CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 26
- Fernando Rogério Jardim
- 25 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
São Paulo, 25 de junho de 2016.
Prezado Carlos,
Deixa eu ver se eu entendi direito seu plano idiota. Você quer entrar nos Estados Unidos com visto de turista. Antes do fim do prazo do visto, você prètende entrar com um pedido de mudança de status, agora para estudante. Isso lhe daria mais dois anos de permanência nos Estados Unidos, renovável por mais dois anos. ¿É isso, Carlos? Nesse meio-tempo, você — Carlos, o Esperto — prètende trabalhar feito um desgraçado, economizar um dinheirinho, viver na merda, dependendo de parentes, e tentar outra mudança de status, talvez, para o de empresário. ¿É isso, Carlos? Então vai, Carlos! Vai ser trouxa na vida!
Deixa eu lhe fazer algumas perguntas básicas — nada que um policial da imigração também não lhe faria. (Claro que o dito policial faria essas perguntas devidamente acompanhado dum doberman assassino, que, durante o interrogatório, rosnaria bem diante do seu rosto a cada sinal de mentira e paranauê). ¿Você acha que é o primeiro brasileiro malandro a tentar trabalhar ilegalmente nos Estados Unidos? ¿Você acha que a imigração amèricana não vai desconfiar do seu pedido manjado de mudança de status? ¿Você acha que ninguém vai lhe perguntar de onde você tira dinheiro para se manter "estudando" nos Estados Unidos?
É, Carlos... porque se você não sabe, o visto de turista não lhe dá o work permit — que é a permissão para trabalhar nos Estados Unidos. O visto de estudante, idem! O visto de missionário, idem! Eu também imagino que, findo o prazo do visto, você — Carlos, o Ousado — ficará na miúda, tal como outros onze milhões de ilegais na América, imaginando que a imigração jamais o encontrará. Você é mesmo invisível, né? Carlos: o Correria. Você entregará para seu empregador o número do seu tax id, sabendo que ele tem a mesma seqüência do social security — que você não tem. Seu empregador não perceberá a diferença, né, Carlos?

Você é esperto, Carlos! Sabe... eu torço por você! Eu torço para que a imigração prenda você só depois das seis horas da manhã, quando você estiver vestido. Pena que o seu destino não dependa da minha torcida. Então, eu vou lhe dizer o que vai acontecer com você, Carlos. Primeiro, suponhamos que a imigração não desconfie do seu plano besta de trabalho ilegal. Lembre-se: visto de turismo ou de estudo não lhe dá o work permit. Quando seu empregador tentar lançar impostos trabalhistas no seu nome, ele não conseguirá, porque você não tem o social security, mas sim o tax id, que é similar ao nosso CPF, e até os ilegais têm.
Isso vai disparar um alerta naquilo que, nos Estados Unidos, é a Receita Federal deles. Eles terão acesso ao seu contrato-de-trabalho, e perceberão que você — Carlos, o Operoso — com visto de estudante estourado, está ilegal no país. Eles abrirão um processo de deportação contra você, Carlos. E além d' eles despacharem você e seus panos-de-bunda para o Brasil no primeiro vôo que encontrarem, você tomará um gancho de três a dez anos sem poder pôr os pés nos Estados Unidos. Em alguns estados, como a Flórida, qualquer amèricano que tiver lhe ajudado a permanecer ilegal, poderá puxar uma cana de até cinco anos! Bacana, né?
¿Tá bom para você, Carlos? ¿Sua aventura na terra do Mickey Mouse lhe parece engraçada agora? Mesmo supondo que a imigração nunca lhe pegue, suas oportunidades de trabalho ficarão limitadíssimas, por causa do seu status de ilegal. Você mofará nalgum subemprego desgraçado, fugindo da imigração e correndo o sério risco de parar num daqueles albergues sem calefação, onde você e sua família congelará em beliches com pessoas do mundo inteiro, com costumes do mundo inteiro, com "hábitos de higiene" do mundo inteiro. Você implorará para que o denunciem, para você voltar para o Brasil. Claro: isso se você não estiver preso.
O aviso está dado Carlos! Vai ser trouxa lá longe!
Fernando.
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