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DICA DE (NÃO-)LEITURA 33

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 1 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Olá, derivados & primitivos! Durante esse meu breve período de negligência de postagens aqui no blog Start-Aspas, durante o qual eu me mantive soterrado por burocracia acadêmica e mudança de residência, eu tive tempo apenas para criar minha versão do Oscar da literatura de autoajuda. Pois é com muito garbo, picardia & elegância que eu anuncio a vocês o Troféu Sucupira Dourada: um prêmio para os livros ruins que às vezes me caem às mãos. Quem já leu minhas resenhas a Justin Herald e a Michael Gerber, sabe que já espinaframos aqui duas obras merecedoras retroativas do Troféu Sucupira Dourada. Nunca é tarde demais para reconhecer & recompensar a falta de criatividade e capacidade. Afinal, sobrevivemos num país ainda governado por uma mulher que fracassou em tudo na vida — até como vendedora de bugigangas e terrorista!


Eu andei muito bonzinho e edulcorado nas últimas semanas, com uma série de livros que eu tive a boa fortuna de adquirir para resenhar. E isso deve ter despertado suspeitas em meus quatro ou cinco leitores, segundo os quais eu andaria recebendo comissões das editoras por resenhas elogiosas. Pois bem. Por isso, eu resolvi mostrar meu lado cruel, meu coração barbado e meu espírito encardido. Selecionei três livros para espinafrar nesta e nas próximas semanas. Começo com “Estratégia de guerra”, um infeliz livrinho de Damrong Pinkoon. Consta que esse exótico escritor tailandês é um bem-sucedido empresário do ramo de poltronas. Então tá então. Se ele fabrica poltronas assim como escreve livros, eu temo pela ìntegridade bundística dos seus pobres clientes. Falando com franqueza, trata-se dum dos livros mais desnecessários e embusteiros que eu já li.


Folheando-o ràpidamente, a impressão que o livro nos desperta é: “oh! que maravilhosa diagramação! que belo projeto gráfico!” Mas bastam as primeiras páginas para vir à tona o caráter boboca, acàciano, trivial, óbvio, raso e vago do texto — que se mantém com uma consistência sufocante até o final da leitura. Felizmente, a quantidade impressionante de espaços vazios, textos em tópicos, figuras e quadros torna a leitura muito rápida: uma tortura tailandesa duas horas. Para vocês não pensarem que eu estou exagerando, farei um teste. Abrirei ao acaso uma página do livro e encontrarei certamente uma afirmação escrota-óbvia-imbecil. Lá vai. Abri na página oitenta-e-quatro, onde se lê a saborosa enormidade: “Se o produto tiver um preço alto, certamente atingirá um determinado tipo de consumidor. Você precisa pesquisar o grupo específico.” Porra, ¿sério?


Seguem outras passagens saborosas: “A maioria das grandes organizações trabalha passo a passo; trabalha de modo sistemático. Quanto mais complexo for o processo, provavelmente maiores as complicações serão” (pág. 93). “Uma organização sábia calcula a possibilidade de lucro e prejuízo antes de decidir um novo projeto. Uma organização sábia reconhece que todos os novos projetos devem ser lucrativos.” (pág. 78). Puta-merda! ¿É mesmo? Eu jamais chegaria a tamanha conclusão se o Conselheiro Acácio do Sudeste Asiático não me desse seu toque de mestre! Vocês podem imaginar que eu esteja de má-vontade com o tailandês, mas o livro inteirinho dele é recheado dessas afirmações escrotas-óbvias-imbecis. O único ponto forte do livro, que é seu projeto gráfico, muitas vezes, volta-se contra os leitores, porque torna confuso um texto que é, antes de tudo, apenas boboca.


Há mais duas coisas irritantes nesse livrinho, além do título enganoso e do visual pretensioso. Primeiro, a enumeração desnecessária e monga de frases com o mesmo início e forma, como se o autor tentasse nos submeter a alguma modalidade de hipnose tailandesa (vide págs. 8-11, 46, 130, 148-150, 171-175). Por fim, temos o uso de sinais matemáticos no lugar de conjunções ou prèposições, o que denota que o senhor Damrong Pinkoon é analfabeto, bastante disléxico ou severamente retardado. Um exemplo saboroso disto está na página cento-e-vinte: “Porém, agora o consumidor quer comprar + usar + experimentar nosso produto. Quando o consumidor vem para nossa loja e o vendedor não o trata bem + fica carrancudo + diz coisas erradas a eles = tudo o que os marqueteiros fizeram vai por agua abaixo, foi perdido.” Isso, prezados leitores, é um guru de gestão!



PINKOON, Damrong. “Estratégia de guerra.” São Paulo: Universo dos Livros, 2014. 192 páginas. R$ 24,90.



“Se sua estratégia de guerra for matar o inimigo de tédio, este livro será uma artilharia pesada para suas diabólicas intenções demoníacas.”

Doutor Pinto Caçula, estrategista, ilusionista e bufarinheiro.



Meu cachorro precisaria de três coisas para escrever um livro melhor que esse: tesoura, cartolina colorida e um terço da massa encefálica.”


Professora Marilene Camarilha, empresária e sacerdotisa.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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