CAIXINHA DE FERRAMENTAS 37
- Fernando Rogério Jardim
- 14 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
Olá, criaturas mal-criadas! ¿Como vão sem volta? Eu, ia, mas retornei com elegância & picardia com mais uma ferramenta estratégica e, desta feita, trataremos de conflitos e sua respectiva resolução. Então, leitor, responda com franqueza: quando acontece um conflito risca-faca, um barraco bem favela na sua empresa, ¿você é do tipo que parte para a ignorância com truculência, é da turma do deixa-disso, é o arregão que enfia o rabo entre as pernas e sai vazado, ou é o ressentido-rancoroso que planeja em silêncio sua vingança malévola? Hein? Quem me conhece, sabe em quê categoria eu me enquadro... Mas vejamos a ferramenta desta semana.
A coisa de que você menos precisa numa startup é de conflitos mal-resolvidos. E acrèdite: eles aparecerão! Não é possível nem saudável evitá-los; e o ambiente duma pequena empresa é especialmente fomentador de conflitos constantes — seja porque o ego dos sócios aumenta as chances d' o tempo se fechar, seja porque o alto nível de incertezas envolvido nas atividades inovadoras cria um solo fértil para os problemas complicados e urgentes, seja ainda porque a convivência diária entre os sócios e funcionários os condiciona a entrechoques constantes. Vosmecê, portanto, precisa entender a dinâmica dos conflitos para poder resolvê-los da melhor forma possível.
Numa grande empresa, conflitos pontuais acabam se diluindo nos interstícios da òrganização. O peso dos estatutos & protocolos, do òrganograma & procedimentos acaba exercendo uma pressão que mantém o nível dos conflitos dentro dum mínimo civilizado. Nessas grandes empresas, assim como nos ringues e arenas, o conflito se desenvolve dentro de regras rígidas, ditadas pelas normas internas, que sublimam os excessos, transformando-os em competitividade que, por fim, é canalizada em benefício da própria empresa. Já nas startups, o estado ainda fresco e fluido da estrutura, além do pequeno tamanho, faz com que os conflitos apareçam de forma densa e crua.
Pois bem. Segundo os estudos de Kenneth Thomas & Ralph Kilmann — que deram origem ao modelo abaixo —, os conflitos irrompem conforme uma linha-de-fissura delineada por duas vàriáveis: uma vàriável social, que é o nível de cooperação; e uma vàriável cognitiva, que é o nível de assertividade. Trocando em miúdos, quanto mais cooperativo for o relacionamento entre os parceiros duma empresa, maiores serão as chantes d' os conflitos não ocorrerem ou se resolverem de maneira pacífica. Por outro lado, quanto mais assertiva (honesta, sincera, curta & grossa) for a comunicação entre os indivíduos, maiores serão a chances d' os conflitos aparecerem e se resolverem de forma clara.
Agora repare: o cruzamento dessas duas vàriáveis — o nível de assertividade e o nível de cooperação — cria uma matriz com quatro células. Vejamo-las. 1) Quando o nível de assertividade é alto, mas o nível de colaboração é baixo, temos conflitos que se transformam em competições. Esta é uma relação entre pessoas que não morrem de amores uma pela outra, mas que, ainda assim, mantêm um nível de civilidade cuja antipatia recíproca foi convertida & canalizada em competição. 2) Quando, além dum nível alto de cooperação (bom relacionamento), encontramos um nível alto de assertividade (boa comunicação), o conflito se transforma em colaboração. Maravilha!
3) Quando o nível de assertividade é baixo e o nível de cooperação é alto, temos um relacionamento de acòmodação. Esta é a relação típica os casais frescos: um não diz ao outro o que o irrita, pois teme ofender e màgoar. A comunicação não é tão sincera & assertiva como a que geralmente encontramos entre amigos de longa-data. Entretanto, a cooperação entre os cônjuges compensa esse problema, criando um ambiente de tolerância recíproca que leva a uma acòmodação de incòmodidades. 4) Por fim, quando os níveis de assertividade e de cooperação são ambos baixos, temos o pior dos mundos: um mundo calmo sobre um barril de pólvora. Esta é a evasão.
Na evasão, o motivo do conflito é mantido dormente: não é declarado e, portanto, não é resolvido, devido à baixa assertividade entre os envolvidos. O baixo nível de cooperação também fechou as portas para uma convivência tolerante ou acòmodatícia. O que temos é um meio pròpício à pròliferalção do ressentimento, das mágoas surdo-mudas e da angústias abafadas que poderão irromper numa guerra aberta. Meu conselho, caro leitor, é que você use essa ferramenta para fazer uma autoanálise, localizando onde você e seus parceiros, sua empresa e seu ambiente-de-trabalho se encontram na gestão dos conflitos. Vocês precisam pôr as coisas em pratos limpos, ou quebrar os pratos e comprar novos?
Boa treta e até-mais-ver!

Modelo de solução de conflitos de Thomas & Kilmann.
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