CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 54
- Fernando Rogério Jardim
- 8 de jan. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 8 de Janeiro de 2017
Antônio,
O fato d’o seu sobrenome ser Pinto não lhe dá o direito de ficar enchendo o meu saco. Aliás, sexualmente falando, deveria ser até o contrário. Eu achei que já tinha resolvido esse assunto na última reunião. Sabe, enquanto a gente fica trocando mensagens inúteis sobre a hipótese de alguém “roubar a suas idéias”, o mundo continua funcionando lá fora, e você corre o risco de perder algo mais importante que suas lindas idéias: a dianteira!
Agradeça aos céus por ter conseguido encontrar um investidor-anjo. Você não sabe o quanto essas criaturas são raras no Brasil. Ficar agora com essa frescura de que o cara pode “roubar as suas idéias” só mostra o seu grau de covardia & babaquice. Na mensagem abaixo — que eu espero que seja a última que trocamos sobre esse assunto — eu vou provar para você por que suas prèocupações sobre roubo de idéias são infundadas.
Primeiramente, vamos esclarecer o seguinte: investidores não investem em idéias; eles investem em equipes de pessoas capazes de criar um modelo-de-negócio lucrativo ao redor daquela idéia, retornando o investimento com lucro. Investidores não “roubam” idéias porque as idéias em si valem um centavo a baciada — já lhe disse isso mil vezes. Além disso, esses caras não teriam tempo de executar todas as idéias que “roubassem”.

Em segundo lugar, ¿como você quer que o sujeito invista em seu projeto se você não quer revelá-lo para ele? Imagine que cena ridícula: você entra na sala do cara e diz o seguinte: “Fulano, gostaria que o senhor investisse duzentos-e-cinqüenta mil numa idéia que eu acho que vale um milhão. O senhor vai ficar com vinte-e-cinco por cento do negócio. Mas só que tem um problema: você não vai saber que idéia é essa até assinar o cheque.”
Antônio, eu o expulsaria da minha sala com um tiro na bunda. ¿Ouviu bem? Na bunda! Tem outra: se você só tem uma idéia, mas não tem um protótipo funcional, uma equipe com expertise para executá-lo, clientes que comprovem suas hipóteses, recursos e possíveis parceiros, você não tem nada. Nada! E nem me fale de patentes, porque além de ser um instrumento complicado e demorado, as patentes não se aplicam a meras idéias.
Por fim, você vai ter de se acostumar, Antônio, com o fato de que, no mundo das startups, muita coisa é feita na base da palavra e da confiança, porque você vai precisar se manter informal e enxuto para poder agir rápido; e não vai querer engessar sua empresa logo-de-cara com burocracia, protocolos, etc. Eu sei: confiança significa risco. Mas se você não quiser correr riscos, olha: ouvi-falar que a Receita Federal abiu outro concurso.
Boa sorte!
Fernando.
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