CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 48
- Fernando Rogério Jardim
- 26 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Campinas, 26 de novembro de 2016.
Caro Pedro,
Assim você me põe numa situação embaçada que-só-a-porra. Responder a sua pergunta exigirá que eu teça críticas pouco gentis à categoria dos professores. E você sabe como eu detesto ser crítico — sobretudo à minha profissão. (Pausa para aquele sorriso maroto do Satanás). Bàsicamente, você me pergunta por que seus queridos professores não lhe ensinaram hàbilidades das quais hoje, você, como empreendedor, sente falta. Então... ¿pronto para tomar a pílula vermelha? ¿Pronto para ver até onde vai dar o buraco da ratazana? Chame a Heloísa para ler esse e-mail com você. Eu imagino as expressões dela.
Bom... O primeiro motivo você já adiantou na sua pergunta. Tem muita gente dando aula em cursos técnicos (refiro-me àqueles com viés pró-mercado), mas com uma formação excessivamente acadêmica. E sabe... Eu diria até que o problema não está nem na formação do professor, mas na sua “bitola mental” — numa visão-de-mundo muito teórica, quadrada, limitada. Eu sou sociólogo, por exemplo. ¿Você consegue imaginar uma bitola mental pior que a minha? Acontece que eu sempre busquei contrapor minha inclinação teorizante, dirigindo minha curiosidade para as áreas mais técnicas, distantes da minha origem.
Eu não estou condenando a teorização. Teoria é uma coisa ótima. Você só consegue abarcar a vàriedade dos fenômenos e ter uma perspectiva abrangente da realidade elevando-a a níveis superiores de abstração — que é justamente onde moram as teorias. A teoria, além disso, permite que você perceba e controle as leis na natureza. ¿Acha isso pouco? O problema com a teoria é que... a prática é outra. E se seus professores não lhe ensinaram a habilidade de fazer a tradução da teoria para a prática e vice-versa, você entrará no mercado sentindo-se enganado por sua faculdade, como se ela não lhe tivesse ensinado nada.

A segunda limitação que eu vejo numa categoria (minoritária) de professores é que muitos deles se formaram numa época em que o fordismo, juntamente com os dinossauros, dominava a Terra. Repare: a maioria das técnicas de gestão que você aprendeu com eles na faculdade foi desenvolvida por gente velha que trabalhava em grandes empresas, de mercados estáticos. ¿Verdade ou mentira? Agora experimente pegar qualquer uma dessas técnicas e aplicar numa startup. O fracasso será garantido como a morte e rápido como as férias. Eu aposto uma jujuba, Pedro, que estou lhe dizendo coisas muitíssimo famìliares.
Por fim, uma última categoria de professores, minoritários como tumores malignos, guarda um ódio mudo à mèritocracia, à liberdade econômica e à atividade empresária. Grosso modo, são agitadores políticos frustrados, que adorariam transformar seus alunos em cópias jovens de si-mesmos. E não pense você que esse tipo de doutrinador é uma exclusividade das ciências humanas. Minha tese é que, pelo-menos uma vez por ano, um zé-droguinha das ciências sociais acaba se pendendo numa faculdade de engenharia e se formando sem perceber. Basta, depois, que ele encontre outro idiota para contratá-lo como professor.
Este é o quadro, Pedro. Não se trata dum problema desta ou daquela instituição em-particular. Este é um problema do sistema — engessado por uma série de pressões e interesses de cima e de baixo. E eu posso lhe dar uma lista de coisas que eu adoraria ter aprendido na faculdade quando tinha a sua idade, mas que só fui descobrir que existiam depois de formado: negòciação, oratória e retórica, lìnguagem corporal, psicologia do consumidor, modelos-de-negócio, precificação, monetização, arranjos sòcietários, protòtipagem, gestão do tempo, técnicas de pesquisa, finanças pessoais, vendas, etc.
Faça a sua lista e corra-atrás!
Fernando.
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