DICA DE LEITURA 40
- Fernando Rogério Jardim
- 20 de jul. de 2016
- 3 min de leitura

Olá, propostas irrecusáveis! ¿Como vai esse crime inafiançável que é a existência humana? Voltei com mais uma dica de leitura do Satanás. Sei que estou com as postagens atrasadas. Vocês não precisam fazer essa cara de puta manca, que eu não estou vendo. Faço o que posso e mais um pouco. E como diriam os capi da máfia, esta é uma leitura que vocês não podem recusar — (senão, uma cabeça de cavalo aparecera em suas caminhas). E então digam lá: ¿o que um màfioso e um pequeno empresário têm em comum? Bom... ambos são igualmente perseguidos pelo Estado-Babá. Ambos vivem em situação de incerteza & alto risco. Ambos não costumam se aposentar (ou porque morrem antes, ou porque têm de trabalhar até a volta de Cristo). Ambos podem estar à-frente de negócios que oferecem produtos lícitos ou quase — aplicativos, prostitutas, drogas, doces, bebidas, comidas calóricas, diversão, etc. Ambos têm uma rede de clientes que estão dispostos a sustentá-los (por interesse individual ou amor à própria cacunda).
Mas as semelhanças terminam aí — no paralelo estrutural. Descendo um milímetro abaixo da superfície e chegando ao aspecto ético-moral, as óbvias diferenças surgem. Por isto, confesso-lhes que, quando vi este livro na estante, pensei comigo que seria mais uma daquelas apologias asquerosas da bandidagem, escritas pelos relativistas morais da esquerda intelectual — gente que não sabe diferenciar quadrilheiros de càndidatos porque costuma eleger ambos. Mas não! Fiquei surpreso ao encontrar um livro sincero, franco, honesto, divertido e... sábio! Refiro-me ao delìcioso "O poderoso chefão corporativo: o que as empresas podem aprender com a mais temida corporação da história", escrito pelo ex-màfioso Louis Ferrante. Tal como o título promete e o livro cumpre, o autor traça paralelos entre a forma de gestão da máfia e como algumas táticas dos capi podem ser adaptadas e aplicadas à gestão das empresas — sobretudo as pequenas.
O mais impressionante do livro é que Ferrante — um criminoso regenerado que aproveitou o tempo de cadeia para se auto-educar (e parece que por si-mesmo melhor do que o MEC faz por nós) — passa-nos essas dicas sem cair numa romantização da bandidagem ou numa relativização da conduta criminosa. Os capítulos têm títulos curiosos, como: um segredo entre três só existe se dois estiverem mortos; arregace as mangas mas não abaixe as calças; o banco dos favores paga os juros mais altos; quando levar bala pelo chefão; os durões são os mais sensíveis: nunca embarace alguém em público; pule de galho em galho e esteja certo de que vai cair; o valente tem bolas e o inteligente, bolas de cristal, etc. O livro todo é uma coleção de causos hilários (às vezes, um bocado confusos) do mundo da máfia, concluídos com uma moral-da-história que busca fazer a ponte entre a forma d'a máfia fazer negócios e a gestão das empresas normais. (Em algumas autarquias municipais por aí, não seria necessária essa adaptação, pois a máfia é sua segunda natureza).
Embora o autor renegue Maquiavel no final do livro (pág. 231-232), a estrutura que ele usa é bastante parecida à do autor do Príncipe: uma tese exposta logo no título do capítulo, seguida dum arrazoado (pessimista) a-respeito da natureza humana; e um conselho maldoso, seguido de alguns exemplos extraídos da experiência passada ou presente do escritor. Esse paralelo é explícito. E ao concluir minha leitura, eu percebi que há um paradoxo curioso nos livros de gestão: pessoas "simples" (como é o caso do senhor Ferrante) às vezes trazem idéias sábias, embora lhes faltem palavras para expressá-las. Por outro lado, pessoas "capacitadas e sofisticadas", freqüentemente, escondem seu pensamento raso detrás duma densa cortina de afetação acadêmica & pedantismo protocolar. Mas quando temos a boa fortuna de encontrar, numa pessoa simples e sábia, o instrumental necessário à expressão das suas idéias, então temos um livro bacana como este. Recomendo-lhes vivamente a leitura! Ou senão... já sabem...
FERRNATE, Louis. "O poderoso chefão corporativo: o que as empresas podem aprender com a mais temida corporação da história." São Paulo: Saraiva, 2012. 240 páginas. R$ 27,90.
DEPOIMENTOS:
"A máfia tem muito a ensinar às empresas privadas... Agora imagina o que a esquerda brasileira não teria a ensinar para a máfia. Bom... Já ensinou: foi assim que nasceu o Comando Vermelho."
Sargento Honório Meganha, o segurança que cuida do normal.
"Perto do PT, as máfias russa, siciliana e amèricana — juntas e assòciadas ao Estado Islâmico — não passam dum bando de normalistas com suas meias três-quartos brincando de peteca no recreio."
Don Moluscone Petraglia, il ubriaco capo della mafia brasiliana.
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