CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 35
- Fernando Rogério Jardim
- 27 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
São Paulo, 27 de Agosto de 2016.
Olá, Sílvio!
Nossa última reunião foi muito densa, né? Poxa... Aquilo foi quase uma sessão de descarrego com os trezentos-e-dezoito pastores da Universal. Muitos demônios internos vieram à tona com-tudo. Traumas, dramas, manias, padrões tóxicos, segredinhos sórdidos... Notei, porém, que você ficou meio para-baixo no final. Talvez a àcidez de algumas coisas que eu disse feriram seu estômago moral sensível. Por isso, resolvi lhe dar esse retorno.
Entenda: eu não sou o tipo de consultor que enche o cliente de blablablá e jargão técnico presunçoso, besta e vazio. Eu o chacoalho, eu esmurro mesmo o caboclo, eu cuspo na cara dele, eu lhe mostro os fatos crus... E prefiro ver meus clientes ofendidos do que falidos. Muitas vezes, a gente precisa desacordar a pessoa que se afoga para só depois trazê-la à margem. Caso contrário, o afogado se debatendo fará com que nos afoguemos junto.
Você não está se afogando, Sílvio; só está falindo de maneira miserável — o que não melhora muito sua situação. Você sofre daquilo que eu chamo de "mentalidade de biscateiro" — que é aquela forma tão brasileira, acòmodada, improvisada, tradicional, medíocre e passivo-reativa de fazer as coisas. Sendo mais direto, todo empreendedor tem de compreender que o dinàmismo duma startup não permite que as coisas sejam feitas da maneira tradicional.

E o que eu estou chamando de "maneira tradicional". Vamos lá. Primeiro, falta de senso de urgência — que às vezes é o efeito dum perfeccionismo exacerbado, medo, tìmidez, excesso de cautela, vagabundagem ou procratinação. Saiba, porém, Sílvio, que feito é melhor que perfeito. O perfeito pode não ser perfeito para o seu cliente; mas o feito, mesmo que malfeito, permiti-lo-á (desculpa: mesóclise) captar feedback e ganhar algum dinheiro.
Segundo, falta se ambição — o que faz com que muitos empreendedores e microempresários vivam da mão para a boca, sentindo-se muito realizados quando conseguem pagar as contas diárias, não sobrando nada para escalar o negócio ou inovar o produto. Terceiro, falta de senso de oportunidade e agressividade. O empresário brasileiro não tem espírito animal. E você, Sílvio, na minha escala pessoal, está entre a gazela e a toupeira. Desculpe a franqueza.
E tudo isso está ligado ao fato de que, em tempos de crise, os empreendedores que prèdominam são por necessidade, quer dizer, são pessoas que se desempregaram recentemente, sem planejamento e com poucos recursos, entrando em mercados que não conhecem. Este é o seu caso, Sílvio! Seu desafio, então, será não-sòmente sobreviver com a nova firma em tempo de crise, mas também se livrar do camelô interno que o sabota.
Sinta o drama. Boa sorte!
Fernando.
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