de instituições que não são centros de convicção, mas monumentos para um ego. [...] Um monte de dinheiro é investido nelas. Um bando de gente boa trabalha nelas -- sem resultados." (pág. 63), "sim, demita odepartamento de compras inteiro: ele custa dez dólares em entusiasmo por cada dólar economizado por sua perspicácia em compras" (pág. 70). Isto apenas até a página setenta.

A leitura de "Vire sua empresa do avesso" é delìciosa por três boas razões. 1) O livro é òrganizado como um dicionário, em verbetes com temas diversos: acionistas, bagagem familiar, contatos, desculpas, ejaculação precoce, etc. Se você levar mais de dez minutos lendo cada verbete, você tem problemas neurológicos. 2) Townsend é engraçado — do tipo sarcástico, violento, rabugento. Ele quer salvá-lo do afogamento corporativo; e não se importa em desacordá-lo com porradas, desde que isto o permita levá-lo em segurança até a margem. Em todo o livro, temos a impressão de estar na sala dum empresário porra-louca, um velhinho bem-sucedido mas excêntrico, que lhe conta seus causos e lhe dá conselhos práticos e inusuais. 3) Aliás, o livro dá dicas práticas, com passo-a-passo, calcadas na evidente experiência do autor, sem abstrações nem patacoadas de auto-ajuda.

Townsend é um coach da pá-virada que não merece apenas ser relido, mas estudado e decorado. Entre uma gargalhada e outra, entre uma estupefação e outra, confesso que, lendo o livro, eu senti uma nostalgia esquisita pelo que não vivi: uma época de líderes pró-ativos, realizadores, naturalmente carismáticos, heróicos no sentido humano da palavra... Devidamente exorcizado das burocráticas, soviéticas e kafkianas òrganizações de hoje-em-dua, este espírito ainda viceja nas startups, nas pequenas empresas e nas iniciativas individuais (págs. 213 e 215). É por isso que a releitura de Townsend é tão nutritiva — seja porque suas dicas só são mesmo viáveis em pequenas empresas, seja porque o autor nos oferece munição para nossa cruzada diária contra processos estúpidos e protocolos ineficientes, seja ainda porque Townsend, com suas críticas ácidas, dá-nos um contra-exemplo de tudo o que uma startup deve ser: ágil, enxuta, democrática e descomplicada.


TOWNSEND, Robert. "Vire sua empresa do avesso: desafie as regras e construa um empreendimento divertido e lucrativo." São Paulo: Saraiva, 2013. 223 páginas. R$ 39,90.



DEPOIMENTOS:


"A empresa em que trabalho é como um quadro abstrato: virada do avesso, ela ainda não faria nenhum sentido."


Margarete Magalhães Meganha, artista plástica, consultora e homeopata.


"Virar uma empresa do avesso é para os fracos! Eleja uma terrorista retardada e vire um país inteiro do avesso."


Professor Felisberto Boquirroto, estrategista de estratagemas estratosféricos.

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