CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 23
- Fernando Rogério Jardim
- 4 de jun. de 2016
- 2 min de leitura
São Paulo, 04 de Junho de 2016.
Presado (sic) Fabrício,
Qualquer pirralho de Ensino Médio sabe (ou deveria saber) que não é o prestígio do colégio onde ele estuda que vai colocá-lo numa boa faculdade. Se ele não meter a cara nos livros, se ele não estudar de-verdade, o cursinho não fará milagres, e o conhecimento não será absorvido por osmose reversa. Simples assim. O mesmo acontece com as faculdades. Uma faculdade pública de renome pode sim abrir muitas portas, mas não as manterá abertas.
Eu já trabalhei em lugares que àgilizavam seus processos seletivos simplesmente nem lendo os currículos dos càndidatos que não viessem da USP, da Unicamp ou da Unesp. Contudo, estando o sujeito lá dentro, a empresa continuava a exigir dele um padrão de serviço condizente com a qualidade da formação alegada. Caso contrário, rua! E isso é assim por um motivo simples: clientes compram produtos e serviços, e não a formação dos funcionários
Diz um velho ditado que uma grande herança é um defeito de nascença, pois acòmoda o afortunado, fazendo-o achar que aquele capital (financeiro ou simbólico) durará para sempre. Porém, há mais miseráveis entre ex-milionários de nascença do que sonha vossa vã sociologia. E há mais profissionais frustrados entre meus ex-colegas da USP do que mostra propaganda oficial, pela qual as universidades públicas se justificam para o contribuinte.

Bom... ¿Aonde eu quero chegar com essa conversa, Fabrício? É que muitos ambientes de inovação, criados apara hòspedar empreendedores novatos, acabam criando neles a mesma ilusão dos estudantes de instituições prestigiadas ou dos milionário de nascença: a ilusão do já ganhei! Isso é comum sobretudo nas aceleradoras. Calma, Fabrício! Há aceleradoras honestíssimas, que fazem um trabalho fantástico de pós-incubação.
Elas pegam um estudante e o transformam num empreendedor; pegam uma idéia e a transformam num empreendimento. E sim: prometem botar dinheiro naquilo e botam mesmo! Mas... há também muitas aceleradoras vagabundas, criadas na febre do empreendedorismo, que se transformaram em verdadeiras senzalas de startups. Elas enfeitiçam seus diretores, prometem-lhes mundos & fundos (principalmente fundos) e... nada!
E o pior de tudo: elas roubam suas a almas e jogam a casca fora. A alma do empreendedor é sua motivação; a motivação do empreendedor é a água do mercado batendo-lhe na bunda. Mas enquanto você imaginar que estará a-salvo da concorrência, protegido pelas asas da aceleradora e iludido com um investimento que nunca virá, seus concorrentes estão fazendo algo por si-mesmos: estarão prèparando um molho para comer com seu fígado.
Bom apetite para eles!
Fernando.
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