CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 38
- Fernando Rogério Jardim
- 17 de set. de 2016
- 2 min de leitura
São Paulo, 17 de Setembro de 2016.
Cara Luísa,
Eu compreendo perfeitamente o que você está sentindo. Esse isolamento de que você fala na mensagem eu também experimentei, com alguns agravantes sórdidos. Adiante. Passa longe dos plenos da maioria dos universitários brasileiros empreender. Primeiro, porque quem ingressa numa universidade, está mesmo pensando é num emprego estável — seja no serviço público (credo-em-cruz), seja numa firma-de-marca que todos sabem o nome e dizem oh! Numa palavra: o universitário brasileiro busca, com seu diploma, sossego e status, em áreas saturadas ou em processo de extinção.
Segundo, porque os poucos empreendedores universitários que revelam sua intenção de empreender para os colegas, são soterrados por aquele marxismo rastaqüera ou aquele estatismo tarado que sataniza o lucro, mas santifica o parasitismo espertalhão (porque o únuco dinheiro que cobiça é o alheio). O estudante, portanto, vê-se engolfado num caldo-de-cultura hostil à criação de valor, aos riscos e à iniciativa indivìdual. Novamente: as universidades não formam os geradores dos empregos de amanhã, mas os càndidatos a empregos que não existem. Então, ¿quem é a otária agora?
Esse seu isolamento é triste, Luísa, porque o empreendedorismo é, em grande parte, inovação aberta, economia compartilhada, polinização cruzada, aprendizado por interação e estímulo externo. O empreendedor que não contar com uma "maçonaria particular" para trocar idéias ou para auxílio mútuo, precisará duma teimosia extra para perseverar nesse caminho — o que não é fácil, mas tem jeito. Hoje, há uma infinidade de comunidades e eventos virtuais que reúnem coaches, mentores, empreendedores, especialistas, investidores e interessados. Tudo aberto e de-graça!

Não há razão para você choramingar seu isolamento no meio dos coleguinhas mortadelas que sonham em mudar o mundo ou destruir a sociedade enquanto tentam. Olhe para mim: eu fiz bacharelado e licenciatura em ciências sociais; mestrado e doutorado em sociologia. Sociologia, Luísa! Todos os meus colegas — todos! — pensavam em fazer uma dessas três coisas com o diploma: 1) virar professor da própria faculdade onde se formaram, num processo bizarro de autofagia acadêmica; 2) tornar-se um barnabé lesado do Estado-Babá, fazendo qualquer coisa que pagasse mais de sete mil reais por mês; ou 3) delinqüir em algum partideco-quadrilha da extrema-esquerda.
Eu sobrevivi a essa palhaçada. Hoje, eu poderia estar por aí roubando (a Petrobrás), matando (o Celso Daniel), depredando, invadindo, censurando, apoiando ditaduras... mas estou aqui, diante dum teclado, dando conselhos triviais para uma moleca com os mesmos problemas que eu tive. ¿E como é que eu me salvei? ¿Como eu consegui escapar quase ileso da camiseta do Che, do chinelo de couro, da mochila ambiental, do colar de sementes, do brinco de galinha colorida? Simples: eu travei contato, fui influènciado e influènciei gente séria, responsável, talentosa e empreendedora.
Eu criei minha "maçonaria particular", com gente de outras áreas, que tinha em comum comigo uma visão-de-mundo compatível com quem paga as próprias contas; que sabe que a natureza humana é falha e limitadamente perfectível; que não quer mudar o mundo, mas apenas viver nele o melhor possível, sem ser um fardo para as demais pessoas; que não brinca nem negòcia com a liberdade; que não baba ou goza ouvindo encantadores-de-serpentes eleitorais, com seu populismo macunaímico... Então, Luísa, eu procurei andar com a boa companhia de gente adulta. Relacione-se!
Até-mais-ver!
Fernando.
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