CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 47
- Fernando Rogério Jardim
- 19 de nov. de 2016
- 2 min de leitura
Campinas, 19 de Novembro de 2016.
Ricardo,
Papo reto: os únicos dois “consultores externos” que uma startup realmente precisa no começo — porque lidam com questões espinhosas: dinheiro e contratos, onde erros saem caro — é um contador e um advogado. Contàbilidade e advocacia são duas áreas que você não vai conseguir improvisar, aprender sòzinho ou pedir para um parça “correria” resolver. Agora: gastos com “consultores de marketing”, para uma empresa que ainda está começando, francamente! Isso é veadagem. Vou até escandir as sílabas: vê-a-da-gem!
Não distorça minhas palavras. Eu não estou dizendo que marketing não seja importante. Isso seria uma loucura completa. Seu negócio, aliás, é totalmente dependente do marketing. O que eu estou dizendo é que você não precisa dum babaca com blusa de malha amarrada ao pescoço, dizendo-lhe bobagens com jargão em Inglês, enquanto lhe aponta o dedo em riste e lhe caga regras. Em poucas palavras: você não tem grana para pagar um pùblicitário. E mesmo que tivesse, vou listar alguns motivos para você gastar esse dinheiro com jujubas.
Startups geralmente trabalham em mercados de nicho, em caudas e em franjas de mercados menores. Ninguém garante que seu “consultor de marketing” conhecerá esse segmento específico em que você atua; e conseguirá se comunicar bem com ele. O cara pode ter uma puta experiência comprovada no setor de cosméticos, ou em hotelaria, ou em festas e eventos... Mas Ricardo, chega-aqui: seu negócio é semijóias, ¿você se lembra? Você pode ter a sorte de achar um cara experiente nisso, mas ele com-certeza custará mais caro.

Eu posso estar sendo prèconceituoso. Dane-se! O fato é que pùblicitários são criaturas enjoadas e vaidosas até a demência. Eu creio no modelo-de-negócio de vocês e acho que ele tem um tremendo potèncial de expansão. Mas eu também sei das condições físicas precárias em que vocês trabalham. A maioria do pessoal de marketing que eu conheço teria urticária com a poeira do esmeril e sofreria um aneurisma ouvindo a barulheira de oficina de vocês. E você é meio xucro, Ricardo. Eu duvido que você agüentaria esse povo.
Agora vem o problema mais importante. Os pùblicitários têm as suas próprias métricas de sucesso — que geralmente são prêmios, os troféus e os eventos da categoria, onde eles fazem elogios recíprocos e masturbam o ego um do outro. (Acrèdite: é um troço de dar ânsia-de-vômito em médico legista!) O sujeito pode fazer uma campanha estupenda para a sua empresa; e sair posando de gênio depois de ganhar alguns troféus... Mas nada-disso se converterá em vendas para você... e ninguém se lembrará do seu produto.
Por fim, a maioria desse pessoal de pùblicidade foi formada pensando em comèrciais de TV aberta, em grandes revistas e jornais de circulação nacional. A maioria está boiando para as novas ferramentas e estratégias, como o marketing-de-conteúdo e o marketing-de-guerrilha. Você não precisa de “métricas da vaidade”, Ricardo. O que você precisa é de sobrevida financeira, quer dizer, vendas! E o melhor prêmio que sua startup poderá receber é um contrato graúdo e um fluxo-de-caixa confortável. O resto, você aprende na marra.
Fica a dica.
Fernando.
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