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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 34

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 20 de ago. de 2016
  • 3 min de leitura

São Paulo, 20 de Agosto de 2016.

Prezada Priscila,

Vamos por partes. Sua mensagem tem uma pancada de verdades que eu acho interessante recapitular. Sim: você está cagada de razão quando afirma que os clientes não querem mais comprar mercadorias; eles querem agora viver experiências. Sim: você está mijada de razão quando diz que o maior desafio das empresas modernas é gerir ativos imatèriais, como o conhecimento e a reputação. Sim: você também está certa quando afima que, para o bem ou para o mal, as òrganizações são atualmente cobradas por coisas que ultrapassam muito suas razões sociais, como economizar recursos ambientais e investir na área social.

Tudo certo. Mas meu detector de cretinice soou forte quando você me disse que vai implantar uma política de "sustentabilidade e responsàbilidade" na sua startup. Vem cá, Priscila, ¿quando tempo tem sua empresa? ¿Dois meses, três meses? ¿Quanto você fatura? ¿Já dá para pagar o passe do ônibus ou o trocado da cachaça? ¿Você não acha que uma prèocupação precipitada com coisas tão limitadas & simplórias como... por exemplo... salvar o planeta e trazer a paz ao universo, não ultrapassaria um pouquinho a urgência mais terrível que você deve ter nesse momento, que é com sua sobrevivência empreendedora?

Prèocupe-se, Priscila, com seu fluxo-de-caixa, seu ponto de equilíbrio financeiro, seu retorno sobre o dinheiro investido, seus custos fixos, sua estratégia de precificação, seu posicionamento frente à concorrência, sua escalabilidade — e deixe o mundo cuidar do mundo. Deixe, por enquanto, os burocratas, os políticos e os dráculas da moral alheia posarem de posudos com suas "causas sociais". Nos turbulentos primeiros dois anos, a sobrevivência da sua startup deverá monopolizar sua prèocupação. A única "sociedade" que você deverá salvar é a comunidade difusa & anônima dos seus (poucos) clientes iniciais.



Numa startup, essa coisa de sustentabilidade e responsàbilidade é, sendo bem franco, veadagem. Serve para satisfazer o narcisimo do fundador, a consciência culpada dos sócios e clientes, a megalomania paranóica dos dráculas morais — além da militância hidrofóbica que vive do esforço alheio. Eu tenho para mim que, quando uma empresa não tem o que mostrar em seu balanço financeiro, ela se refugia nessa propaganda tão còmodamente inverificável que é o balanço social. Então, esqueça as planilhas, os números e até os fatos. Faça uma apresentação de PowerPoint com crianças sorrindo, pàssarinhos, plantinhas e voilà! Sucesso!

Você vai me detestar por eu lhe dizer isso, Priscila; mas eu prefiro ver meus clientes furiosos do que falidos. Gastos precoces com projetos sociais e coisas-que-o-valham acabam entrando naquilo que Eric Ries chama de "métricas da vaidade". Explico: métricas são critérios de medida que usamos para acompanhar o desempenho dum negócio. Exemplo: o número semanal de downloads pode ser a métrica de sucesso dum aplicativo; o número de interessandos que realmente que fecham o negócio é outra métrica. Tudo isso tem-a-ver com o sucesso da startup. Já as métricas de vaidade têm-a-ver com... a vaidade do fundador.

E a vaidade do fundador não agrega valor ao cliente. A-não-ser-que você se encaixe numa dessas três situações. a) Quando a essência do seu negócio envolve questões dessa natureza; quando o núcleo da sua proposta de valor ao cliente é a sustentàbilidade e a responsàbilidade. b) Qundo você notou, numa das iterações e vàlidações do seu protótipo, que o usuário manifestou uma forte disposição a pagar um preço-prêmio por sua oferta, se ela for sustentável ou responsável. c) Quando sua estratégia de marketing (seu nome e sua marca) envolver, desde o início, uma reputação calcada em sua presença social.

Do resto, o mundo cuidará.

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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