DICA DE LEITURA 39

Olá, marinheiros de primeira viagem-na-maionese! ¿Como é que vocês estão? Eu estou em estado sólido — ainda. Sabem... um dos infortúnios do empreendedor é a sòlidão — a sòlidão existèncial, a sòlidão decisória, a sòlidão metafísica. Muitas vezes, "um desejo violento bate sem-querer: pânico, vertigem, obsessão. A maior expressão d' angústia pode ser a depressão: algo que você prèssente. Indefinível! Mas não tente se matar. Pelo-menos, essa noite não." (Lobão). Tirando os sócios, que podem ser mais um problema que uma solução (eu tenho muita sorte com o meu: abraços, Douglas!) e o eventual apoio dos amigos e do cônjuge, o empreendedor é geralmente um lobo solitário das estepes do Cáucaso, sem um ombro amigo para chorar suas mágoas. Não é à toa que muita gente — bem-intencionada ou mal-intencionada — vê nas angústias do pequeno empresário uma oportunidade de oferecimento de apoio moral — aquele apoio que atende pelo nome infamante de autoajuda. Cren-deus-pádi!

Além disso, durante décadas, a bibliografia sobre "administração científica" tentou matemàtizar rìgidamente a condução das empresas, em seus mínimos detalhes, esquecendo-se dos fatores humanos — que escapam ao controle dos esquemas quadrados e sabotam a arrogância dos quadros rígidos. Por isso, questões como empatia, motivação, liderança, comunicação, relacionamento, fidelização e lealdade voltaram à baila nos anos noventa, mas doravante com um tempero de indisfarçável charlatanismo New Age. Novos gurus, com novas crenças & rituais, surgiram e fizeram fortuna com uma nova metafísica para o consumo angùstiado de gestores à-beira dum ataque-de-nervos . Mas nem tudo é vigarice nesse mundo do faz-de-conta. O consultor e professor Luiz Marins é uma figura famosa e querida no ambiente corporativo, com décadas de estrada nas áreas de motivação, estratégia, liderança, marketing e gestão de pessoas. É dele o livro que eu indicarei nesta semana: "73+1 perguntas sobre liderança, gestão, marketing, vendas, motivação e sucesso." Vejamos.

O livro — com capítulos curtíssimos, iniciados por perguntas dirigidas ao professor — é daquelas leituras que eu classifico como de baixo esforço mental. E isso não é uma crítica! O próprio autor esclarece que seu objetivo foi mesmo deixar as coisas muito simples e diretas, dando ao livro o tom agradável duma conversa, sem jargão técnico, sem teorizações complicadas. Quem acompanha as palestras e inserções do professor Marins na TV, não encontrará surpresas neste livro, que guarda aquele mesmo tom leve e de bom senso usual. Sem uma òrganização temática prèvisível, o livro aborda temas como: ética no ambiente-de-trabalho, relacionamentos, comunicação, competição e concorrência, empregabilidade, motivação e entusiasmo, foco, relações de trabalho, liderança, finanças pessoais, disciplina, esforço e talento, antropologia empresarial, marketing pessoal, autoestima, conflito de gerações no trabalho, etc.

Dou ênfase à pergunta 20: ¿existem coisas específicas que possamos fazer para vencer o medo de vencer? (págs. 85-95). Após as 73 perguntas do título, o autor acrescentou a seguinte mensagem: "a última pergunta deste pequeno livro é sua, caro leitor. Pode fazer, que eu tentarei responder. Basta enviar a pergunta para professor@marins.com.br. Pense nisso. Sucesso!" Como eu disse, é um livro leve, para ser lido sem grande esforço mental. Porém, apenas dois reparos poderiam ser feitos à obra. 1) Embora bem-escrito, o autor tem um texto telegráfico, com frases muito curtas e que mudam de assunto no mesmo parágrafo. 2) Embora pùblicado este ano, o livro todo me pareceu datado, porque aborda de maneira superficial temas que hoje são manjados e saturados, como globalização, homeworking e ONGs. De todo modo, trata-se dum bom presente para você dar para aquele seu chefinho anódino.

MARINS, Luiz. 73+1 perguntas sobre liderança, gestão, marketing, vendas motivação e sucesso." São Paulo: Integrare, 2016. 214 páginas. R$ 39,90.

DEPOIMENTOS:

"Dei este livro para meu supervisor. Ele interpretou meu gesto como uma indireta. Na próxima edição, o professor Marins poderia acrescentar um capítulo sobre psicopatas desgraçados."

Marcelina Mauritânia, diarista e neurocirurgiã.

"Dizem que advogados são seletivamente surdos para perguntas das quais eles já não saibam a resposta. Minha suspeita é que o autor tenha usado o mesmo método para a elaboração deste livro."

Doutor Pedro de Paula, abalizado causídico.

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