CAIXINHA DE FERRAMENTAS 33
- Fernando Rogério Jardim
- 16 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
Olá, modas & médias, mèdianas e quartis! Digam-me o seguinte, ó leitores: ¿vocês têm fome de quê? ¿Vocês têm sede de quê? Se vocês fossem largados numa ilha deserta — ou pior: em Osasco ou Diadema, como um Robinson Crusoé proletário — ¿quais seriam as primeiras necessidades aperreantes que vocês procurariam satisfazer? Lembrando: comida é água; bebida é pasto. A questão aqui é conhecer o que doerá primeiro; e quais são as necessidades cuja satisfação não poderá ficar para amanhã. A importância disso é que, oras, sendo seus consumidores & funcionários (aqueles que eu disse para você nunca contratar) humanos como você e, portanto, dotados das mesmas demandas & aspirações, medos & dores, esperanças & aperreios, é bom saber quê cenouras deverão ser sacudidas diante deles para que todos colaborem com seus planos diabólicos de domínio mundial.
Para isso, Abraham Maslow criou sua famosa Pirâmide da Hierarquia de Necessidades que leva seu nome. Da base ao topo, temos as sucessivas demandas reclamadas por colaboradores, consumidores, fornecedores e caras em geral. O interessante é que, segundo Maslow, a não-satisfação duma necessidade inferior impede a satisfação duma necessidade superior. Exemplo: se o cara não teve sua fome & sede satisfeitas, ele não se prèocupará em satisfazer suas necessidades de reconhecimento & autorrealização. Ele ficará preso no degrau inferior. Mas — e isso é um prato cheio para os marqueteiros e puxadores-de-cordinhas psicológicas — a satisfação duma necessidade básica levará o senhorzinho satisfeito, como diria Ortega & Gasset, a demandar coisas mais sofisticadas. Como diriam os Titãs: "a gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte."
Percebam que esta ferramenta não é realmente estratégica, mas de motivação. Então vamos-que-vamos. Na base da Pirâmide de Maslow, estão as necessidades mais importantes: as biológicas: alimento, abrigo, descanso são exemplos. Se você não comer, trepar, vestir, morar e dormir, além d'a sua vida miserável se assemelhar à do João Brasileiro Médio, você não pensará noutra coisa enquanto isso não satisfizer esses aperreios. Depois e acima disso, você vai querer se livrar do medo, da angústia e da incerteza. Daí vêm as demandas de segurança: estabilidade, certeza, garantia, tranqüilidade. Após encher a barriga e descansar, você vai querer se livrar dos bandidos, dos animais selvagens, das doenças, dos inimigos, das catástrofes. Você então erguerá muralhas, afiará armas, rezará para os deuses e — miséria das misérias — inventará o governo.
Até aqui, você satisfez necessidades matèriais, sem as quais você morreria. Daqui-para-frente, você sentirá o desejo de satisfazer necessidades simbólicas, sem as quais você se sentirá um sulfeto de pó-de-bosta. Daí você vai querer se enturmar com os mano, os truta, os parça, os cara e os véio. Você precisará de afiliação; sentirá a necessidade de pertencimento, de amar e ser traído. Você criará um grupo; adotará animais de estimação; encontrar-se-á com pessoas que-nem você; inventará assòciações, compadrios, comunidades e, por fim, criará as redes sociais. E lembre-se: sem que as necessidades anteriores (matèriais) estejam satisfeitas, isso-tudo lhe parecerá veadagem. Depois, vêm as necessidades de autoestima: você vai querer se sentir o pica das galáxias e, para isso, cobrir-se-á de enfeites e adornos, honras e títulos; desejará ter uma reputação.
Por fim, vêm as necessidades de autorrealização. Agora você deseja se superar, exceder seu potèncial, mostrar do que é capacho, criar e ser livre. A autorrealização tem tudo-a-ver com o empreendedorismo. Essa geração mimada & bodosa que vem por aí — e não por ser minada & bodosa — demandará crescentemente que seus empregadores lhe proponham superações, competições, desafios plausíveis, escaladas de carreira, etc. Gente que busca a autorrealização é fanàticamente mèritocrática; tende a desrespeitar hierarquias; é assertiva, prática e detesta formalidades, burocracias e procedimentos. Numa frase: a pessoa que já se encontra devidamente alimentada, protegida, enturmada e prestigiada, quer ser livre! Estamos falando do topo da cadeia alimentar laboral. As firmas e países que não oferecerem liberdade a essa gente perderão os melhores talentos do mercado.
Com a Pirâmide de Maslow é possível verificar que os mercados das sociedades modernas, que têm suas necessidades matèriais plenamente satisfeitas, valorizarão cada-vez-mais as empresas que se pròpuserem a satisfazer as necessidades simbólicas. Façam o teste: listem as primeiras dez empresas mais respeitadas, admiradas e valorizadas do mercado. Eu estou pensando em Google, Apple, Facebook, Samsung, Netflix, HP, IBM, Microsoft, Amazon e Toyota. ¿O que elas têm em comum, além de trabalharem com tecnologia? Resposta: elas são marcas fortes, quer dizer, elas garantem oferecer aos seus clientes autoestima, prestígio, liberdade, mobilidade, etc. Resumindo a conversinha: tudo o que está no topo da Pirâmide de Maslow está também no topo da pirâmide de valor do mercado. Portanto, crianças, ofereçam experiências e não commodities. Depois, não digam que eu não avisei!
Até-mais-ver!

Pirâmide de Maslow.
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