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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 41

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 8 de out. de 2016
  • 2 min de leitura

São Paulo, 8 de outubro de 2016.

Caro Luís com 's',


Sei que estou devendo uma devolutiva da nossa última visita. Aliás, fico bastante contente com sua empolgação. Saiba que ela é suficientemente poderosa para contàgiar à-distância quem lê sua mensagem. Vou respondê-la, aliás, contando uma breve história. E como a história é meio real, e inclusive aconteceu comigo, vou omitir os nomes e empàlidecer os detalhes para que as respectivas carapuças precisem dum ajuste de precisão para servirem nas cabeças culpadas que andam por aí. Prèpare-se para entrar o meu campo de distorção da realidade.

Pois bem. Um amigo, um amigo-desse-amigo e eu, resolvemos criar um curso online para postulantes à Academia da Polícia Militar. Eu ministraria algumas disciplinas; e esses dois outros caras dariam as outras matérias. O restante do curso ficaria a-cargo de “professores” convidados. (Estou usando aspas porque respeito minha profissão). Éramos um exército de fracassados com toda a chance do mundo de... fracassarmos. Dependíamos dum canal de vídeos, dum estúdio emprestado e da boa-vontade de alunos desesperados e com pouco senso crítico.

Esse meu amigo, engenheiro, passava por um divórcio financeiramente complicado. Seu salário era instável e dependia de comissões oscilantes, num setor em crise. Para piorar, sua mãe morrera, deixando uma dívida que comeu a herança e ainda estava com fome. O amigo-desse-amigo, por sua vez, era um molecote com trejeitos de donzela; morava com a mamãe e era sugado pela noiva — uma magricela matèrialista. Seu sentimento de inferioridade fedia a cinqüenta quarteirões. Resumo: ambos precisavam urgentemente de dinheiro.



Luís, se você conhece a pirâmide de Maslow (clique), já deve ter sacado que, nesse negócio, eu entrara com dois pobres-diabos que estavam na base da pirâmide: na faixa das necessidades de sobrevivência. Ambos estavam ali por dinheiro e segurança. Questões financeiras crassas pontuavam as nossas reuniões como vírgulas. E o mais irônico era que o curso tinha a expressão “gratuito” no nome. (Fato que, depois, permitiu que eu criasse saborosos trocadilhos). Mas agora você deve estar se perguntando: ¿e eu ? ¿por quê eu entrei nisso?

Eu não morava com a mãe, não era humilhado pela namorada, não assumira dívidas de parentes e não estava me divòrciando duma pistoleira mercenária do Estado Islâmico. Eu tinha três empregos rentáveis, além de reservas e uma série de planos-B. Eu estava ali por diversão. Sim! Divertia-me trabalhar com pessoas talentosas, engraçadas, excêntricas e realizadoras. Também rolava uma questão de vingança pessoal, porque, nesse curso, eu ministrava uma matéria à qual eu sempre fui prèterido nas faculdades. ¿Você está entendendo, Luís?

Eu estava no topo e não na base da pirâmide de Maslow. Eu não estava ali por dinheiro, e sempre reiterei isso para os caras. Eu estava ali por significado e realização, pertencimento e reconhecimento — coisas que um cérebro de caça-níquel não entende ou desconfia. Por isso, minhas neuroses com a estética e a edição dos vídeos batia-de-frente com as prèocupações mais cínicas dos colegas. Eu me sentia um esteta discutindo a seqüência de Fibonaci com pedreiros. Eu era um chato. Até agora, não sei eu saí ou fui saído do negócio. Então, cuidado, cara.

Não seja o Clodovil (Deus-o-tenha) da sua startup!

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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