CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 30
- Fernando Rogério Jardim
- 23 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
São Paulo, 23 de julho de 2016.
Caro Mário,
(¿Qual Mário? Você-mesmo, seu cretino!) Sabe... muita gente se prèpara para empreender (quando se prèpara); mas pouquíssimas pessoas reúnem as condições e os recursos para o que vem antes e o que vem depois do empreendedorismo. Sim, porque da mesma forma como há uma vida depois do diploma, há vida antes da empresa — seja a própria empresa ou a empresa de terceiros. Entenda: o empreendedorimso não é uma carreira, no sentido usual que damos à palavra. Mas é perfeitamente possível (e mesmo necessário) que você se estruture para assumir isso como uma forma de vida. Até os càndidatos a parasitas se prèparam — para os concursos! ¿Por que diabos um gerador de valores, um produtor de riquezas, um empreendedor não se prèpararia?
E a primeira coisa para a qual você precisa se prèparar (e que você não aprendeu na faculdade) é se planejar financeiramente. Traduzindo: ganhar e juntar dinheiro! ¿Para quê? Oras, para abrir sua empresa, sem depender futuramente de investidores inexistentes ou de editais do Estado que vão amarrará-lo às fantasias sexuais do governo de plantão, e não às demandas do mercado consumidor. O planejamento financeiro individual é uma etapa prévia à abertura da empresa, porque vai capacitá-lo a fazer as contas do fluxo-de-caixa, do payback, da lucratividade, da rentabilidade, etc. Comece então com as contas pequenas — as finanças pessoais — para depois partir para as contas grandes — o balanço da empresa. Procure, portanto, um curso de finanças pessoais.
Você, Mário, deve estar pensando que não precisa de dinheiro próprio. Você, como muitos, deve sonhar com um investidor de armadura brilhante & cavalo branco, chegando no momento oportuno para salvar sua startup do dragão da falência. Larga disso, cara! Não há cultura no Brasil para essa fantasia. No final das contas, você vai mesmo é recorrer ao bootstrapping, que é apenas uma palavra chique para juntar moedas, quebrar cofrinhos, raspar gavetas, zerar as contas, virar os bolsos do avesso, etc. ¿Manja? É fazer isso ou esperar ad æternum por um investidor que não vem. Ou — a alternativa é interessante — começar pequeno, com o que você tiver hoje em mãos, fazer correria e encontrar um modelo-de-negócio que o permita crescer rápido e enxuto.

E planejamento financeiro, Mário, é uma coisa impossível àqueles que desejam manter os luxos automòbilísticos & imòbiliários do teatrinho do sucesso. (Isso foi uma indireta dirigida). Abrir uma startup apenas para dizer que abriu uma startup; ou abrir uma startup para desfilar todo posudo num suposto jet set empreendedor, é a pior razão para se prazer as coisas. Primeiro, porque não existe um jet set empreendedor. As pessoas que eu conheço nesse meio trabalham bastante e amam demais o que fazem para se ocuparem com aparências. Eu sempre aconselho meus clientes e alunos a viverem dois degraus abaixo da própria classe social — principalmente se forem empreendedores. Nunca se sabe o dia de ontem: no Brasil, até o passado é incerto. O futuro é cabuloso.
E tão importante como entrar de maneira classuda é sair de maneira estilosa. É, Mário... Vamos supor que um dia você acorde, olhe para o trabalho que tem pela frente, boceje de orelha-a-orelha e exclame: "cansei disso!" ¿Como é que você vai fazer para passar o bastão e vender a empresa? ¿Em quê condições de saúde financeira e jurídica essa empresa será vendida? ¿Você já pensou nisso, Mário? Aposto minha dupla cidadania paraguaia que não. E adivinha: isso é outra coisa que seus professores concurseiros inveterados não vão lhe ensinar na faculdade. Você pode achar que vender uma empresa é como vender pipoca no estádio. Não é não. Há uma série de amarrações jurídicas envolvendo registro de marcas, participação acionária, arranjo sòcietário, etc. que podem frustrar sua saída.
¿Já imaginou você, Mário, como Escrava Isaura da própria empresa, porque não planejou direito sua saída ensaiada? Oito entre dez empreendedores com os quais eu converso citam a falta de financiamento como uma das difìculdades mais importantes da microempresa. Isso porque poucas pessoas se planejam para não dependerem do financiamento — que é sempre pensado como externo e caído dos céus. Então veja como o problema do financiamento atravessa toda a vida do empreendedor. ¿Entendeu a necessidade de antecipação dum bom planejamento financeiro? Dizem, Mário, que a gente inicia a educação dum filho vinte anos antes d' ele nascer, quando a gente-mesmo está se educando. Pois bem: o mesmo se aplica às empresas. Eduque seu bolso!
E se sobrar algum, você me empresta.
Fernando.
Comentários