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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 44

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 29 de out. de 2016
  • 3 min de leitura

São Paulo, 29 de Outubro de 2016.

Prezada Camila,

Ah, os relacionamentos... Esse tema da gestão de pessoas é especialmente sensível nas startups, porque, como são poucas as pessoas envolvidas na empresa, toda treta, perturbação ou ressentimento fica concentrado numa massa-crítica de alguns poucos metros. As empresas grandes conseguem diluir seus problemas com funcionários: elas são como um corpo grande que consegue sobreviver perfeitamente mesmo com alguns “agentes patógenos” atacando-o. Mas as startups não. Com apenas três pessoas no negócio, se uma é vagabunda e a outra é psicopata, então, 66% da empresa está doente.

O agravante é que gente talentosa, geralmente, é um pouquinho excêntrica. Excèntricidade e gènialidade são grandezas diretamente relacionadas. Pelo que eu entendi da sua mensagem, este é o problema que você e a Cris estão tendo com a Isabela. Sabe... eu tenho um radar para gente doida; e outro radar para gênios. Os dois costumam apitar juntos; e cá entre nós: eles apitaram para a dona Isabela. Aquilo é pau de dar em doido! Não existe uma resposta pronta (se é o que você estava esperando com sua mensagem) para lidar com a situação. Mas eu acho que posso lhe dar alguns conselhos.

Primeiro. Pergunte-se até que ponto o trabalho da Isabela é necessário ao escritório e compensa o dissabor de aturar seus rompantes & desvàrios. Está claro para mim que ela não pode lidar com clientes. O telefone mais próximo deve estar afastado da Isabela em alguns anos-luz. E-mails e redes sociais também são armas na mão de gente doida. (Talvez vocês possam botá-la para latir e espinafrar fornecedores). Segundo. Pergunte-se em quanto tempo e a quê custo (emocional e financeiro) você e a Cris poderiam encontrar alguém para substituir a Isabela, mas sem o “combo” da loucura.



Terceiro. Considere a possibilidade de que um pouco de loucura e conflito é algo que energiza, que sacode, que empurra uma startup para cima — para a jugular da concorrência e para o coração dos consumidores. Eu creio nisso. Gente doida é carismática; e carisma significa liderança. Vocês ainda não têm funcionários, mas um dia tê-los-ão. ¿E você consegue imaginar a Isabela liderando uma equipe de empregados trêmulos & cagões, aterrorizados por sua esquisitice, mas magnetizados por sua criatividade? Eu, sim. Talvez, as manias dela seja um preço a se pagar por esse plus.

Quarto e último. Façam uma reunião — vocês-todas. Sejam brutalmente francas. Coloquem no papel as qualidades e limitações de cada-uma. (Diga isso uma para a outra!) Cada-uma de vocês tem defeitos que, dependendo das circunstâncias, pròvocariam catástrofes. Porém, quando canalizados para outras atividades, esses mesmos defeitos poderiam se tornar funcionais. Por exemplo: eu sou extremamente detalhista e tenho várias neuras com estética & simetria. Num setor de criação, isto seria uma qualidade aproveitável; mas num setor de produção, isto enlouqueceria meus coleguinhas.

Principalmente em mercados dinâmicos, eu prefiro estar com gente que precise segurar do que com gente que eu precise empurrar. Eu já trabalhei com pessoas que pensavam ter a rebeldia de Che e a retórica de Marx; mas que, na verdade, só tinham da asma de Che e as hemorróidas purulentas de Marx. Na hora-H, os sujeitinhos não performavam; e tentavam roubar os créditos do trabalho alheio para posarem de estrelas. O que eu estou dizendo, Camila, é que existem os excêntricos que geram valor, e existem os excêntricos que só fazem volume. ¿Em qual categoria se enquadra a Isabela?

Pense nisso.

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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