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DICA DE LEITURA 37

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 29 de jun. de 2016
  • 6 min de leitura

Olá, eficazes & capatazes. ¿Como vai essa volta? Eu já fui. E voltei com mais uma dica de leitura. A-propósito, algumas leituras se impõem a nós não porque sejam bons livros, mas porque seus autores se tornaram clássicos. Vejam o exemplo de "Macunaíma: o herói sem nenhum caráter", de Mário de Andrade. Eu tenho para mim que a literatura brasileira & universal passaria muito bem sem essa porcaria. Eu nunca li (e espero jamais ler) um livro tão besta, chato, inútil e ilegível como aquele. Mas... porque uma bichona de Letras — do alto das suas tamancas lilases — decidiu que aquilo era um clássico, então lá vamos nós, torturar nossas retinas tão fatigadas com aquele "clássico". Pois bem. Agora, a pergunta que não quer calar sua boquinha: ¿seria este o caso d' "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes: lições poderosas para a transformação pessoal" — o best-seller mundial de Stephen Covey? Hum... vejamos.

A promessa tácita desta seção — dicas de leitura — do blog Start-Aspas é ìndicar para os meus cinco ou seis leitores obras a-respeito de empreendedorismo e microempresas, além dos assuntos correlatos: logística, estratégia, marketing, finanças, design, gestão de pessoas, etc. Mas... repito: algumas leituras se impõem a mim; e por desencargo de consciência, eu resolvo consultá-las para ver o que elas têm. E convenhamos: vender vinte-e-cinco milhões de exemplares em todo o universo não é para qualquer Paulo Coelho da vida. (Atenção: sarcasmo). O que eu já sabia é que se tratava dum livro de autoajuda — daqueles que eu detesto, por seu alto grau de babaquice & trivialidade. Comecei, portanto, a leitura com alguns prèconceitos e prècauções. Mas daí veio a primeira surpresa: o livro é prèfaciado por James Collins — um cara pelo qual eu nutro uma profunda admiração, como vocês puderam testificar aqui e aqui.

Segunda surpresa: nalgumas passagens do livro (págs. 44; 232; 293), Covey, sem citar nomes, faz críticas àquilo que ele chama de técnicas de manipulação, às quais ele opõe sua ética do caráter. Trocando em miúdos, Covey fala dos ruídos éticos e da ineficiência operacional duma certa abordagem que tenta usar as outras pessoas, fingindo-lhes amizade e tentando influènciá-las para delas tirar proveitos. É... se vocês estão pensando no também clássico "Como fazer amigos e influenciar otários... ops! pessoas", acertaram! Para Covey, além dos ruídos éticos contidos nas técnicas de Carnegie, as outras pessoas, assim que percebem que estão sendo "influènciadas", distànciam-se do influènciador ou passam a empregar medidas defensivas (pág. 46-47). A alternativa, para Covey, é tornar-se, pelo exercício e pela disciplina, uma pessoa melhor, emanando de si suas reais virtudes, em vez de sòmente as aparentar. ¿Que tal?

No fundo dessa oposição, jaz o milenar embate entre os sofistas e os filósofos. Dum lado, temos as técnicas dos sofistas (Carnegie?), que não visavam a melhoria ético-moral do cidadão, mas sim dotá-lo de certas ferramentas de personalidade, por meio das quais ele conseguiria persuadir as demais pessoas a fazerem o que ele quisesse. Falamos aqui de sedução, e da política. Por outro lado, temos as técnicas dos filósofos (Covey?), voltadas a desenvolver a excelência intelectual e ético-moral do caráter, pouco importando os resultados práticos dessas conquistas no mundo político. Estamos aqui no terreno da ética e da moral socrática. A leitura de Covey nos conduz a essa jornada de desenvolvimento, de aperfeiçoamento, de formação estética duma alma bela. E tal escalada ascensional deve abandonar a condição de dependência, evoluindo para independência e terminando na interdependência.

Falando nisso, terceira surpresa: quando trata do primeiro hábito — "seja uma pessoa pròativa "(pags. 99-127) — Covey acaba deslindando (de modo nada lindo) todos os defeitos sèculares da brasilidade: o coitadismo, o vìtimismo, a tara das cotas, a mania de atribuir aos outros as nossas culpas, a crença num papai-grande ou mamãe-machona (Lularápio? Bandidilma?) que nos salvará de nós-mesmos, a busca paranóica e mèdieval por bodes expiatórios e inimigos invisíveis (o capitalismo, o neoliberalismo, o impèrialismo, a elite branca, os golpistas de extrema-direita), o complexo de vira-lata ou vira-bosta, a imaturidade sentimental, a visão estímulo-resposta que justifica o banditismo e a delinqüência, o còmodismo, a falta doentia de iniciativa, a tendência a dar desculpas e procurar culpados, a lìnguagem de agente-da-passiva, a Síndrome de Gabriela (eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim). Enfim: um retrato do Brasil!

Quarta surpresa: o livro é bom! ¿Mas do que trata esse livro? Covey, de certa forma, tenta sìntetizar os hábitos e valores que, no decorrer dos séculos, tornaram as pessoas realizadas & bem-sucedidas (minha tradução para seu termo eficazes). Por hábito, Covey se refere a uma combinação de conhecimento (¿o quê fazer? e ¿por quê fazer?), hàbilidades (¿como fazer?) e vontades ou propósitos (querer fazer). Quando esses três círculos se juntam, temos um hábito. E quando esses hábitos facultam nossa escalada a-partir da dependência rumo à interdependência, temos então um hábito típico de pessoas eficazes. Essa evolução é sìntetizada por ele num diagrama que aparece em todo o livro (vejam abaixo). Para Covey, a conquista dessa eficácia pessoal deve começar por aquilo que ele chama de vitórias pessoais, quer dizer, pela busca íntima, reservada e silènciosa do aperfeiçoamento pessoal rumo à independência.

Essas conquistas particulares são conseguidas por meio dos três primeiros hábitos: 1) Seja uma pessoa pròativa (págs. 99-127): assuma o controle da própria felicidade! Saia da condição confortável de vìtiminha da "sociedade capitalista" e suas "heranças históricas". Pare de delegar aos outros seu sustento. Assuma e corrija seus defeitos; procure seus princípios e viva segundo eles; assuma-se responsável e tome a iniciativa. 2) Comece com um objetivo em mente (págs. 132-184): visualize sua vida como se ela já estivesse concluída. Imagine o que as pessoas dirão em seu enterro. Faça o exercício do necrológio pròposto no primeiro (clique) e segundo (clique) capítulos. deste blog Visualize, escreva, projete sua missão pessoal e depois assuma a liderança desse projeto. 3) Primeiro, o mais importante (págs. 187-227): agora, mãos à obra: após definidas as prioridades, òrgnize seu tempo e mantenha-se focado em sua missão pessoal.

Esses três primeiros hábitos, segundo Covey, conduzem o indivíduo à vitória pessoal sobre suas limitações e problemas, levando-o à conquista da independência e do protagonismo sobre a própria vida. Agora sim você está prèparado para as vitórias públicas. A inversão dessa seqüência (primeiro vencer sobre o mundo para depois corrigir seus próprios defeitos) conduz muitos psicopatas à presidência de grandes empresas. ¿Quem nunca trabalhou com criaturas incapazes de satisfazer sexualmente sua própria esposa, mas arvoradas a satisfazer uma multidão de clientes e acionistas; ou incapazes de controlar seus próprios humores, mas querendo controlar uma corporação? Para Covey, a vitória pública é prècedida pelas seguintes hàbilidades: compreender seus semelhantes, prestar atenção aos detalhes, honrar os compromissos, esclarecer as expectativas e demonstrar ìntegridade pessoal. Então vejamos os três últimos hábitos.

4) Pense ganha-ganha (págs. 255-288): exercite a empatia e tenha consideração pelas necessidades dos seus semelhantes; procure equilíbrios ótimos e justos entre os diferentes interesses, com soluções mùtuamente benéficas; não zere sua "conta bancária emocional" com as outras pessoas; não aja como um pirata escroto ou como uma insuportável sanguessuga. Qualquer resultado que não seja o ganha-ganha, gerará um impacto negativo nas suas relações a longo prazo. 5) Procure primeiro compreender, e só depois ser compreendido (págs. 291-318): ouça muito, suspenda o julgamento, analise a situação com empatia, aplique a gestalt, reserve um tempo para o disgnóstico antes de aplicar o tratamento. Se você quiser mesmo "influènciar as pessoas", primeiro precisará entendê-las. 6) Crie sinergia (págs. 321-345): extraia o melhor das pessoas diversas; faça com que o todo seja maior que a soma das partes.

O livro termina com último hábito: 7) Afine o instrumento (págs. 349-371): aperfeiçoe contìnuamente as quatro dimensões da sua natureza: a) sua natureza física (exercício, nutrição e descanso); b) sua natureza social e emocional (auxílio, empatia, sinergia e pertença); c) sua natureza espìritual (clareza de valores, estudo, envolvimento e meditação); e e) sua natureza mental (leitura, escrita, visualização e planejamento). Cada capítulo se encerra com exercícios para a fixação do hábito ali descrito. Com suas quatrocentas-e-cinqüenta páginas, o livro é prático, agradável e bem-redigido. Mas a quantidade exorbitante de exemplos triviais e pouco ilustrativos acaba diluindo e alongando demais o texto, que, sem eles, poderia ter a metade do tamanho. Sim, crianças, é um livro de auto-ajuda. E o Titio-Fernando-Aqui ajudou ainda mais vocês, porque resumiu a bagaça inteira os poupou da compra e da leitura. De-nada!



COVEY, Stephen. "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes: lições poderosas para a transformação pessoal." Rio de Janeiro: BestSeller, 2016. 457 páginas. R$ 57,90.


DEPOIMENTOS:

"Eu diminuí minha eficácia no trabalho porque fiquei lendo esse livro em vez de trabalhar. ¿E aí? ¿Alguém vai devolver meu dinheiro?"

Gumercindo Paumolenga, cangaceiro corporativo.


"Eu adotei o hábito do ganha-ganha com a minha patroa. Hoje ela ganha; depois ela ganha; amanhã ela ganha de-novo... e assim vai."

José Brasileiro Médio, pessoa comum, filha-de-deus.

Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes, segundo Stephen Covey.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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