CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 21

São Bernardo do Campo 21 de Maio de 2016.

Tiago, porra!

Existe um momento da vida dum jovem empreendedor em que ele precisa virar um homenzinho e abandonar a nave-mãe. Essa nave-mãe pode ser a faculdade, a incubadora, a aceleradora ou a casa do papai. A incubadora ajuda o empreendedor a tomar essa decisão difícil, pois elas simplesmente o graduam (o expulsam). Estando pronto ou não, após dois ou três anos, é rua! As faculdades também ajudam a saída: forme-se em quatro anos, jubile-se ou vá à bancarrota pagando mensalidades. O rompimento com as aceleradoras é sempre mais traumático, pois alguém vai trair alguém. A saída mais difícil é, sem dúvida, da casa do papai.

Não é à toa que sua geração, Tiago, é chamada de geração-canguru: demoram para sair das entranhas da mamãe; mesmo crescidos, continuam enfiados no buxo dela; pensam que podem saltar etapas da vida e, quando são contràriados, ficam invocadinhos e saem dando coices no primeiro que vir pela frente. Então tá então. Mas não basta sair da nave-mãe, Tiago: é preciso que a nave-mãe saia de você. Traduzindo: não basta abandonar o meio dentro do qual você se desenvolveu como empreendedor; é preciso também, aqui fora, livrar-se dos maus hábitos adquiridos na incubadora, na aceleradora, faculdade e na casa da mamãe-papai. Eu explico.

Eu notei alguns "ruídos de fundo" na sua mensagem. Pareceu-me que você ainda traz consigo alguns valores típicos do meio dentro do qual você foi criado: a universidade pública-gratuita-e-de-qualidade-para-todos. Desde logo, entenda o seguinte: eu não estou aqui para julgar você; eu não prètendo que você professe outros valores morais... ou pior: que viva uma vida moral dupla. Só estou dizendo que algumas atitudes e hábitos de pensamento poderão sabotar suas prètensões empreendedoras mais rápido do que você consiga dizer "não vai ter golpe" com as patinhas dianteiras levantadas. Papo reto: reavalie seus valores ou pense noutra carreira.

Responda-me se eu estiver errado, mas parece que você tem nojinho de dinheiro. Você tem belos ideais — e o serviço que você prètende oferecer (que não revelarei nesta resposta pública por motivos óbvios de sigilo) revelam esses seus ideais. Mas vem cá: a-menos que você realizar fotossíntese, coma brisa ou prètenda tungar os cofres públicos, ¿você poderia me explicar como fará para pagar suas contas, enquanto persegue seus lindos ideais de justiça social? Pois bem, Tiago. ¿Você sabe qual é a diferença entre o capitalismo e o socialismo? É que, no capitalismo, você trabalha para ganhar a vida; e no socialismo, você trabalha para não perdê-la.

Essas são as regras do jogo. E para ganhar a vida no maldito capitalismo pressor, você precisará fazer corpo-a-corpo, tomar muito não! na fuça, alinhavar interesses, envolver-se com pessoas com as quais, talvez, você não pegaria nem carona até a esquina. ¿Você está pronto para isso, Tiago? Eu acho que não, pois veja só a forma como você espera anùnciar seu serviço: escrevendo papers em revistas acadêmicas ìndexadas. Francamente! ¿Quem você acha que lê revistas acadêmicas ìndexadas, Tiago? ¿Seus futuros clientes? ¿Investidores, fornecedores? Você só pode estar de brincadeira se acha que está e a sua estratégia de marketing!

Você passou cinco anos numa universidade pública ouvindo trololó de esquerdistas delinqüentes incapazes de produzir uma barra de sabão com a própria banha; incapazes de brigar por um cargo na iniciativa privada, aliás. São cinco anos vivendo num meio idêntico à sociedade cortesã do século XVIII, com seus títulos-de-nobreza, protocolos, protegidos e salamaleques. ¿Mas você acha que seus concorrentes vão se importar com seus artigos & prêmios quando estiverem bebendo sangue numa taça feita com seu crânio, Tiago? Você saiu da faculdade. Aleluia! Agora, por favor, cague a faculdade que ainda está dentro de você!

Saudações intestinais,

Fernando.

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