CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 56
- Fernando Rogério Jardim
- 22 de jan. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 22 de Janeiro de 2017.
Olá, Renata!
Definitivamente, a vida é uma puta esperando táxi numa noite chuvosa. Você sabe que eu atendo startups, né? Minha consultoria (se é que posso chamá-la assim) é uma versão moderna de terreiro de umbanda. Às vezes, algumas entidades mal-intencionadas se manifestam ali. Eu não chego a perder dinheiro com isso. Perco é tempo e saco. Mas como o meu tempo é um recurso cada dia mais escasso; e como eu pagaria para me livrar de desgostos & desaforos, então... tá certo: eu posso dizer que também perco dinheiro com isso.
Antes-de-mais-nada, eu já lhe adianto que esta é uma mensagem-desabafo. ¿Você se lembra daquela molecada que eu estava atendendo – que desenvolveu mais um dos inúmeros aplicativos de marketplace? Pois bem. Eu os estava atendendo de-graça. Fizemos umas três ou quatro reuniões – não me lembro direito (a raiva apagou minha memória recente). A gratuidade da consultoria se deve a minha difìculdade de precificar o serviço. Eu sempre me considero um charlatão, um impostor vendendo conselhos. Burrice minha.
Ajudei-os a estruturar a monetização, a estratégia de lançamento, a abordagem de marketing, a usabilidade do aplicativo, etc. Até lhes fiz algumas versões de logotipo. Dei-lhes o contato do Marcus e do Douglas, para ajudá-los a pensarem na estrutura jurídica, na formalização do empreendimento, nos contratos com sócios, clientes, etc. Consultoria completa. E tem mais: consegui para eles um pitch com um grupo de investidores, para os quais eu os entregaria redondinhos, prontos para a primeira rodada de investimentos.

É aí que o diabo entra. Vai vendo. O dia da reunião era uma sexta-feira. Visualize aquele trânsito lindo do fim de tarde. Para piorar, havia chovido. Eu saíra do trabalho para apresentá-los aos investidores, que estavam no Morumbi. Estranhamente, todos os três sócios resolveram que participar da reunião – juntos, como turistas japoneses. Eu achei aquilo perigoso e sintomático – sintomático porque demonstrava falta de confiança entre eles; e perigoso porque, se um se atrasasse, a reunião inteira seria atrasada. E adivinha!
Para encurtar a história, após quarenta minutos de atraso – sim: quarenta fucking minutos! –, constrangido e verde de raiva, eu resolvi largar com os investidores o único membro da startup que havia chegado. Eu nem quis saber depois como terminou a palhaçada. Rompi o contato. O foda é que o sucesso dessa turma poderia abrir-portas para meus alunos e para mim junto a esses investidores. Puta falta de profissionalismo! Moral da história, Renata: ¿você quer ajudar alguém? Então prèpare-se para se foder bonito. Mas há uma saída.
Cobre! Cobre sempre! Cobre tudo! Cobre o bom-dia! Cobre por contagem de palavras! Cobre o simples ato de cobrar! Não dê nada de-graça. As pessoas só vêem valor naquilo que lhes custa uma libra da própria banha. E sobretudo em consultoria – onde parte do sucesso depende da confiança e da disciplina do atendido –, o ato de cobrar compromete-o com os resultados. O fato de pagar caro faz com que ele valorize e respeite o que você está oferecendo. Portanto, aqui vai uma lição para consultores iniciantes: enfie a faça e torça.
Obrigado pelo aluguel dos seus ouvidos. Mande a conta!
Fernando.
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