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CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 51

  • Foto do escritor: Fernando Rogério Jardim
    Fernando Rogério Jardim
  • 17 de dez. de 2016
  • 3 min de leitura

São Paulo, 17 de Dezembro de 2016.

Prezado Gilberto,


Eu poderia simplificar bastante o meu trabalho com essa mensagem de resposta mandando-o catar coquinho. ¿Você já ouviu o ditado segundo qual de cavalo dado não se olham os dentes? Pois bem. O mesmo vale para consultores gratuitos, dos quais não se deve bisbilhotar as qualificações. Você chegou ao meu nome por ìndicação da Flávia, que foi minha ex-colega de faculdade. Eu aceitei ajudá-lo sem cobrar nada — até-porque, eu não sei quanto tempo de trabalho seu problema com a monetização do aplicativo vai me tomar. Daí você me manda uma mensagem toda besta, com o dedinho virtual em riste, questionando minhas qualificações.

Seu veadinho! Eu poderia lhe mandar um lista imensa de empresas admiradas & lucrativas cujos fundadores tiveram uma formação totalmente diferente da do mercado em que suas firmas atuam. ¿Você acha que o senhor Bezos, da Amazon, formou-se em e-commerce na faculdade, Gilberto? ¿Você acha que o senhor Walton, do Walmart, é doutor em logística, meu caro Gilbertinho Veadinho? E eu nem vou lhe falar dos empreendedores bem-sucedidos que eram iletrados de pai & mãe. Se você acha que eu, por ser sociólogo, não tenho condições de ajudar seu império-de-um-homem-só a resolver um problema de monetização, sinto muito, majestade.

Primeiramente, eu sou um sociólogo da pá-virada. Se você tiver curiosidade de ler até o fim o manifesto que eu escrevi para o blog Start-Aspas (clique), descobrirá que eu valorizo tudo o que os meus coleguinhas maconheiros & soviéticos abominam. Eu sou reaça. Minha namorada diz que eu estou à direita de Gengis Khan. É exagero, òbviamente. Eu tenho um profundo respeito pela iniciativa empresária e pelo comportamento empreendedor. Embora eu não chegue ao delírio pròmocional de considerá-lo uma religião ou panacéia, eu crèdito ao empreendedorismo o fato de estarmos lentamente superando a miséria absoluta... além do fato de termos suplantado os neandertais.



Eu não o culpo, Gilberto, por você ter uma visão deturpada dos sociólogos. A minha categoria profissional, convenhamos, não ajuda muito. Sociólogo é aquele cara que discute como socializar o dinheiro (alheio) do alto do seu triplex em Moema: é um hipócrita ressentido. Sociólogo é aquele cara que aparece na televisão dizendo trivialidades com palavras difíceis: é um fariseu da cultura. Sociólogo é o cara que transforma verbo em substantivo e emprega expressões descoladas: é um idiota-útil das pautas da extrema-esquerda. Quando você fala em sociólogo, quatro coisas certamente lhe vêm à cabeça: maconha, chinelo, greve e Cuba. ¿Estou certo?

Mas a sociologia, Gilberto, fala das pessoas. E os negócios também são erguidos sobre pessoas. Se você acha que seus clientes são agregados numéricos, que eles não buscam em sua empresa experiências e soluções, eu tenho pena dos seus clientes, Gilberto — e adoraria ser seu concorrente. Se você acha que seus funcionários são números numa planilha... ora, ¿o que eu posso lhe dizer senão “graças-a-Deus que o meu pão não vem do seu bolso”? Eu vejo todos os dias empresários com excelentes produtos, com negócios pròmissores, mas perdendo fortunas por não compreenderem regrinhas fundamentais do comportamento humano. E isso-tudo é sociologia, majestade.

E, majestade, para o seu governo, eu tenho uma formação técnica anterior à graduação em Ciências Sociais, e anterior ao mestrado & doutorado em sociologia. E isto, até certo ponto, permite-me a conversar com engenheiros sem passar muita vergonha. ¿E quer saber mais? Muitas inovações disruptivas surgiram de polinização cruzada entre zonas de fronteira disciplinar — dum lado, as humanas; do outro lado, as exatas. E os agentes responsáveis por essas inovações, geralmente, foram indivíduos estranhos, com formação ambígua, aptos a trabalharem como agentes-duplos e contrabandistas de conhecimento. O difícil, para eles, sempre foi convencer gente lerda como você disto.


Desejo-lhe uma falência acrobática & pirotécnica.

Fernando.

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© 2016 por Fernando Rogério Jardim © Wix

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