CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 29
- Fernando Rogério Jardim
- 16 de jul. de 2016
- 2 min de leitura
São Paulo, 16 de julho de 2016.
Prezada Cristina,
¿Está sobrando dinheiro aí na lojinha, madame? Digo isto porque, da última vez que me encontrei o Mário (¿qual Mário? seu sócio!), ele me mostrou uma lista impressionante de consultores que tinha a intenção de contratar para "ajudar" vocês. Parecia-me uma lista de convidados para um casamento. Cara! Só figurinha grandiloqüente & zabumbada. Títulos e mais títulos de fazer curva na esquina. E antes que você me sugira, não: eu não estou com ciúme. Sei que meu trabalho de consultoria é insubstituível, até-porque já foi terminado.
Eu aceitei atender vocês sem cobrar nada porque não tinha, naquela época, condições de precificar o problema que vocês enfrentavam e o quanto ele me custaria em termos de tempo e esforço. Parecia-me ser uma questão de logística; e meus conhecimentos nessa área são limitadíssimos. Acho que minha decisão foi correta e não me arrependo dela. Ao fim e ao cabo, descobrimos que a única coisa de que vocês precisavam mesmo era dum bom puxão de orelha-a-orelha. O resto, a experiência e o Doutor Google resolveram.
Uma consultoria é, de certa forma, uma terceirização do cérebro da empresa — do cérebro ou dos colhões, porque eu já vi muito diretor de startup contratar consultor apenas para ele referendar com jargão pomposo & frescura acadêmica as decisões já tomadas pelo dono, mas às quais os demais sócios ainda se demostravam relutantes. Isso é o que eu chamo de uso político do trabalho de consultoria. Que desperdício! Eu espero que não seja isso o que está acontecendo aí com vocês, Cristina. O puxão de orelha será dobrado, hein!

¿Sabe quais as únicas áreas duma startup que precisam mesmo de consultoria? A contábil e a jurídica. Ponto! Só! Chega! Todo o resto é perfeitamente possível que vocês aprendam sòzinhos no Doutor Google — aquele que tudo sabe e que tudo diz. Consultoria em marketing — desperdício! Consultoria em motivação & liderança — veadagem! Consultoria em gestão do tempo — perda de tempo! Consultoria em governança — bundalelê com dinheiro alheio! Tudo-isso se resolveria com bom senso e pesquisa.
Eu sinceramente não sei por que uma pessoa passa quatro anos da vida estudando propaganda & marketing, aprendendo com jargão técnico e pedantismo aquilo que qualquer pipoqueiro de arquibancada sabe fazer. Já as áreas jurídica e contábil, não! Aí o bicho pega; e o galo que acompanha o pato morre afogado. Nessas áreas, é imprescindível que você tenha sim um especialista, uma pessoa que inclusive se responsàbilize judicialmente por suas decisões (as dele, claro). E essa é uma ajuda que eu não posso dar a vocês.
E eis uma ajuda que eu não vi na lista do Mário. Erros contábeis, Cristina, significam crimes fiscais. E erros jurídicos significam prejuízos contábeis. São duas áreas sensíveis em qualquer empresa. Erros dessa natureza costumam custar o triplo: custam para desfazer, custam para arrumar e custam para refazer. Sem contar os danos à imagem da empresa e o tempo perdido. Por isso, madame, contrate um advogado e um contador. Quanto ao resto, pergunte ao Doutor Google. E bote uma placa na sua firma: não alimente os gurus.
Disponha.
Fernando.
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