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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 28

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 9 de jul. de 2016
  • 3 min de leitura

São Paulo, 9 de julho de 2016.

Caro Felipe,


Isto é um ùltimato! Há dois meses nós nos falamos por esta interface. Nunca nos vimos face-a-face, embora eu imagine que você me considere com face de tonto. Há dois meses você me enrola, desconversa e tergiversa sobre seu supostamente interessante modelo-de-negócio. ¿Por que você não fala logo essa bosta, Felipe? ¿O que há com você? ¿Sua idéia é assim tão sensacional & zabumbada que você tem medo de que eu a roube? Eu me sinto não apenas desrespeitado com sua desconfiança e segredinhos; eu também me sinto um empregado guiando um cego paranóico, que não quer lhe contar para onde vai. Se você fosse mesmo um cego nessa situação, eu já lhe teria mandado procurar um cão-guia.

Em primeiro lugar, uma consultoria exige confiança recíproca. Eu confiei que você iria me pagar — e até aqui, tudo certo. Eu confiei que você não estivesse procurando em mim um macho — e que bom! até aqui, tudo certo! Eu confiei que você não revelaria meus segredos de negócio nem infringiria meus conteúdos protegidos por direitos autorais. Ok. Mas ¿por que você não tem em mim a mesma confiança que eu lhe deposito? Acho que você ainda não atinou para o caráter circense e surreal das nossas reuniões: você quer que eu o ajude a desenvolver uma tecnologia que eu-mesmo não posso saber o que é. Vem cá, Felipe: ¿você está produzindo drogas sintéticas, cara? ¿É algo ilegal o que você quer fazer comigo?

¿Você acha mesmo que vai conseguir empreender com todo esse cagaço & frescura? Então, deixa eu lhe dar uma péssima notícia: mais-cedo-ou-mais-tarde, alguém precisará saber o que você está fazendo, né? Alguém... assim... como o cliente! E vamos imaginar que você precise dum sócio, de fornecedores e funcionários. Daí eu imagino você chegando para um deles e dizendo o seguinte: "aí, cara: eu tô querendo armar uma parada sinistra e preciso duns bagulhos maneiros que você pode me conseguir com uns caras lá das quebradas." Felipe, se eu fosse da polícia, você sairia algemado duma conversa dessas. É claro que eu estou caricaturando a coisa, mas é este o tom dos nossos papos até aqui.


Agora imagine o seguinte. Você está participando dum pitch e tem diante de si um monte de banqueiros e investidores-anjo que poderão semear uns R$ 10.000,00 na sua idéia — e isso só para começo de conversa. (Você sabe: o nome disso é capital-semente). Beleza. Então você chega lá na frente dos caras — caras, aliás, que têm sim a capacidade financeira & tecnológica que eu não tenho de roubar suas idéias — e fica todo travado na frescura, fazendo segredinho. ¿Você acha que esses caras têm tempo para a sua veadagem patentária, Felipe? ¿Você acha que é fácil conseguir uma reunião com esses caras? E tem mais: seu segredinho fará com que um sinal amarelo pisque alto na cabeça desses caras.

Direi por quê. Primeiro: brincar de esconde-esconde no mundo dos negócios é sinal amarelo-piscante de imaturidade, pois não há nada mais típico do empreendedor inexperiente do que achar que suas idéias são gèniais e inéditas. Experimente revelá-la para o primeiro usuário possível, e o miserável começará a jogar na sua cara todos os defeitos evidentes da sua proposta supostamente maravilhosas — e isso até o fim dos séculos & séculos amém. Segundo: um modelo-de-negócio que depende tanto de sigilo, ou é muito frágil, ou é baseado em idéias idiotas. Se for frágil, ninguém vai querer investir nisso. E se for baseado em idéias idiotas, saia já da minha frente, seu moleque! e não me faça mais perder tempo!

Terceiro: o que eu não posso revelar, eu não posso patentear; e o que eu não posso patentear, eu não posso proteger com garantias jurídicas. Claro: cada caso é um caso; e tem coisas que não podem mesmo ser protegidas por patente. Mas se sua inovação não puder ser patenteada, ela dependerá de sigilo, o que, por sua vez, dependerá duma amarração muito bem-feita de contratos e confiança contratos que eu não farei com você, porque você não tem confiança em mim. Ok? Quarto e último: no ambiente das startups, idéias valem um real a baciada. ¿E aí, Felipe? ¿Você ainda considera divertido brincar de esconde-esconde com seu consultor? Eu estou lhe convidando a parar com isso.

Tome tenência, soldado!

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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