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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 36

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 3 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

São Paulo, 03 de Setembro de 2016.

Cara Taís,

Espero que os testes com os novos esmaltes tenham dado certo. Protòtipagem é um negócio lúdico, mas pode ser trabalhoso e sobretudo frustrante, quando não dá certo. Sabe... eu tenho uns contatos no Instituto de Química da Unicamp que talvez se interessem na aplicação do pigmento de vocês contra a corrosão marítima. ¿Já pensou nisso? Pois é... eu deveria lhe cobrar um bocado por essa dica. Não se esqueça de incluir isso nos claims da patente. Enviarei os currículos das pessoas no anexo deste e-mail. Veja se você se interessa.

Bom... Mas não é disso que tratarei aqui. Eu achei engraçado você ter ficado ofendida com meu "conselho jurídico". Lembre-se: eu disse que estava passando da hora de você e suas amigas colocarem num contrato, detalhadamente, o estatuto sòcietário da empresa, as atribuições de cada sócia, a partilha dos dividendos, o pró-labore, as condições de entrada e saída na firma, etc. E como vocês são uma startup relativamente intensiva em tecnologia, um advogado especialista em pròpriedade intelectual viria bem a calhar para vocês.

Eu entendo o motivo da sua estranheza. Pôr num contrato o resultado duma amizade — que é o caso da sua startup — é um negócio frio, duro, triste, árido. Dá impressão de que há desconfiança entre vocês. É chato. Eu sei. Mas responda-me o seguinte: ¿por quanto tempo você garante, com absoluta certeza, que a amizade entre vocês continuará? Outra: quem garante que os problemas do dia-a-dia não criarão um ambiente emocional tóxico entre vocês, capaz de destruir essa amizade e transformar suas amigas em demônias implacáveis?


Pois é, Taís. Isso é um baita risco! Mas há uma vacina eficaz contra toda traição, inimizade, punhalada, safadeza, roubo e briga. Chama-se contrato. ¿Está no contrato? Cumpra-se sem frescura! ¿Não está no contrato? Mande limpar a privada do Satanás! O contrato não é tanto uma proteção contra as outras pessoas; o contrato é uma garantia recíproca contra os imprevistos da nossa vida e contra a errática natureza humana. Exemplo: ¿o que acontecerá se alguma de vocês quiser abandonar a sòciedade? ¿Levará quanto? ¿Fará como?

Tem mais: ¿o que acontecerá se (deus-o-livre) uma de vocês bater-as-botas ou o salto-halto? ¿Como ficará a questão dos dependentes, segurados, sucessores e herdeiros? Se vocês quiserem um dia abrir o capital da startup, ¿como ficarão as coisas? E quanto aos royalties das patentes: ¿como será dividido? Se um dia houver um ranca-rabo entre vocês, como puxada de cabelo, arranhões, tapas na cara e luta no gel, ¿quem será o mediador aoturizado — ou todo-mundo irá reclamar na delegacia, como um bando de travecos da Augusta?

Taís, eu sei que, dizendo essas coisas, eu pareço um urubu zombeteiro sobrevoando a empresa de vocês. Mas é melhor ser uma ave feia que sinaliza onde a carniça está fedendo, do que ser uma hiena sorridente com os destroços dos sonhos alheios, quando a merda acontecer. Portanto, renovo meu conselho: procure um advogado; e também um contador! Eis as duas consultorias imprescindíveis para qualquer empresa. É uma pena, porém, que tão poucos advogados compreendam as necessidades e falem a língua das startups...

Tome tenência, madame!

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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