DICA DE LEITURA 38
- Fernando Rogério Jardim
- 6 de jul. de 2016
- 4 min de leitura

Olá, capetinhas do Satanás! (Hoje eu cheguei chegando). Sabem... os cinco ou seis leitores do blog Start-Aspas andaram reclamando que minhas resenhas de leitura estavam ficando tão extensas quanto os próprios livros ìndicados, excedendo os oito parágrafos tradicionais das minhas postagens. Então tá bom. Que vão todos ao diabo! (Brincadeirona). Tentarei ser mais sucinto daqui-em-diante. Prometo coisa nenhuma! Mas vamos ao que interessa. Vocês conhecem minhas polêmicas opiniões (polêmicas como mamilos) a-respeito de planos-de-negócio. Em síntese: são longos e chatos; geralmente, tornam-se obsoletos assim que são impressos; nenhuma viva alma os lerá; são baseados em números inventados; são planos para um futuro que se tornará diferente quando o futuro chegar; são um desperdício de talento e trabalho; têm exigências de informações que nem todas as startups conseguem descobrir; há formas mais ágeis e simples de se modelar um negócio.
Mesmo-assim, recentemente & a contragosto, eu fiz aqui uma série de capítulos seqüènciais esmiùçando essa má literatura. Eu disse que os planos-de-negócio são úteis em duas situações: 1) quando você não entende bulhufas de modelos-de-negócio e precisa dum guia (muleta) para orientá-lo na captação de informações estratégicas importantes para a sua empresa; e 2) quando esse documento lhe é exigido por uma incubadora-de-empresas ou por um investidor-anjo, como condição sine qua non para o recebimento de investimentos ou outros apoios. Exceto nessas duas situações, se você não tiver intenção de se hòspedar numa incubadora, ou se for financiar seu empreendimento via bootstrapping (recursos próprios), esqueça os planos-de-negócio! Houve um fetiche por eles na década passada. Passou! Prefira métodos mais rápidos e baratos, como o da startup enxuta, o model canvas e as técnicas de design thinking — todas-elas ensinadas aqui, neste blog de meu-deus.
Mas caso vosmecê se enquadre nas duas situações supracitadas, eis aqui mais um guia para orientá-lo na elaboração dos famigerados: "A nova geração de empreendedores: guia para elaboração de um plano de negócio", de Fernando César Lenzi. Nada mais claro que o título, não? O livro de Lenzi está estruturado em cinco capítulos. No primeiro capítulo (págs. 5-16), ele situa o empreendedor em seu macrocosmo, lançando algumas informações (triviais e batidas) sobre o tema. Ele também define o que é ser um empreendedor, mencionando também as principais dificuldades enfrentadas por ele no Brasil. No segundo capítulo (págs. 17-41), ele continua com o mesmo assunto do capítulo anterior, concentrando-se na desconstrução de alguns mitos sobre os empreendedores e aproveitando para listar as competências necessárias para ser bem-sucedido nessa área. Até aqui, o livro não acrescenta nada de novo às já batidas ladainhas sobre o assunto.
O bacana, porém, é que o autor termina este e o próximo capítulo com uma breve série de exercícios de "autoconhecimento empreendedor", de modo a que o leitor faça um mindset e òrganize suas idéias sobre a missão, a visão, os valores, as metas, os sonhos, os propósitos, as atitudes e a iniciativa de empreender. O terceiro capítulo (págs. 42-61) é uma prèparação para o plano-de-negócio, que está no quarto capítulo. O autor nos convida a idèntificar e a delinear melhor nossas idéias de negócio, transformando-as numa oportunidade viável por meio duma série de técnicas de ideação e exercícios de criatividade. É uma pena que o autor passe tão ràpidamente e não desenvolva essas dicas: ele preencheria uma brecha enorme dos livros sobre empreendedorismo, que é o ensino de técnicas práticas de ideação, criatividade e prospecção de oportunidades. No quarto, penúltimo e mais logo capítulo (págs. 62-142), temos o cerne do livro, que vem-a-ser o modelo do plano-de-negócios.
Eu sinceramente não gostei da seqüência adotada pelo autor para as seções do plano. Achei-as confusas e inusuais. Prefiro as seqüências adotadas por Dornellas [2015, págs. 126-179] e por Dolabela [2008, págs. 249-290]. Elas me parecem mais enxutas e didáticas — além de serem as seqüências que eu mais encontro nos planos-de-negócio que avalio. Mesmo-assim, está tudo ali: as metas do negócio, o sumário executivo, a análise de mercado, a descrição do negócio, o composto de marketing, os processos de gestão, a viabilidade econômico-financeira, a conclusão e os apêndices. No final do capítulo (isso foi legal), o autor resumiu o trabalho com as dez etapas do plano-de-negócio (págs. 127-142). Por fim, o quinto e último capítulo (págs. 143-147) — curtíssimo e deslocado — é uma espécie de prèparação de autoajuda para o caso de tudo dar em merda. Em síntese, o livro de Lenzi não é ruim. O problema é que há alternativas melhores ao que ele se propôs.
LENZI, Fernando César. "A nova geração de empreendedores: guia para elaboração de um plano de negócios." São Paulo: Atlas, 2009. 165 páginas. R$ 56,00.
DEPOIMENTOS:
"Tenho uma prima que se fechou no quarto para escrever seu plano-de-negócio... e nunca-mais saiu de lá. Todas as sextas-feiras de lua-cheia, nós ouvimos seus gemidos de desespero: ai que dor! ¿cadê meu investidor? ai que dor! ¿cadê meu investidor?"
Zèzinho Mulato, contador de histórias e desocupado.
"Reza a lenda que, se você ler seu plano-de-negócio de traz pra frente, com o CD do Wesley Safadão tocando, com um ovo de codorna em cada bochecha e o cofrinho aparecendo, um investidor-anjo surgirá e lhe entregará cem mil reais em notas de cinco. Credo!"
Toninho Cadela, engenheiro, logístico e folclorista.
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